Nada me irrita mais que papo de abilolado, aquele que se encontra integralmente desligado de tudo e de todos, como se o tempo tivesse estacionado.
Vez por outra me deparo com um, de carro zerinho, relógio gota serena e celular dos mais tampas, olhar de desdém para com o resto da humanidade e frases pré-fabricadas, tiradas geralmente de um senso comum defasado que não bota mais ninguém pra frente.
Ano passado, numa capital nordestina, praieira por excelência e bem atraente turisticamente, “enfrentei” duas horas de convivência com um “homus bobus” sulista, travestido de entendido em fatos e feitos da conjuntura contemporânea, “especializado” em merda muita e despreocupado com as regras gramaticais e as estruturas lógico-formais da epistemologia.
Racista por derradeiro, embora nitidamente não-branco, confessava sua irritação com todos aqueles que defendiam os menos favorecidos, por ele considerados farinha de mesmo saco. Explicitamente equino nas Ciências Humanas, não compreendia nadica-de-nada de penas alternativas, e acreditava que a pena de morte seria a melhor das soluções para os atuais índices de criminalidade, não admitindo tampouco a ação do Estado na proteção e fomento dos despossuídos. E ainda considerava que o objetivo último do bem viver estava intrinsecamente vinculado a três fatores: mulher, dinheiro e poder, o viver sendo melhor usufruído por quem melhor soubesse conciliar o “trinômio” acima.
Indagado sobre as leituras feitas nos últimos três anos, esboçou um sorriso debochoso, quase me deixando convencido da existência de um pedaço da humanidade que não teria seguido à risca os parâmetros evolucionais de Darwin. E perguntou de supetão, se valia a pena ler, quando outros meios de comunicação estavam à disposição de qualquer um.
Devidamente adentrado nos anos trinta, corpo bronzeado e olhos bem negros, confessou malhar duas horas por dia, caminhar oito quilômetros e cumprir sesta de duas horas todas as tardes, religiosamente, embora não acreditasse em nada relacionado com o além-vida, ainda que, no pulso esquerdo, exibisse duas fitinhas amarelas que pareciam bem amarradas, embora quase apodrecidas.
Ao lhe dizer o que eu fazia ensino e pesquisa, espantou-se sem relinchar: “Como você aguentou ser isso?” E olhou-me como se eu fosse uma espécie raríssima, certamente um “homo-imbecilis”, desses que perdem muito tempo com um monte de besteiras: vocação docente, cultura, empregabilidade, democracia, dignidade, ética, desenvolvimento de todos, direitos humanos e cenários futuros.
No abraço final, respeitosamente me aconselhou: “Tás ainda ágil, amigo. Entra numa boa, que dê muito ibope, tutu e mulher, que é o que hoje vale. O resto é cascata pura, cada um devendo procurar o melhor para si, sem se preocupar em dar colher de chá pros outros”.
Almocei com um amigo de infância paraibano ainda sentindo a sensação de ter encontrado uma espécie não-rara do atual cenário brasileiro. Que será amplíssima maioria, caso as autoridades responsáveis pelos nossos destinos, juntamente como os demais segmentos comunitários, não binoculizarem estratégias educacionais compatíveis com as metas de um desenvolvimento econômico-social que privilegie um saber-fazer lastreado numa responsabilidade solidária jamais individualista, conservadas as peculiaridades típicas de cada um.
Se isso não acontecer, os BBBs serão cada vez mais frequentados por idiotas chorões, incultos, ególatras e acafajestados, sem uma mínima criatividade estratégica.