Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 20 de agosto de 2020

JOÃO RIBEIRO DA SILVA, PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

 

JOÃO RIBEIRO DA SILVA, PIONEIRO NA COLONIZAÇÃO DE BALSAS

Raimundo Floriano

 

João Ribeiro da Silva

 

                        João Ribeiro da Silva, o Tio João Ribeiro, filho de meu avô, Capitão Pedro José da Silva, e de sua mulher em primeiras núpcias, Dona Otília Raimundina Ribeiro Soares da Silva, nasceu em Jerumenha (PI), no dia 30 de março de 1879, e faleceu em Balsas, no dia 17 de dezembro de 1930, aos 51 anos de idade. Era irmão de meu pai, Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e de José de Sousa e Silva, o Tio Cazuza Ribeiro, dentre outros.

  

Rosa Ribeiro e Cazuza Ribeiro

 

                        Os dois filhos de meu avô com Dona Otília Raimundina deixaram seus nomes em todas as gerações seguintes do clã. Raimundo, o primeiro, foi nominado em homenagem à mãe; João, o último, nasceu num 30 de março, dia de São João Clímaco. Como naquele sertão as palavras proparoxítonas, esdrúxulas na antiga classificação gramatical, eram de difícil pronúncia, ficou apenas João. Vinte e quatro anos depois, em 1903, novamente no dia 30 de março, nasceu outro varão na família, este o último filho de meu avô em segundas núpcias com Dona Isaura Maria de Sousa e Silva, que, sem qualquer trava-língua, lhe deu o nome de João Clímaco.

  

João Clímaco, o Tio Joãozinho

 

                        Tio João Ribeiro passou sua infância na Fazenda Brejo e, ainda muito novo, mudou-se para Floriano, onde, juntamente com o irmão Raimundo Ribeiro da Silva, o Mundico Ribeiro, ingressou na atividade comercial, tornando-se, em pouco tempo, um rapaz bem situado financeiramente na vida.

 

                        A 25 de setembro de 1909, casou-se, naquela cidade, com Maria Pereira da Silva, depois Maria Ribeiro da Silva, a Tia Marica, nascida no Loreto (MA), a 25 de maio de 1893, filha do Coronel Antônio Pereira da Silva e de Dona Hermelinda Pires Ferreira.

  

Maria Ribeiro da Silva, a Tia Marica, em 1978

 

                        Tia Marica veio a falecer em Fortaleza no dia 23 de julho de 1986, aos 93 anos de idade. Eram seus irmãos: Luís Aurélio Pereira da Silva; João Batista Pereira da Silva, casado com Nemézia Santiago Pereira; Rita Pereira da Silva, a Madrinha Ritinha, casada com José de Sousa e Silva, o Tio Cazuza Ribeiro; Corina Pereira da Silva, casada com Luís da Costa e Silva; Albertina Pereira da Silva, casada com Joaquim Evelim, o Seu Quinô; e Maria de Lourdes Pereira da Silva, casada com o farmacêutico Luiz Gonzaga da Silva, o Doutor Gonzaga.

 

                        Tio João Ribeiro permaneceu residindo em Floriano até 1910. Após o nascimento do primeiro filho do casal, Antônio Ribeiro da Silva, o Ribeirinho, a 1º de julho daquele ano, mudou-se com a família definitivamente para Vila de Santo Antônio de Balsas, onde se tornou um dos mais prósperos negociantes.

 

                        Em sua esteira e sob sua proteção, para Balsas também vieram os irmãos Cazuza Ribeiro, em 1912, Rosa Ribeiro, meu pai, em 1916, e Evarista de Sousa e Silva, casada com Manoel Maranhense Costa, o Né Costa, estes moradores da Tresidela.

 

                        Sua residência era a mais bonita da cidade e se localizava na Praça da Matriz, ocupando três quartos do quarteirão entre as Ruas 11 de Julho e Isaac Martins. À esquerda, a Casa João Ribeiro, em sociedade com Tio Cazuza, uma das mais sortidas do sertão sul-marahense; à direita, a moradia, hoje um tanto modificada, mas que ainda nos pode dar uma ideia de seu passado:

  

Casa do Tio João Ribeiro: ainda guardando muito do que foi

 

                        Naqueles primórdios, não havia estabelecimentos bancários em nosso rincão – nem assaltantes ou ladrões de cofre –, fazendo com que os comerciantes passassem um bom período amealhando o produto de suas vendas em dinheiro para, com a bolsa fornida, embarcar numa balsa de talos de buriti carregada de gêneros agropecuários e seguir rumo aos centros comerciais adiantados, onde quitariam compromissos anteriormente assumidos e adquiririam novo estoque de produtos industrializados.

 

                        No final do ano de 1926, período das enchentes, Tio João Ribeiro descia com uma grande balsa, rumo a Teresina, carregada de couros de boi, coco babaçu, passageiros e, em sua bagagem, pequena maleta contendo 30 contos de réis, considerável fortuna para a época. Já no Rio Parnaíba, chegando ao perigoso Remanso do Surubim, num dos rebojos das águas, a embarcação foi arremessada contra pontiagudo rochedo, espatifando-se por completo. Os passageiros, todos bons nadadores, lograram alcançar as margens. Um deles, agarrado a alguns talos, conseguiu segurar a maleta do dinheiro, que passava boiando a seu alcance, e levou-a intacta ao dono, o qual ficou três dias na casa de um morador à beira do rio, esperando as cédulas secarem ao sol. Como eu disse, por ali não havia assaltantes. Era no tempo em que homens tinham vergonha na cara.

  

Balsa, a embarcação mais comum naqueles tempos

 

                        O pioneirismo de Tio João Ribeiro se faz notar não só pelo fato de haver chegado a Balsas oito anos antes de sua emancipação, o que se deu em 1918, mas também pelo progresso que trouxe para a região.

 

                        Em uma de suas viagens a Floriano, ao conhecer um gasômetro a carbureto, desenhou-o e, chegando a Balsas, produziu, com a arte do funileiro José Santiago, um igual, o que fez de sua casa a primeira com iluminação a gás na cidade. Mais tarde, adquiriu moderno aparelho similar de fabricação alemã, com o qual iluminou sua casa e também parte da Praça da Matriz, instalando alguns bicos de luz em sua esquina.

  

Gasômetro a carbureto

 

                        Trouxe para Balsas a primeira máquina de escrever, uma Underwood 1913 americana, em cujo manual Tio Cazuza logo aprendeu a escrever, tornando-se o primeiro datilógrafo da cidade e causando verdadeiro encantamento nos matutos, abismados ao verem aquelas letrinhas saindo todas certinhas, alinhadas no papel.

  

Máquina de escrever Underwood

 

                        Em 1930, comprou, em sociedade com Tio Cazuza, o primeiro automóvel da cidade, um Ford, Modelo 1929, praticamente do ano, transportado do Oceano Atlântico numa barca a reboque do vapor Joaquim Cruz. No mesmo ano, o Coronel Antônio Fonseca, outro grande Patriarca balsense, faria o mesmo, trazendo um Fiat zerado. Como esses dois veículos tiveram que furar estradas para todas as paragens daquele sertão, seu tempo de duração foi curto, deles restando apenas fotos esmaecidas.

  

Ford 1929: o primeiro automóvel em Balsas

 

                        No dia 17 de dezembro daquele ano, Tio João Ribeiro veio a falecer, vítima de enfermidade que o levou, com apenas 51 anos de idade, quando se encontrava no auge de suas realizações.

 

                        Tio João Ribeiro e Tia Marica tiveram 14 filhos, cinco dos quais pereceram em tenra idade – ainda não fora descoberta a penicilina –, e adotaram um, o Augusto, filho dos cunhados Quinô e Albertina. Abaixo, a foto dos remanescentes, batida em 1940:

  

Raimundo, Aluísio, José, João, Augusto, Antônio,

Pedro, Alberto, Zenóbia e Maria de Lourdes

Os filhos, por ordem de altura

 

                        Nome completo dos filhos: Raimundo Ribeiro da Silva, o Titina; Aluísio Ribeiro da Silva; José Ribeiro da Silva; João Ribeiro da Silva Filho; Augusto Pereira Evelim; Antônio Ribeiro da Silva, o Ribeirinho; Pedro José da Silva Néto; Alberto Ribeiro da Silva; Zenóbia Ribeiro da Silva; e Maria de Lourdes Ribeiro da Silva.

 

                        Tia Marica quase não teve juventude. Casou-se aos 16 anos e, aos 37, enviuvou, recaindo-lhe sobre os ombros o peso de dar continuidade aos negócios do marido e a tarefa de educar os 10 filhos, este seu sonho maior. Assim, no ano de 1936, com dois deles já formados, Ribeirinho, Farmacêutico, e Zenóbia, Professora, mudou-se com toda a família para Teresina, transferindo, mais tarde, sua parte da sociedade na Casa João Ribeiro para meu Tio Cazuza. Depois disso, residiu em São José dos Campos (SP) e, anos após, em Fortaleza, onde veio a falecer.

 

                        Tia Marica ficou conhecida pela intransigência com qualquer pessoa que se acercasse de seus filhos com o propósito de namoro. Pequena parte disso é creditada à responsabilidade que ela assumiu, sozinha, para educar a prole. Grande parte, no entanto, deve-se ao fato que ela era possuidora de um gênio forte, de difícil convivência, osso duro de roer.

 

                        Isso descontado, pode-se dizer que foi mulher de extrema coragem, jamais esmorecendo diante das adversidades. Superou-as com galhardia e soube manter a dignidade da família, guiando-a por seus passos na vida, fazendo de cada filho um vencedor.

 

                        Um deles, o Pedro José da Silva Néto, que faleceu ainda jovem, aos 46 anos de idade, como Coronel do Exército – o Coronel Silva Néto –, criou uma estirpe que perpetuou o nome do clã para sempre.

 Coronel Silva Néto

 

                        Casou-se, em 1939, com Maria Celeste de Silva Néto, natural de Guaratinguetá (SP), com quem teve 10 filhos, dois dos quais faleceram ainda na infância. Dos oito restantes, são três moças, Nísia Maria da Silva Néto, Pedagoga e Psicóloga, Maria Auxiliadora da Silva Néto, Professora, e Teresa Cristina da Silva Néto, Pedagoga e Psicóloga. Os cinco, filhos varões, Pedro Augusto da Silva Néto, João Carlos da Silva Néto, Eduardo José da Silva Néto, Paulo Bolívar da Silva Néto e Pedro José da Silva Néto seguiram a carreira militar no Exército Brasileiro. O mais velho, o Pedro Augusto, conquistou a mais alta patente da Força, General de Exército – 4 estrelas. Os demais alcançaram a patente de Coronel. Hoje, os netos e bisnetos militares do Tio João Ribeiro espalham-se por este Brasil afora, onde não há quartel de Infantaria que não conheça um Silva Neto, nome de guerra de todos.

 

                        A seguir, fodo de Maria Celeste, falecida em 1989, com os cinco filhos militares:

 

 

                        Das filhas do primo Silva Néto tenho apenas a foto da Teresa Cristina, pessoa muito ligada à ala nordestina da família, culta, inteligente, jovial, assídua leitora de meu site, Almanaque Raimundo Floriano, razão pela qual, na minha qualidade de Cardeal da Igreja Sertaneja, cultural, sem fins religiosos, que fundei em e1972, a nomeei Madre Superiora do Convento de Araras, cidade paulista onde reside.

 

Teresa Cristina

 

                        Dos outros filhos de Tio João Ribeiro, tive contato mais aproximado com o primo Alberto Ribeiro da Silva, Contador, homem destemido, que não conhecia obstáculo intransponível, exemplo para todos nós, casado com a prima Zisile e pai de João Ribeiro da Silva Neto, o Beiró, casado com sua prima Aliete, músico polivalente, líder do Conjunto Big Brasa e colunista do Almanaque Raimundo Floriano, razão pela qual o ordenei Sacristão da Igreja Sertaneja.

  

Alberto Ribeiro da Silva e Zisile

 

João Ribeiro da Silva Neto, o Beiró, e Aliete

 

                        Tia Marica lia muito, o que a brindou com uma cultura geral razoável. Sua conversa era agradável, tanto pelo timbre de voz quanto pelas citações que apreendera dos livros. E também tinha as próprias sentenças, baseadas nas experiências vividas.

 

                        Se estava aborrecida com alguém, dizia: – Eu só quero quem me quer!; ou: – Minha gente, eu sempre ouvi dizer que a ingratidão tira a afeição! Referindo-se a pessoa orgulhosa: – É preciso ter cuidado, porque o orgulho se abate! Quando alcançava um objetivo: – Triste da coisa em que eu botar o cavalo em cima! Ao atravessar grande perigo: – Estamos com Deus e com a Santa Cruz, salvai a nós todos, Jesus! E, também: – Nas horas de Deus e da Virgem Maria!

                       

                        Muito religiosa, quando qualquer dos filhos viajava, mandava-o primeiro beijar os Santos. Para isso, tinha em casa um pequeno oratório, com imagens de todos os Santos de sua devoção. Era Zeladora do Sagrado Coração de Jesus, entidade religiosa muito antiga, à qual pertenciam quase todas as senhoras de nossa terra.

 

                        Já no fim da vida, dizia ser agradecida a Deus por ter vivido muito, para poder arrepender-se de seus pecados. Portadora de fé inquebrantável, Tia Marica soube conservá-la até seus últimos segundos na Terra.


segunda, 24 de agosto de 2020 as 08:31:04

Teresa Cristina da Silva Néto
disse:

Primo Raimundo Floriano ,já havia feito um comentário onde ressaltava a pessoa de meu avô paterno , João Ribeiro da Silva, como um dos pioneiros no desenvolvimento de Santo Antônio do Balsas . Falar dele , de sua esposa ,minha avó Maria Ribeiro da Silva , é sempre encontrar mais fatos a serem observados . A maravilhosa casa em verde e branco, com detalhes de esmerado bom gosto , a primeira da cidade construída em tijolo de argila , quando o costume da época era construção de adobe ou adobo, tijolo grande de barro , seco ou cozido ao sol, às vezes acrescido de palha ou capim para torná-lo mais resistente, que progresso! Não bastasse este ousado empreendimento , homem bem sucedido que era, conheceu o Gasômetro a Carbureto e logo levou à casa dele e sua família ,sendo então, a primeira com iluminação a gás . Aperfeiçoou e se informou mais e adquiriu um outro gasômetro , de fabricação alemã. Desta feita, melhorou a iluminação de sua residência bem como instalou pontos de luz em vários lugares , tornando a praça da Matriz bem iluminada . Comprar a máquina de escrever Underwood, para espanto da população , me faz reforçar a imagem que dele tenho : um visionário inteligente e muito bem informado do que ocorria no mundo, léguas de distância dos grandes centros do nosso imenso Brasil . Parabéns ao irmão dele, meu tio Cazuza, que logo se tornou um exímio datilógrafo . Papai , meu querido Pedro José da Silva Néto, tinha uma excelente máquina de escrever , anterior a 1939. Também datilografava com enorme rapidez e eficiência, o que nos encantava . E o que dizer do primeiro carro dos dois irmãos ?! Como gostaria de estar pelas ruas de Santo Antônio do Balsas e assistir o motor do Ford 1929 a circular pela cidade . Que máximo ! Geniais! E outros irmãos ,o Emigdio Rosa e João Clímaco, também unidos e em ótima orientação . Falemos um pouco da idade em que ele , com 31 anos, em 1910, já com um filho , o Ribeirinho , partia para o Balsas , como desbravadores, ao lado de sua esposa , de apenas 17 anos , rumo ao desconhecido , mas com certeza, com antecipados planejamentos e avaliações , características de ousados e corajosos pioneiros . Já mencionei a enorme admiração e espírito de união e solidariedade quando, em situação de progresso e já bem sucedido , se lembrar dos irmãos e os convidar para a colonização do Balsas . Sua vitória precisaria ser compartilhada. Parabéns , vovô! Caráter e afeição , generosidade e altruísmo são legados mágicos “ tatuados “ em seus filhos, netos , bisnetos e a todas as gerações que vierem. Obrigada. Com certeza seus irmãos, já sócios no trabalho , o têm nesta mesma admiração . Através de livros escritos pela família ou mesmo no de Magnólia Furtado , você enviava à Fazenda do Brejo aquilo que lá não havia . Que nobreza de atitude ! Ao mesmo tempo , percebo que tinha estima por Isaura , a segunda esposa de seu pai .Merecido carinho . Ela cuidou de você e de seu irmão Mundico, o Raimundo, desde pequeninos pela morte de sua mãe Otilia Raimundina. Com 23 anos ela se casou com seu pai, meu bisavô ,o Cap Pedro, já com 39 anos . E mais 17 filhos ela teve a se juntar a vocês dois . Não é brincadeira ! Muito orgulho ! Muita coragem ! Vou falar um pouco da sempre citada como exigente e brava Vovó Marica. Não me é desconhecida esta face dela . No entanto , se a olharmos com certa atitude empática, compreenderemos a dureza de vida . Sair da casa paterna , uma menina de 16 anos e se casar com um homem de 30 anos , sem conhecimento , na certa , sobre realizar sonhos e saber como é a vida de casada ? Ano a ano só fez ter filhos .... E se não bastasse , com 37 anos fica viúva com 10 filhos ? Oito homens e duas mulheres ? ( Meu avô morreu no dia do aniversário de meu pai, 17 de dezembro ). Papai já estava encaminhado , como aluno da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, que a partir de janeiro de 1944, transferiu-se para Resende -RJ, AMAN, Academia Militar das Agulhas Negras. Ribeirinho era formado em Farmácia e Zenóbia, professora. Felizmente todos se encaminharam bem , mas “ Dindinha” teria uma árdua tarefa pela frente para bem formar seus outros 7 filhos. Um pouco impossível ser serena e terna com este enorme desafio . Era muita amargura . Consta também que muitos sobrinhos e sobrinhas foram morar em casa dela quando se mudou para Teresina , seis anos após a morte do marido, 1936. Enviou filhos para estudarem em São Paulo. Alguns adoeceram . Ela só acompanhava de longe até que se viu um tanto obrigada a morar em São José dos Campos para tomar as rédeas da situação com os filhos no Estado de São Paulo e cuidar destes . Retorna à Fortaleza e fica até o final de seus dias . Tive muitos contatos com vovó e pude ouvi-la em sua retrospectiva de vida . Vi uma outra mulher . O lado exigente e muito temido , sabia através de papai, outros irmãos dele e muitos parentes . De minha avó , apesar de tantas conversas, doce de abóbora no cal, vatapá maravilhoso , carne pendurada no varal e deliciosos pratos , não me saiu da memória , o convulsivo pranto dela ao adentrar nossa casa , em 1962, gritando e , em desespero , a chamar por seu Pedrinho que acabara de morrer . Ela ainda não havia completado 69 anos e velava seu jovem filho , Cel Silva Néto, ao lado de nós, filhos de todas as idades , onde o mais velho tinha 21 anos.... e minha minha mãe , como vovó se desesperou ao vê-la grávida de 7 meses ! Outra jovem viúva de 39 anos . A vida é pra valer e não é fácil não . Que Deus e o Sagrado Coração de Jesus e Maria nos expliquem algum dia o que todos seguramos pela fé. Quem não ? Teresa Cristina da Silva Néto. 22 de agosto de 2020.


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