Confesso minha felicidade em ter um montão de amigos judeus pelos quatro cantos do Brasil, alguns do outro lado do Atlântico e uma meia dúzia nos Estados Unidos, sempre enviando notas e análises sobre as Trumpalhadas de um careca emperucado que almeja uma reeleição presidencial mesmo desprezando a etnia negra que se prepara para não decepcionar o ideário deixado pelo inesquecível Martin Luther King, aquele que pronunciou o muitas vezes por mim lido Eu Tive um Sonho.
E de todos eles, sem exceção, guardo uma característica, a de um humor inteligente, muitas vezes até voltado contra si mesmos.
De um deles, o Jacozinho, folião que nem eu do carnavalesco Bloco da Saudade quando tínhamos resistências musculares para os desfiles momescos. Ele sempre costumava repetir o que tinha lido num livro que me presenteou no ano retrasado: “Se alguém te diz ‘és um burro’, não dês importância. Mas se duas pessoas te disserem a mesma coisa, atrela-te a uma carroça”.
Profissionalmente altamente qualificado na área tecnológica, ele possuía uma programação de leituras de textos humanísticos nacionais e estrangeiros, possuindo um sólido nível cultural que o fazia indispensável em todas as reuniões sociais que participava.
Nós detestávamos hipócritas, fingidos, babaovistas, boçais, farofeiros e merdálicos, aqueles que se imaginam nunca se imaginam inseridos nos interiores penicais do mundo.
O livro que foi presenteado por ele – Do Éden ao Divã: Humor Judaico, Companhia Das Letras, organizado por Moacyr Scliar, Patrícia Finzi e Eliahu Toker – contém deliciosas historietas pejadas de humor inteligente.
Nas últimas eleições de Israel, conta-me Jacozinho, um chassid – um acendedor de lampiões que sabe que a chama não lhe pertence – foi conversar com seu rabino. E logo foi dizendo: Rabi, sonhei que liderava trezentos chassidim. Ouviu o rabino uma recomendação pra lá de arretada: – Volta quando trezentos chassidim sonharem que és o líder dele.
O que eu mais apreciava, quando desfilava no Galo da Madrugada com Jacozinho, era ouvir suas historietas, prá lá de cáusticas algumas, que ele desfiava sem parar não deixando quieto ou extenuado quem estivesse ao seu derredor. Lembro-me de algumas até hoje, que me deixam com uma saudade danada dos papos daquele amigo, hoje sediado na capital paulista. Enumero algumas delas, homenageando toda a gente hebraica, de quem sou irmão desde Salomão, Isaac e Jacob. Apenas como aperitivos:
1. Dois judeus estão sentados em silêncio num banco de praça há mais de duas horas. Finalmente, um deles dá um longo suspiro seguido de um oi saído do fundo do coração.
O outro logo responde: – Para mim, você vai ter que contar.
2. O Morris encontra-se com o Meyer de cara trombuda, logo lhe perguntando:
– Por que essa cara, Meyer?
– Eu vou te dizer a causa. Na semana retrasada, minha tia Rozete morreu e me deixou cinquenta mil dólares de herança. Na semana passada, meu tio Chaim morreu e me deixou setenta mil dólares de herança. Mas nesta semana ninguém morreu! Não é horrível?
3. Um turista americano desembarca no aeroporto Ben-Gurion e toma um táxi, encarecendo ao motorista:
– Leve-me para onde os judeus se desfazem em lágrimas.
Imediatamente o chofer atravessou toda Jerusalém, indo diretamente para o Ministério das Finanças…
Um país por mim muito amado, terra natal de um Irmão Libertador de todos nós.