– Ananias, duas coisinhas, apenas para colocar os pingos em seus devidos lugares: (1) não tenho a presunção de estar sempre certo. Ter razão não me interessa mais, há tempos; (2) não estendo prosa com a maioria das pessoas não porque me sinta superior a elas, nada a ver. É uma questão de afinidade. Compreende?
– Sei disso, Velho Marinheiro, sei disso. Não precisa se explicar.
– Não estou me explicando. Estamos conversando.
– É que algumas pessoas acham que o senhor…
– Que pensem o que quiserem. Não lhes dou a mínima. Por isso, jamais tome minhas dores. Sei me defender, mas nem perco tempo com isso.
– Está certo.
– Mudo de opinião quantas vezes forem necessárias, desde que me convençam com argumentos lógicos, não com burrices generalizadas. Nessa espelunca do Carneiro, que só frequento por falta de opções, o melhor informado não foi além do “Caminho Suave”. Mesmo assim, não conseguiu absorver todos os ensinamentos.
– Verdade. Deixa pra lá. Não quero chatear o senhor.
– Ananias, você não me chateia. A não ser quando se comporta feito guri precisando de afago. Só para concluir: não dou muita conversa para essa turma por uma simples e definitiva razão: o que eles têm a me dizer não me interessa, e o que tenho a lhes contar não interessa a eles. É simples assim. Então, cada um no seu cercado. Agora, prove um bolinho de arroz. Está bom. É uma das poucas coisas que presta nesse boteco