– Pare com isso, Otávio. Você enlouqueceu?
– Acho que sim. O que não me impede de constatar o óbvio.
– Qual é o óbvio?
– Que eu sou um fracasso ambulante. Fracassei como marido, pai, filho, irmão. Fracassei profissionalmente, meu amigo. Quer mais?
– Quem lhe disse isso?
– Ninguém precisa verbalizar. Certas coisas são tão evidentes…
– Otávio: essa melancolia vai acabar com você. Você precisa de tratamento. Depressão é coisa séria. Também acho que você anda bebendo demais. Isso atrapalha um bocado.
– Minha mulher não fala outra coisa. Não há um mísero dia em que a gente não discuta. É um inferno. Ela me aporrinha por conta dos tragos que dou. Acabo perdendo a paciência, fico agressivo, falo besteiras bebo ainda mais. Depois, me arrependo. Mas aí é tarde. As duas filhas estão sempre do lado dela. Dizem que não sabem como a mãe me suporta. Tem mais.
– Tem mais o quê?
– Minha mulher quer o divórcio. Diz que não suporta mais viver comigo.
– E você acha que ela está errada, Otávio?
– Depois de tudo que passei nos últimos tempos… Doenças na família, perda de clientes… Só tomando umas.
– Se cachaça resolvesse…