Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Cícero Tavares - Crônicas e Comentários terça, 01 de junho de 2021

MARIA BAGO MOLE E SEU INSEPARÁVEL REMINGTON 1875 CO2

 

MARIA BAGO MOLE E SEU INSEPARÁVEL REMINGTON 1875 CO2 

 

 

 

        Maria Fumaça levando os barões da Gretoeste para mostrar o progresso da ferrovia 

       Crônica dedicada ao especialista em filme de faroeste d.matt. e ao genial cronista dos   cocos, Sancho Panza, ambos fãs da cafetina Maria Bago Mole.  

Faltando dois dias para a festa de inauguração dos dois anexos do cabaré com banheira em formato idêntico às do saloom do velho oeste, para delírio dos freqüentadores que eram fascinados pelos westerns de hollywood, Maria Bago Mole mandou sondar o local onde estava sendo construída a estação da Gretoeste, a trezentos metros do lupanar. Era a modernidade batendo à porta do cabaré de carona nos trilhos da rota da estrada de ferro. Era a pujança do progresso, força transformadora, fomentando riqueza, trabalho, renda e diversão aos homens trabalhadores e solitários, mais secos por sexo do que o mês de janeiro no sertão árido de Acary, por falta de chuva.  

A "casa" da famosa cafetina já dava os primeiros sinais de que a prosperidade havia chegado àquele território antes esquecido. Aqui e acolá já se viam muitas barracas no entorno das ruas sem asfalto. Barracas de venda de aguardente cabeça com tira gosto duvidoso feito de aves e roedores dos arredores: rolinhas, anuns e preás assados para os peões. As feiras livres também dando sua cara. O povo percebendo a chegada dos consumidores nas ondas do cabaré e enxergando a oportunidade de ter seu comércio para sobreviver. A realidade sorrindo e o progresso obedecendo à lei do livre comércio.   

As duas "olheiras de confiança" de Maria Bago Mole, que estiveram na estação para observar os trabalhos dos homens ficaram deslumbradas com o que viram! Informaram à cafetina que o lugar estava parecendo com as ferrovias do velho oeste americano: "Coisa de outro mundo, madame! - diziam" "Um formigueiro de homens trabalhando na instalação dos trilhos, na confecção dos barrotes de madeira". "No corte das árvores, desbravando as florestas a foiçada, abrindo o caminha para a chegada da ferrovia, uma verdadeira casa de marimbondos!" Homens chegando de todas as partes do Nordeste!" "Uma loucura!" "O cabaré não vai dar conta da quantidade de homens!" – previram.   

Maria Bago Mole, precavida de outros confrontos desagradáveis entre homens dentro da "casa" por disputa pelos prazeres oferecidos pelas meninas mais deleitosas, ficou preocupada e tomou a decisão de ficar de espreita na recepção do cabaré lhes dando ordens para se comportarem bem e preocupada com a quantidade de machos afoitos que, por ventura, poderiam vir da ferrovia à noite, assim que terminasse o "expediente." 

No dia da inauguração, por ser devota do Padre Cícero Romão Batista, a quem agradecia todos os dias o sucesso do cabaré, Maria Bago Mole não esqueceu seu Remington 1875, guardado no fundo do baú junto a todos os seus pertences, averiguou se tudo estava funcionando bem e, pensando no que estava por vir, imaginou consigo mesma: se houver qualquer tentativa de desmoralização na minha casa não vacilo em apertar o gatilho conforme lhe aconselhou seu amado, Bitonio Coelho. Para defender o cabaré e a sua honra ela estava disposta a tudo, para isso havia combinado um dia antes com seu "homem" que não viesse no dia da inauguração, pois poderia a barra ser pesada com a quantidade de homens prevista e ela resolvia as "paradas" só!  

Por volta das 8:hs horas da noite o movimento já era assustador. Os homens que iam chegando ocupavam as barracas instaladas nas ruas sem asfalto, bebericavam, e já saiam de lá bêbados, dispostos a desmoralizar o cabaré por ser administrado por uma mulher pela qual tinham desejos e ela não cedia. Ledo engano. Quando percebeu que as coisas estavam tomando rumo de bangue-bangue, onde tinha lugar a lei do mais forte, Maria Bago Mole pegou o Remington 1875 que estava na gaveta da escrivaninha, sapecou fogo em dois afoitos que cantavam de galo e advertiu aos outros que estavam  presente: 

- "Fiquem onde estão e não se mecham. Outros que se atreverem a querer tentar fazer o mesmo terão o mesmo destino! Meu cabaré exige respeito às pessoas que vêm aqui para se divertir e eu não vou deixar desmoralizá-los!" 

Houve um hiato de silêncio no recinto até que no pátio do cabaré, com homens cheios de manguaça, também trocaram tiros com seus desafetos por disputa por mulheres, deixando um rastro de sangue e morte de quatro metidos a valentões. Naquela noite parecia que a Lei do Oeste havia chegado ao Cabaré de Maria Bago Mole. 

Precavida, a cafetina mandou o coveiro da cidade levar os seis cadáveres para enterrar no cemitério local. Não passou nenhuma informação do trágico acontecido ao comissário que se encontrava no quarto novo do cabaré já bêbado com uma menina. No cabaré a festa rolava a todo vapor devido aos cuidados que a cafetina teve de não espalhar o boato. Quando o dia amanheceu, os freqüentadores não sabiam de nada, pois a cafetina havia agido mais rápido do que uma bala dum wincheste. 

-"A vida é assim, disse Maria Bago Mole às meninas, a melhor defesa é o ataque e não se pode espalhar coisa ruim para não piorar o que já está cinzento. O boato se espalha à medida em que você não o prende na origem."  

"O cabaré vai continuar do jeito que está e dando espaço às meninas a às pessoas que queiram se divertirem e trabalharem, seja aqui dentro ou lá fora com esses novos trabalhadores livres e suas barracas, que precisam ganharem a vida também. Mas para aqueles que querem desmoralizar, vão receber chumbo." – desabafou. 

Foi nesse momento que lá no canto da mesa um bêbado solitário, já cheio da manguaça, gritou: 

- E isso aí, madame! Só a senhora tem peito para botar ordem nessa porra, porque os homens são uns frouxos, covardes! Eu sou um deles! 


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