Quadro de Guy Rose
– Assim, não é possível. Está ficando difícil, mãe. Difícil, não: impossível. A senhora tem que se ajudar um pouco, saco! Tem que se alimentar direito, beber água, tomar os remédios, fazer os exercícios que o médico mandou. Puta que pariu!
– Calma, filha, calma. Se eu levanto do sofá, vocês brigam comigo, me xingam de tudo que é nome…
– Claro, queria o quê? É levantar para cair. Já lhe disse: quer ir ao banheiro? Chame alguém.
– Se eu chamo, vocês reclamam, ficam bufando.
– Não dá para ficar o dia todo à sua disposição. A gente tem mais o que fazer, mãe.
– Por isso, bebo pouca água, para não incomodar toda hora.
– Tem é que usar fralda dia e noite.
– Fico assada.
– Assada, não: mimada.
– Filha, minha doença não tem jeito. Tenha paciência.
– Eu sei. A senhora não vai melhorar mesmo. Mas quer piorar ainda mais? Já não basta o trabalho que está dando? Francamente. Há dez anos, desde que a senhora veio para cá, ninguém tem vida nessa casa. Merda.