Quarentenado, fiz uma arrumação nas minhas estantes, para dar uma nova visibilidade nos meus livros preferidos, e eis que me deparo com um livro que me foi oferecido em 2013 por um talento pernambucano que admiro desde os tempos de Universidade Católica de Pernambuco, ele cursando brilhantemente o Curso de Direito, herdando a experiência do pai, eu fazendo Economia, admirando entusiasmado as exposições analíticas do professor Germano de Vasconcelos Coelho, nosso paraninfo da turma e futuro prefeito consagrado de Olinda, transformada em sua gestão em Patrimônio Cultura da Humanidade.
O livro que me foi presenteado, à minha então mulher e a mim, tinha tinha um título sedutor: Fernando Pessoa – o livro das citações, era editado pela Record, e seu autor chamava-se José Paulo Cavalcanti Filho, hoje também colaborador semanal do Jornal do Commercio e do Jornal da Besta Fubana, este coordenado pelo escritor Luiz Berto, autor do extraordinário O Romance da Besta Fubana, já na quarta edição, sempre lido, relido, rabiscado, comentado e gargalhado.
Confesso que a releitura do livro do Zepaulinho, como muitos o chamam, me trouxe recordações muitas, saudades infindas e múltiplos balizamentos novos para os tempos contemporâneos de COVID-19, quando o mundo se prepara uma fecunda reestruturação planetária, minimizando as diferenças de rendas entre povos e nações, erradicando preconceitos e discriminações, favorecendo uma Educação Fundamental Libertadora pública e gratuita para todas as crianças e adolescentes.
Com a devida permissão de todos os fubânicos, reproduzo abaixo algumas citações que muito poderiam consolidar caminhadas cidadãs e militâncias mais solidárias em prol de uma economia essencialmente mais humanizante e nada esquizofrênica. Citações de quem, em seu tempo, se encontrava anos-luz de sua comunidade, a lusitana, profundamente conservadora e provinciana à época. Ei-las, encarecendo alguns bons instantes de reflexão e construção de propósitos, tudo balizado numa reflexão imaginada pelo poeta luso, emitida por um seu homônimo, Bernardo Soares, no Livro do Desassossego, que recomendo como uma complementação d’alma, após bem assimiladas as citações pesquisadas pelo Zepaulinho: ”Penso às vezes, com um deleite triste, que se um dos dia, num futuro a que eu já não pertença, estas frases que escrevo, durarem com louvor, eu terei enfim a gente que me compreenda, os meus, a família verdadeira para nela nascer e ser amado.”
As frases abaixo foram acolhidas por quem, pernambucanamente, sem medo e sem ódio, nariz arrebitado por merecimentos e aplausos, também mente acasalando porrilhões de neurônios, fez “a mais completa e detalhada reconstituição que jamais se fez da vida do artista”:
“Quanto mais eu abro as asas mais sei que não sei voar.”
“Só as criatura que nunca escreveram uma carta de amor é que são ridículas.”
“Quem se esquiva a travar um bom combate não é derrotado nele. Mas moralmente é derrotado , porque não se bateu.”
“Eu tenho Deus em mim,”
“Não sejamos sínteses, sejamos somas: a síntese é Deus.”
“Ninguém ainda provou que a abolição da escravatura fosse um bem social.”
“Todo hoje tem um amanhã.”
“Fui educado pela Imaginação / Viajei pela mão dela sempre / Amei, odiei, pensei sempre por isso.”
“A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente.”
“Nada pequeno é justo e bom.”
“Sou o intervalo entre o que desejo ser e o que outros fizeram.”
“Nós somos nossos sonhos.”
Reflexões de um poeta arretado, citadas por um jurista pra lá de também muito arretado !!