Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Fernando Antônio Gonçalves - Sempre a Matutar quinta, 11 de outubro de 2018

LIVROS INCOMUNS

 

 
LIVROS INCOMUNS

Quando o escritor judeu Elie Wiesel recebeu o Prêmio Nobel, em 1986, uma reflexão sua ecoou pelo salão de premiação, repercutindo em todo mundo: “Eu tenho tentado manter minha memória viva… Tenho tentado combater aqueles que prefeririam esquecer. Porque se nós esquecermos, nós somos culpados, somos cúmplices.” E num papo com amigos judeus, semana passada, quando reverenciávamos o nonagenário aniversário de Wiesel, recebi de um quase irmão hebreu um livro incomum por derradeiro: Holocausto: os eventos e seu impacto sobre as pessoas reais, Angela Gluck Wood, Barueri, SP, Editora Manole, 2013, 192 p. Onde, na quarta capa, se explicita a motivação da produção editorial, prefaciada por Steven Spielberg: “O livro que você tem em mãos é único. Ao mesmo tempo em que é um respeitável registro sobre O Holocausto que combina textos e imagens de um modo totalmente incomum, também é um registro humano da Shoah e de seu significado. As páginas que se seguem são repletas de estatísticas e fatos, muitos deles apavorantes. Mas estas páginas contêm também rostos e palavras de homens e mulheres que sobreviveram ao mundo homicida da Europa dominada pelo regime nazista.” E mais: “Você também encontrará outro elemento singular ao volume: um DVD contendo entrevistas em vídeo de muitos sobreviventes cujos nomes estão nestas páginas. Esses homens e mulheres falaram de suas experiências de modo direto e cândido às câmaras e microfones do Instituto de História Visual e Educação da Fundação Shoah da Universty of Southern California (USC). O trabalho do Instituto é o trabalho profissional mais importante de minha vida. Sinto-me profundamente orgulhoso por sua realização e verdadeiramente emocionado por você, leitor, ter a oportunidade de aprender sobre o Holocausto por meio do conjunto de testemunhos recolhidos para este livro e para o DVD que o acompanha.”

O livro contém as seguintes partes: Os Judeus na Europa; Domínio Nazista; Os Guetos; O Assassinato das Vítimas; Agarrando-se à Vida; O Fim da Guerra; As Consequências. Páginas que expressam animalidades e resistências, pusilanimidades e bravuras extremas. Em todas elas, uma seção chamada Vozes traz testemunhos de sobreviventes, a maioria deles extremamente dolorosos. Selecionamos um deles: de Thea Rumstein, austríaca, nascida em 1928: “Nós os vimos começando a marchar pelas ruas e, claro, no dia seguinte todas as lojas tinham cartazes dizendo ‘Juden sind hier. Unerwunscht’ (Judeus não são bem-vindos aqui). E nas lojas, eles escreviam Jude na fachada delas e todo tipo de coisa acontecia. Havia muita coisa acontecendo e você estava lá sentado e não realmente via o que estava para acontecer – mas logo bem descobrimos. Foi terrível. A primeira coisa que me lembro muito bem foi quando cheguei da escola (isso foi bem no começo), fui à rua onde morávamos e havia um enorme grupo de pessoas por ali gritando e gritando ‘Juden’ e continuavam, e então vi mãe na rua, limpando a rua! Eles a fizeram limpar os cartazes que colocaram nas ruas para as eleições. Então eu disse: ‘Mãe! O que você está fazendo aí ?’ E ela respondeu: ‘Thea, vai para casa! Vai para casa! Ela não queria que eu ficasse lá. Eu chorei terrivelmente e não fui, continuei lá gritando: ‘Mamãe, mamãe!’ E as pessoas não tinham compaixão alguma. Elas estavam tomadas por ódio. Todas elas. Todas.”

A história do antissemitismo, ódio aos judeus, remonta a tempos muito antigos, embora tenha sido fortalecida pela Igreja Católica medieval, que disseminavam que tinham sido judeus os responsáveis pela morte de Cristo no madeiro. O próprio Martinho Lutero, em 1543, no livro Dos judeus e suas mentiras, assim se pronunciava: “Eu aconselho que as casas dos judeus também sejam arrasadas e destruídas. Pois nelas, eles perseguem os mesmos objetivos que em suas sinagogas. Como alternativa, eles podem ser alojados sob qualquer teto ou em um celeiro, como os ciganos. Isso lhes dará a certeza de que não são líderes em nosso país, tal como se vangloriam, mas sim que estão vivendo em exílio e cativeiro, como eles lamuriam e lamentam sobre nós diante de Deus.”

Um outro livro incomum foi editado o ano passado (2017): Histórias de Vida: refugiados do nazifascismo e sobreviventes da Shoah – Brasil: 1933 – 2017, SP, Mayanot, 2017, 2v., projeto coordenado por Maria Luiza Tucci Carneiro e Raquel Mizrahi, que ressaltam: “As histórias de vida aqui publicadas têm elementos comuns, que formam uma trama e nos ajuda a reconhecer em cada personagem mais uma vítima da intolerância que abalou a Europa nas décadas de 1930 e 1940. Valorizamos também aqueles que lutaram nas frentes de resistência, os partisans, ampliando para as ações humanitárias dos Justos e Salvadores que escolheram o Brasil como sua segunda pátria. Importante ressaltar que esta é uma coleção aberta às novas vozes, idealizada para quebrar os silêncios da História. Para lembrar sempre, para não esquecer!” E dão testemunho contundente: “Em cada uma das histórias descobrimos que as cicatrizes ainda sangram, são como marcas subjetivas, conectadas ao “eu” de quem narra e que não devem ser desprezadas. Cada qual, em sua singularidade, nos oferece uma perspectiva e dimensão histórica acerca do Holocausto, demonstrando que as ações genocidas extrapolaram as fronteiras da Alemanha, Áustria e Polônia”.

Atualmente, o Holocausto, pelo seu caráter único e pela crueldade, não pode ser comparado a nenhum outro assassínio em massa. Não há justificativa lógica para a carnificina cometida contra mais de seis milhões de judeus. Tampouco qualquer explicação teológica. A Noite dos Cristais, as câmaras de gás de Auschwitz e os crematórios de Maidanek, entre outros, foram produtos da teoria racial germânica. Que devem continuar a ser combatidos, diante das efervescências sectárias surgidas nas duas últimas décadas.

Que as leituras acima sejam tijolos na grande muralha que conterá a intolerância, a xenofobia e o antissemitismo, preparando as nações para futuros luminosos, “repletos de conhecimento Divino, como as águas cobrem o mar”, segundo Isaías 11,9.


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