Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

O Globo segunda, 17 de julho de 2023

JOÃO DONATO SE ENCANTOU: MÚSICO E COMPOSITOR MORRE AOS 88 ANOS

 

Por O GLOBO — Rio de Janeiro

 

O compositor, pianista e arranjador João Donato
O compositor, pianista e arranjador João Donato Ana Branco/Agência O Globo

Morreu, na madrugada desta segunda-feira (17), o pianista, compositor e arranjador João Donato, aos 88 anos. Parceiro musical dos principais expoentes da bossa nova — como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto —, o multi-instrumentista se notabilizou pela inventividade com que fundia, a um jeito único, diferentes gêneros musicais, como jazz, samba e ritmos caribenhos. A mistura irreverente dá o caldo (e o tom) de obras que se tornaram marcos da MPB, como "A rã", "Nasci para bailar", "Amazonas", "Simples carinho" e "Até quem sabe".

 — Eu não sou bossa nova, eu não sou samba, eu não sou jazz, eu não sou rumba, eu não sou forró. Na verdade eu sou isso tudo ao mesmo tempo — comentou o artista, numa entrevista ao GLOBO.

O músico morreu em decorrência de uma série de problemas de saúde. Na última semana, ele havia sido internado, num hospital no Rio de Janeiro, devido a uma infecção nos pulmões. A notícia foi confirmada pela família de Donato.

Do Acre para o mundo

 

Natural de Rio Branco, capital do Acre, João Donato deu os primeiros passos na música aos 5 anos, quando ganhou um acordeão de presente. Não demorou para que se comportasse como um veterano dos palcos. Aos 8, compôs a primeira música e, aos 12 — depois que a família se mudou para o Rio de Janeiro acompanhando o pai militar —, resolveu viver a primeira aventura musical: inscreveu-se no programa de Ary Barroso na Rádio Cruzeiro do Sul. Mas nada saiu como o esperado.

É que o compositor de "Aquarela do Brasil" não gostava de "meninos prodígio". Dizia que eram "crianças velhas", e ele não gostava daquilo. Donato havia chegou à atração de calouros com tudo em cima: paletó vincado, gravatinha, sapato de verniz e glostora no cabelo. Tinha um pouco mais de um metro e meio de altura, mas achava que já era gente grande. Não chegou nem mesmo a se apresentar.

O pianista, compositor e arranjador João Donato — Foto: Bruno Kaiuca / Agencia O Globo

O pianista, compositor e arranjador João Donato — Foto: Bruno Kaiuca / Agencia O Globo

— Foi uma decepção, mas aquilo não me desanimou. Logo depois consegui emprego no rádio, tocava sanfona no programa "Manhas da roça", do paraibano Zé do Norte, acompanhava grupos de baião e acabei descobrindo o jazz — conta Donato, que, aos 22 anos, gravou "Chá dançante", seu primeiro disco, produzido por ninguém menos que Tom Jobim.

 

Universo de música

 

O músico costumava dizer que o mundo era música. Tudo o que atravessava suas orelhas era, a rigor, acordes para os seus ouvidos. O zumbido de uma abelha era chuva, o barulho da chuva era música, a buzina de um caminhão era música, a onda no mar era música, o bate bola dos moleques era música, o latido do cachorro era música, a bananeira no vento também era música. Tudo era música para João Donato.

— Eu me lembro da primeira vez que percebi algo como uma música, era o canto de um pássaro, e é um som que, de um jeito ou de outro, está até hoje em tudo o que eu faço — afirmou Donato, numa entrevista que concedeu ao GLOBO há pouco menos de uma década.

O compositor transformou, aliás, o canto do tal pássaro que cita acima em "Lugar comum", uma de suas músicas de maior sucesso.

— Algumas músicas que ouvia naquela época numa vitrola de dar corda, como “Tristeza de amor”, de Fritz Kreisler, também estão até hoje na minha cabeça. Era como se eu sentisse uma saudade, uma nostalgia de algo que eu ainda nem conhecia. A coisa mais perto do céu que existe é a música.

A aproximação com os bossa-novistas se deu por meio dos fãs-clubes Frank Sinatra-Dick Farney e Lúcio Alves-Dick Haymes. João Donato circulava entre os dois grupos, sem ligar para a rivalidade. Queria fazer contatos. Tocou em boates famosas de Copacabana, como a Drink, a Plaza e a Monte Carlo. Em 1959, o violonista Nanai o convidou para uma turnê nos Estados Unidos, juntando-se ao grupo formado com o que restara do Bando da Lua, que acompanhava Carmen Miranda. Fez temporada de quatro semanas em Lake Tahoe, Nevada, apresentando-se em cassinos.

Em seguida, ficou sozinho em Los Angeles. Sem dinheiro, quase dormiu na rua após ser expulso da pensão onde morava. Nesse período, arranjou uns trocados apresentando-se numa boate com o sugestivo nome de Loosers. Quem lhe salvou da pindaíba foi o baterista cubano Armando Peraza. Ao lado do colega, se juntou a vários nomes conhecidos da música latina, como Johnny Martinez e Mongo Santamaria à frente. Começou a criar nome assim.

 

Entre Brasil e EUA

 

A volta ao Brasil aconteceu em 1962, mesmo ano em que Donato gravou o disco "Muito à vontade". A produção concentrava o cerne de sua identidade múltipla: samba, bossa nova, jazz, balanço latino. Tudo lá. Levou o vinil para a gravadora Pacific Jazz, e pronto: logo, logo o disco saiu no mercado americano (com o nome de "Sambou, sambou").

Daí pra frente, a música se tornou superlativa. João Donato rodou o mundo, tocou com nomes como Chet Baker, Sérgio Mendes, Rosinha de Valença e Tito Puente. O som cheio de gingado — algo que, por vezes, parecia não caber nas partituras — conquistou o planeta.

Quando retornou ao Brasil na década de 1970, o artista se tornou próximo de colegas da bossa nova e da Tropicália. Compôs com Gilberto Gil, Roberto Menescal, Marcos Valle. Produziu Gal Costa, Nana Caymmi. Dividiu estúdio e palco com Jorge Ben. Passou a ser idolatrado no Japão. Lançou discos fundamentais como "Quem é quem" e "Lugar comum". Foi vizinho de Tim Maia. Jogou nas 11.

'A finalidade do meu trabalho é alegrar os corações'

 

Há dois anos, também em entrevista ao GLOBO, o músico acriano afirmou que seguia na "busca por alegria", algo que ele classificava como a base de tudo o que executava.

— Uns amigos colombianos dizem que minha música produz serotonina, hormônio que traz sensação de bem-estar. Não sou rico e nem pretendo ficar rico com o que faço. A finalidade do meu trabalho é alegrar os corações, acalmar a raiva dos animais e fazer com que as pessoas pensem melhor — setenciou ele, que demonstrava surpresa com a redescoberta recente de sua obra pelas novas gerações. — Vejo que tem uma turma mais nova ouvindo o que faço. Minha música tem atravessado os tempos com facilidade porque ela exalta uma lógica natural das coisas. Não são canções fabricadas, sabe?

Sintonizado com as vozes da juventude — João Donato produziu obras, recentemente, em parceria com nomes como Céu, Anelis Assumpção, Tulipa Ruiz e Mariana Aydar —, o músico não escondia que tinha, sim, suas restrições. Nem tudo eram flores nos ouvidos do artista.

— Não gosto de funk e sertanejo. São estilos passageiros, e que tem a ver com certo visual vulgar em que todos ficam virados de costas rebolando... Claro que há alguns funks bonitinhos, mas a maioria é xarope e bagunça, algo fácil de fazer — criticou ele, em entrevista ao GLOBO. — O problema é que as pessoas são treinadas para gostar desse tipo de coisa. E acontece mesmo de a gente acabar assobiando certas canções à toa, de tanto que essa música horrorosa inunda os rádios e os ouvidos. O povo se acostumou a um tipo de música como se aquilo fosse certo. Mas música comercial é a prostituição da arte: faz-se só para ganhar dinheiro, como alguém que vende biscoitos Maria.

 

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