Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Carnaval Brasileiro domingo, 07 de agosto de 2022

JORGE GOULART E O CARNAVAL
JORGE GOULART E O CARNAVAL

Raimundo Floriano

 

  

                        Jorge Neves Bastos, o Jorge Goulart, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), à Rua Araripe Júnior, bairro Andaraí, no dia 16 de janeiro de 1926, cidade onde veio a falecer no dia 17 de março de 2012, aos 86 anos de idade. Era filho do jornalista Iberê Bastos e de Arlete Neves Bastos, do lar.

 

                        Sua morte aconteceu uma semana antes da do humorista Chico Anysio, ocorrida no dia 23 seguinte. Para o ator global, o Correio Braziliense dedicou, na primeira lapada, afora menção nas edições seguintes, caderno com 8 páginas, e a revista Veja, mais 4. Quanto a Jorge, o Correio se calou, e a Veja publicou apenas esta lacônica nota, na seção Datas, tópico Morreram

 

                        Não considero descaso da grande imprensa com esse grande ídolo da Velha Guarda da MPB. Se Chico criou 209 personagens, Jorge deixou 217 títulos gravados, todos em meu acervo. A imensa discrepância entre a cobertura dada ao falecimento do humorista e ao do cantor reside no aspecto de que Chico se encontrava em plena atividade, enquanto que Jorge se distanciara dos microfones e do palco, havia muito tempo, devido a problemas de saúde.

 

                        A única homenagem digna em toda a mídia a Jorge Goulart aconteceu no Jornal da Besta Fubana. No dia 19.03.12, nosso colega Walter Jorge, compositor, músico e pesquisador, em sua coluna Conversa de Matuto, dedicou-lhe oportuna crônica, estampando capa de um de seus discos e postando duas de suas gravações: o samba Divina Dama, de Cartola, e valsa Luzes da Ribalta, de Charles Chaplin, versão de João de Barro e Antônio Almeida. Na ocasião, deixei um comentário sobre o quanto admirava o cantor e prometendo matéria com seu perfil, o que agora faço, trazendo seu nome novamente à tona.

 

                        Jorge Goulart, ainda menino, participava de serestas no bairro do Meyer, cantando sucessos do repertório de Francisco Alves, Vicente Celestino, Carlos Galhardo, e Orlando Silva. Estudou no Colégio Pedro II, onde foi aluno do Maestro Villa-Lobos e solista do coral.

 

                        Em 1943, aos 17 anos, foi apresentado por seu pai aos compositores Benedito Lacerda, Custódio Mesquita e Orestes Barbosa, no antigo Café Nice. Começou aí sua carreira de cantor, apresentando-se no Circo do Dudu e em dancings da Lapa, divulgando composições de Custódio, até fixar-se no Eldorado, onde cantava todas as noites. Com a ajuda do cantor João Petra de Barros, passou a cantar, uma vez por semana, em programa noturno da Rádio Tupi.

 

                        Logo que começou a despontar nas noites cariocas, seus amigos sentiram a necessidade de criar-lhe um nome artístico. Na época, a locutora Heloísa Helena, da patota, fazia o comercial do Elixir de Inhame Goulart. Inspirados no anúncio, os colegas sugeriram o nome Jorge Goulart, que ele adotou no ato.

 

                        Em 1945, por influência de Custódio Mesquita, diretor da RCA Victor, gravou seu primeiro disco 78 RPM, com a valsa A Volta e o samba Paciência, Coração, ambos de Benedito Lacerda e Aldo Cabral.

 

                        O disco, lançado logo depois do Carnaval, resultou em fracasso, talvez porque Jorge cantasse imitando Nelson Gonçalves. Depois, gravou mais dois outros discos e, não obtendo sucesso, foi dispensado da gravadora.

 

                        Continuou, porém, a participar da programação noturna da Rádio Tupi, onde conheceu Ary Barroso que, retornando dos Estados Unidos e reassumindo seu cargo de produtor da emissora, o convidou a cantar sua nova música, Xangô, batuque afro, com letra de Fernando Lobo, no programa de estreia da orquestra que havia formado. Com essa interpretação, firmou-se definitivamente no rádio brasileiro, assinando contrato de exclusividade por quatro anos com a emissora.

 

                        Em 1946, Jorge atuou no show Um Milhão de Mulheres, organizado pelo cineasta, jornalista e produtor Chianca Garcia, que permaneceu em cartaz durante dois anos no Teatro Carlos Gomes, no Rio de Janeiro. A seguir, rumou para Porto Alegre (RS), inicialmente com a troupe de Chianca, passando depois a cantar em boates.

 

                        Em 1949, retornando ao Rio de Janeiro, gravou, pela Continental, o samba Miss Mangueira, de Wilson Batista e Antônio Almeida, e a marchinha Balzaquiana, de Wilson Batista e Nássara, que foi um dos grandes destaques do Carnaval de 1950, consagrando-o como grande intérprete do gênero. O sucesso alcançado com a marchinha lhe valeu um contrato de três anos com a gravadora e a oportunidade de incorporar-se ao elenco da Rádio Nacional, onde ficou durante 15 anos.

 

                        A partir dessa época, lançou inúmeros sucessos carnavalescos e de meio de ano, destacando-se entre estes a valsa Dominó, de Jacques Plante e Paulo Tapajós, o beguine Jezebel, de Shamkin e Cambé da Rocha, e Canção do Moulin Rouge, de Georges Auric, Wiliam Engrnick e Carlos Alberto.

 

                        A carreira de Jorge Goulart no cinema começou em 1949, no filme Também Somos Irmãos, de José Carlos Burle. O excelente desempenho lhe rendeu um contrato de exclusividade com a Atlântida Cinematográfica. No mesmo ano, atuou em Carnaval no Fogo, de Watson Macedo. Participou ainda dos filmes Não é Nada Disso e Aviso aos Navegantes, do mesmo diretor, e Garotas e Samba, de Carlos Manga, entre outros. No filme Tudo Azul, de Moacyr Fenelon, Jorge aparece cantando um de seus maiores sucessos, o samba Mundo de Zinco, de Antônio Nássara e Wilson Baptista, que ficou em primeiro lugar no concurso de músicas para o Carnaval de 1952.

 

                        No mesmo ano, o cantor foi eleito o Rei do Rádio, em concurso organizado pela Associação Brasileira de Rádio. Nessa fase de ouro de sua carreira, Jorge Goulart fez várias gravações de sucesso. Uma de suas mais belas interpretações foi o samba-canção Cais do Porto, de Capiba, o conhecidíssimo compositor pernambucano. O poderoso timbre de sua voz valeu-lhe o apelido de Garganta de Aço.

 

Jorge ao microfone 

                        Jorge Goulart teve um grande amor em sua vida, a cantora Nora Ney. Os dois se conheceram, em 1952, quando cantavam no Copacabana Palace e, após um período conturbado, assumiram o relacionamento e passaram a viver juntos até a morte da cantora em 2003.

 

Jorge Goulart e Nora Ney 

                        Em meados da Década de 1950, ainda havia uma grande resistência aos sambistas do morro. Jorge Goulart trouxe para o rádio e para o disco músicas de compositores das Escolas de Samba. O primeiro grande sucesso de um desses sambistas gravado por Jorge Goulart foi o samba A Voz do Morro, de Zé Kétty, destaque do Carnaval de 1956, que também foi cantado por Jorge no filme Rio 40 Graus, de Nélson Pereira dos Santos.

 

                        No fim Década de 1950, junto com Nora Ney, Jorge Goulart excursionou por diversos países do Leste Europeu e pela China. Além deles, integravam o grupo Paulo Moura, Conjunto Farroupilha, Dolores Duran e Carmélia Alves. Fizeram vários shows divulgando a música e a cultura brasileiras. Em 1957, Jorge Goulart emplacou outro grande êxito, o samba-canção Laura, de João de Barro e Alcyr Pires Vermelho.

 

                        Na primeira metade da Década de 1960, Jorge Goulart manteve sua marcante presença no cenário musical brasileiro, gravando principalmente músicas para o Carnaval, estourando com as marchinhas Cabeleira do Zezé, de Roberto Faissal e João Roberto Kelly, em 1964, e Joga a Chave, Meu Amor, de Kelly e J. Ruy, em 1965. Nessa mesma década, estreou como intérprete de samba-enredo na Escola de Samba Império Serrano. Em 1965, a Escola levou para a avenida, com sua voz, o samba Cinco Bailes da História do Rio, de Silas de Oliveira, Bacalhau e Ivone Lara. Goulart dizia que o único lugar onde se fazia samba de chão era no morro. No início do Regime Militar que se instalara no Brasil em 1964, Jorge Goulart e Nora Ney, como alguns outros artistas, foram demitidos da Rádio Nacional.

                       

                        A partir então, o meio musical se fechou para os dois, que passaram a excursionar por diversos países, em redor do mundo.  Em 1971, já no Brasil, Jorge fez uma temporada na boate Feitiço da Vila, em Belo Horizonte. Para comemorar os 25 anos de união matrimonial, Jorge Goulart e Nora Ney gravaram, em 1977, o LP Jubileu de Prata. Uma das músicas do LP, interpretadas por ele é o samba-canção Fim de semana em Paquetá, de João de Barro e Alberto Ribeiro. O último disco de Jorge Goulart saiu do espetáculo Oh! As Marchinhas, no qual atuou com Emilinha Borba. O show foi escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin e apresentado em 1981, na Sala Funarte.

 

 

                        Em 1982, Jorge Goulart e Nora Ney apresentaram-se no Teatro Gonzaga, em Marechal Hermes, numa série de shows intitulada De Coração a Coração, comemorando seus 30 anos de união.

 

                        Em 1983, Jorge Goulart encontrava-se em plena atividade quando lhe apareceu um câncer na laringe. Submetido a uma cirurgia e perdendo a voz, Jorge não se entregou. Aprendeu a falar usando o esôfago e, ainda no INCA, realizou apresentações de suas músicas em playback, para arrecadar fundos em prol de outros enfermos, mostrando-lhes que, apesar dos percalços, a vida continuava.

 

                        Com esse raciocínio, o cantor seguiu realizando atividades filantrópicas, participando de eventos onde dublava seus sucessos. Por isso, foi agraciado com a Medalha Tiradentes, concedida pela Aessembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e recebeu homenagens do Exército, do Colégio Pedro II e do Vasco da Gama, seu clube de coração.

 

                        Em 2007, Jorge Goulart casou-se com Antônia Lúcia, que fora enfermeira de Nora Ney até seu falecimento, em 2003, e passou, desde o casamento, segundo os amigos, a ser um verdadeiro Anjo da Guarda para o marido.

                       

                        Comemorou, em janeiro de 2012, seu 86º Aniversário no Teatro Mário Lago, no Colégio Pedro II, com um show que emocionou a toda a plateia. Foi sua despedida do público, deixando sua marca com um dos grandes cantores da Música Popular Brasileira.

 

                        Seu discos, ainda gravados em vida ou em coletâneas post mortem, são facilmente encontráveis na Editora Revivendo e em sebos virtuais.

 

                        Disponibilizo agora para vocês um pouco de seu imenso trabalho em prol do Carnaval Brasileiro, com títulos que ficaram para sempre nas lembranças dos foliões de outrora e ainda hoje são cantados nos blocos de sujos e bailes tradicionais:

 

                        A Voz do Morro, samba de Zé Ketty, gravado em 1955:

 

                        Arranca Máscara, samba de Antônio Almeida, gravado em 1956:

 

                        Bahia de Todos os Deuses, samba de Bala e Manoel, gravado em 1969:

 

                        Balancei a Roseira, samba de João de Barro, gravado em 1966:

 

                        Balzaquiana, marchinha de Nássara e Wilson Batista, gravada em1949:

 

                        Cabeleira do Zezé, marchinha de João Roberto Kelly e Roberto Faissal, gravada em 1964:

 

                        Carimbó no Carnaval, samba de João Roberto Kelly e Marcus Pitter, gravado em 1975:

 

                        Couro de Gato, samba de Grande Otelo, Rubens Silva e Popó, gravado dm1954:

 

                        Exaltação a Tiradentes, samba de Mano Décio da Viola e Estanislau Silva e Penteado, grado em 1949:

 

                        Ilu Ayê (Terra e Vida), samba de Cabana e Norival Reis, gravação de 1979:

 

                        Inflação de Mulheres, marchinha de Frazão e Marino Pinto, gravada em 1956:

 

                        Joga a Chave, Meu Amor, marchinha de João Roberto Kelly e J. Ruy, gravada em 1964:

                        Marcha da Pantera, Antônio Almeida, gravada em 1974:

 

                        Marcha da Quarta-feira de Cinzas, marcha-rancho de Carlos Lira e Vinícius de Moraes, gravada em 1963:

 

                        Marcha do Jota Jota, marchinha de Jorge Goulart e Wilson Batista, gravada em 1955:

 

                        Mundo de Zinco, samba de Nássara e Wilson Batista, gravada em 1951:

 

                        Não Faz Marola, marchinha de Antônio Almeida e José Batista, gravada em 1957:

 

                        Ninguém Tem Pena, samba de Haroldo Lobo e Milton de Oliveira, gravado em 1954:

 

                        O Mundo Encantado de Monteiro Lobato, samba de Batista da Mangueira, Darcy e Luiz, gravado em 1967:

 

                        O Mundo Melhor de Pixinguinha, samba de Evaldo Gouveia, Jair Amorim e Velha, gravado em 1974:

 

                        Pepita de Guadalajara, marchinha de João de Barro e Alberto Ribeiro, gravada em 1952:

                        Primeira Escola, samba de Joel de Almeida e Pereira Matos, gravado em 1943:

 

                        Promessa, samba de Castrinho e Jujuba, gravado em 1963:

 

                        Salve a Mulata, marchinha de João de Barro e Antônio Almeida, gravada em 1952:

 

                        Sansão e Dalila, marchinha de João de Barro e Antônio Almeida, gravada em 1951:

 

                        Sempre Mangueira, samba de Nássara e Wilson Batista, gravada em 1957:

 

                        Sereia de Copacabana, marchinha de Nássara e Wilson Batista, gravada em 1950:

 

                        Serenata em Fevereiro, marchinha de João de Barro, gravada em 1972:

 

                        Verdes Mares Bravios de Minha Terra Natal, samba de João de Barro, gravado em 1977:

 

 


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