O senhor Milton Olímpio da Silva, ao menos entre os mais íntimos, era conhecido como Papi. Quem foi Papi? Meu sogro, gente da melhor qualidade. Sua principal característica era falar, falar, falar. Adorava falar. E falava alto. O assunto sempre era detalhe menor. Bastava lhe dizer “bom dia”, e o papo estava garantido. Os mais escolados puxvam uma cadeira.
Para que incorporasse o “comandante” Fidel, não eram necessários mais que segundos. Em dia de garganta arruinada, coisa que nunca vi, a preleção era mais curta: de duas horas, em média. Quando lhe dava na telha, pedia licença e punha ponto final na prosa. Monocraticamente.
O pai, ao contrário, sempre foi quieto, recatado. Raramente, elevava o tom de voz. Mas não havia chance de lhe dizer “bom dia” e não receber algum incentivo, um conselho, um livro emprestado.
Dois loucos, dois estilos, dois mestres.
* * *
O pai nunca foi homem de farra, nunca teve muitos amigos. Gostava mesmo era de ler e reler seus muitos livros. E de fazer planos, ainda que já não tivesse mais condições de colocá-los em prática. Sempre foi um homem afável, mas sem tempo para, como se diz, jogar conversa fora.
– Por que o senhor não desce e vai conversar com outras pessoas lá embaixo, no jardim? Fica tão só…
Era o que sempre lhe perguntavam, a começar por minha irmã e eu.
E ele nos dizia:
– Não tenho nada contra ninguém, não. Tenho uma relação cordial com todos os que moram no prédio. Também não me sinto melhor ou pior que os outros. Mas o que tenho para lhes falar não é do interesse deles. A recíproca é verdadeira. E a vida é curta, filho. Nunca dá tempo para a gente ler o que precisava ler.