Para além do que se faz em campo, as grandes campanhas são feitas de histórias. A do Fluminense na Libertadores atual é, dentro das quatro linhas, de talentos que, sob a regência de Fernando Diniz, apresentam um futebol nem sempre vistoso, mas que nunca deixou de ser ousado. Fora delas, de uma torcida que percebeu desde a estreia o quanto este ano era diferente e, mesmo nos momentos de baixa, nunca deixou de acreditar no time. Na virada por 2 a 1 sobre o Internacional, no Beira-Rio, estas duas virtudes convergiram para levar o tricolor à decisão do torneio após 15 anos.
Uma final única, em pleno Maracanã, dia 4 de novembro. Contra um adversário que será conhecido nesta quinta, quando Palmeiras e Boca Juniors farão a segunda partida do confronto, em São Paulo, depois de um 0 a 0 na Argentina.
Não foi uma virada qualquer. Ela foi construída num intervalo de seis minutos, a partir dos 35 do segundo tempo. Num momento em que, embora o Fluminense tivesse ampla posse de bola, quem criava as melhores chances era o Internacional. Resultado da decisão de Diniz de aumentar o número de atacantes (chegou a ter cinco), lançar quase todo o time à frente e deixar apenas um homem na contenção. Porque, por mais que o cenário estivesse desfavorável, técnico e jogadores continuavam acreditando. Além da torcida, claro.
O jogo começou muito mais favorável ao Internacional pela armadilha bem executada no primeiro tempo. Com a bola nos pés, os colorados trocaram passes e giraram de forma rápida e exploraram o quanto puderam o lado esquerdo da marcação rival e, principalmente, a bola aérea.
Enquanto impôs seu ritmo, o Internacional foi soberano na partida. Mas, por volta dos 25 minutos, esta intensidade cobrou seu preço, e os colorados perderam boa parte de suas forças. Passaram a concentrar o pouco que ainda tinham na marcação, de fato muito bem executada.
Diniz abriu mão de seu quarteto ofensivo, optando por começar com Alexsander no lugar de John Kennedy, para não sofrer desvantagem numérica no meio. Mas isso não funcionou. O Fluminense se deparou com um adversário que aproximou seus jogadores para marcar. Com isso, cada tricolor que tinha a bola nos pés encontrava dois ou três em torno de si.
O primeiro mérito de Diniz foi não ter compromisso com o que deu errado. Na volta do intervalo, trouxe Kennedy e deu a Marcelo uma liberdade para aparecer onde fosse melhor. O lateral virou ponta direita, esquerda, flutuou no meio, oxigenou a criação tricolor.
O Inter, ainda assim, vinha tendo as melhores chances. E esta história poderia ter sido diferente se Enner Valencia não tivesse desperdiçado duas grandes oportunidades, aos 25 e aos 32.
Vacilo que não houve no lado tricolor. O time que nunca deixou de acreditar em seu potencial e que, por mais riscos que corresse, sabia exatamente o que fazer quando tivesse oportunidade. E elas vieram. Aos 35, Marcelo deu um toque sutil que deixou Cano em ótimas condições. Ele lançou Kennedy, que não perdoou a saída equivocada do goleiro Rochet.
Seis minutos depois, Yony González tocou para Kennedy, que num corta luz deixou a bola pronta para Cano. O artilheiro marcou seu 12º no torneio. O auge da noite para não ser esquecida pela torcida não poderia ser mais apropriado. Com L... de Libertadores.