Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas sexta, 28 de julho de 2017

MEUS SUBTENENTES: UM DELES CHEGOU LÁ!

MEUS SUBTENENTES: UM DELES CHEGOU LÁ!

(Publicada em 01.04.2013)

Raimundo Floriano

 

Subtenente: Arte de Juarez Leite

 

(O assunto é palpitante! De repente, não mais que de repente, sobressai, no Cenário Internacional, um Subtenente! Motivo pelo qual, repito esta matéria, com o acréscimo pertinente).

 

                        As piadas da caserna se repetem a cada ano, podendo ser adaptadas a qualquer tempo, espaço, posto ou graduação. O que vou fazer aqui não é contar mais uma, e sim lembrar grandes amigos dos velhos tempos, de quem não tenho notícia há mais de quatro décadas, desde que fui licenciado.

 

                         O Subtenente é militar escolado, traquejado, disciplinado e competente, qualidades sem as quais jamais alcançaria a mais alta graduação no âmbito das praças. Se o Capitão Comandante de Subunidade representa o pai da dos recrutas, o Subtenente, por ser mais vivido e mais experiente, poderia ser o avô, aquele sujeito bacana, compreensivo, que quebra qualquer galho. Nos três anos em que atuei como Furriel, Sargento que cuida da folha de pagamento dos praças, exerci minhas funções na Reserva – sala de trabalho do Subtenente e Almoxarifado da Companhia, cujo material emprestado só sai dali mediante cautela, uma espécie de recibo –, onde convivi com três excepcionais chefes, todos mineiros.

 

                        Na Companhia de Petrechos Pesados - 1, do 12º Regimento de Infantaria, em Belo Horizonte, MG, comecei, recém-saído da EsSA, com o Subtenente Bertucci – só me recordo do seu nome de guerra –, um ex-combatente, que atuou no Teatro de Operações na Itália. Logo em seguida, após sua promoção a 2º Tenente e transferência para outra Unidade, veio o Subtenente Assis Dias Brasil, Saco B – militar que, convocado para a guerra, chegou até a embarcar, mas, antes de chegar a destino, o conflito acabou –, que muito me ensinou para o bom desempenho de minhas atribuições profissionais e contribuiu sobremaneira na minha formação moral.

                       

                        Vou contar um caso envolvendo o Subtenente Bertucci. Foi no ano de 1958, quando o 12º Regimento de Infantaria, o Doze de Ouro, passava do sistema hipomóvel para o motorizado.

 

                         Vocês não avaliam o rebu que tocou nas Reservas dos Subtenentes, em especial nas Companhias de Petrechos Pesados - CPP, cujos morteiros e metralhadoras eram transportados nos lombos dos muares.

 

                        Na Reserva da CPP-1, não tínhamos tempo para dizer arroz. Deveríamos recolher, em curto espaço de tempo, todo o material a substituir, como carroças, reboques, cozinhas portáteis, selas, cangalhas, brides, cabrestos, rédeas, focinheiras, antolhos e o escambau, além dos mencionados muares. Tudo isso registrado minuciosamente, no Livro-Carga, ficando toda a operação sob o comando e a responsabilidade do Subtenente da Companhia, ou seja, do Subtenente Bertucci.

 

                        Esse, assoberbado com tantos afazeres, era constantemente interrompido por algum dos envolvidos na operação, trazendo-lhe problemas os mais diversos. Por isso, tomou uma atitude assaz acertada. Toda a vez que lhe aparecia qualquer desses enrolados, ele sustinha sua lengalenga, dando-lhe a terrível ordem: “TRAGA ISSO POR ESCRITO!” Não falhava, o sujeito saía, encontrava uma solução para o caso e nunca mais voltava à Reserva com mais outro.

                        Mas essa tática não funcionou com o Cabo Rufino, que labutava com os muares lá nas baias. Certo dia, ele chegou nervoso na Reserva e começou um interminável blablablá, interminável não, porque o Sub o cortou com a ordem: “ESCREVA ISSO!” O Cabo Rufino retirou-se, mas não demorou. Em pouco tempo, estava ele de volta com seu relato:

 

                        “PARTICIPO-VOS QUE O BURRO 45, VULGO BONIFÁCIO, ENTROU ALOPRADO NO NOSSO DORMITÓRIO, LÁ NAS CAVALARIÇAS, ZURRANDO E ESCOICEANDO, O QUE RESULTOU NA QUEBRA DE UM POTE DE BARRO E DE UMA MORINGA DO REFERIDO METAL.”

 

Pote e moringa

 

                        O Subtenente Brasil muito me orientou para o Exército e para a Vida. Era um estudioso da Língua Portuguesa, o que me fez também tomar gosto pela boa leitura e até a comprar o meu primeiro dicionário, um Aurélio, que me acompanhou de 1958 até janeiro de 1972, quando a Reforma Ortográfica acabou com o acento diferencial, tornando-o obsoleto.

 

                        A nossa Reserva era, portanto, uma sala de estudo, pois estávamos constantemente tirando as nossas dúvidas e as dos colegas que nos procuravam.  Dispúnhamos, para fornecimento ao pessoal escalado para serviço externo, de dois tipos de armas de cano curto: o revólver SMITH & WESSON e a pistola COLT, ambos de calibre 45.

 

                        Pois bem, eis que, senão quando, aparece-nos o Terceiro Sargento Baldomero, Ferrador, com esta preciosidade de cautela: “RESSEBÍ DA REZERVA DA CPP-1, PARA O SERVISSO DE PATRULHA NA ZBM, UM REVOLVER CIMITE OESSE, CALIBRE 45”.

 

                        Ao ler o documento, o Subtenente Brasil não conteve sua perplexidade e chamou o Sargento no saco:

 

                        – Sargento Baldomero, esta cautela está eivada de erros!

 

                        O Sargento tirou o corpo fora:

 

                        – Seu Sub, a culpa não é minha. Quem datilografou isso foi o Cabo Laurentino, eu só fiz assinar!

 

                        O Subtenente insistiu:

 

                        – Mas como é que você assina um documento sem ler antes? Os outros erros até que dão pra passar, mas este CIMITE está demais da conta!

 

                        Baldomero não se deu por achado:

 

                        – Pois é, Seu Sub, na hora eu até falei para o Laurentino: “Cabo Velho, esse CIMITE é com C cedilhado!”

 

Revólver Smith & Wesson, calibre 45

 

                        O terceiro foi o Subtenente Haroldo Batista, já na Polícia do Exército de Brasília. Um espelho para todos nós. Natural de Patos de Minas, bem mais novo que os já citados, atualizado, culto e bem-humorado, participava – sem perder a autoridade, nem quebrar a liturgia do cargo – de todas as brincadeiras e jogos no Alojamento e no Cassino dos Sargentos, quando estávamos aquartelados, de prontidão – e isso, no início dos anos 60 era mais comum que o período de normalidade. Árduos tempos.

 

                        Como os que prestaram o serviço militar devem saber, todo Cabo é “Cabo Velho” e todo Subtenente é “Seu Sub”. Na Aeronáutica, por exemplo, os Suboficiais são assim nomeados: Sub Bessa, Sub Pereira, Sub Martins, etc. Pois bem, o Subtenente Haroldo, que topava qualquer parada, qualquer contratempo, jamais admitiu que o chamassem de Sub. Não tenho notícia de outro que assim procedesse. E a exceção era para todos, do Comandante ao Corneteiro.

 

                        Se um subordinado desatento o chamasse de Sub, imediatamente ele o enquadrava: “Tome a posição de sentido para falar comigo.” E, em seguida, dava-lhe uma mijada daquelas. Se fosse um superior seu, aí sim, ele é que tomava a posição de sentido, se apresentava e inquiria: “Sub o quê, Meu Senhor? Subsolo, submarino, sub-raça? Eu Sou é Subtenente do Exército, de acordo com a lei!”

 

                        Desarmava qualquer cristão! 

 ACONTECEU NA EsSA

  

                        Para os que não serviram, vai ser difícil captar a sutileza do lance que ora narro. Por isso, achei de bom alvitre dar uma pequena explicação, antes de enfiar a cara no sucedido.

                         De acordo com os regulamentos militares, a tropa também faz continência ao deslocar-se, olhando à direita ou à esquerda, conforme o local em que esteja o oficial, quer seja Tenente ou Marechal. Deu pra entender? Então, prossigamos.

 

                        Na EsSA - Escola de Sargentos das Armas, a quantidade de oficiais transitando por suas ruas – ruas sim, porque a Escola é uma pequena cidade – é deveras marcante. E o aluno tem que ficar atento para prestar as honras, sob o risco de ter uma anotação desabonadora na sua ficha ou, no mínimo, levar uma mijada.

 

                        Certa manhã primaveril, lá ia o Aluno Abdala, na função de Chefe da Turma B-8, conduzindo a mencionada para a sala de aula. De repente, não mais que de repente, surge-lhe um superioríssimo, caminhando em sentido contrário. Então, o nosso herói emitiu o comando:

 

                        – Turma, sentido! Olhar à esqueeeeeerdá!

 

                        E já ia levar a mão à pala – só o que comanda é que faz a continência –, quando percebe ser a autoridade apenas um Subtenente. Mas o Abdala era esperto, sabia se virar, não acusou o golpe. Daí, lascou em alta voz:

 

                        – Turma, ultima foooooorma! Subtenente não tem direeeeeeitô!

 

********

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                        Bom, tudo o que relatei até agora se refere a Subtenentes Combatentes que, na carreira militar, após conquistar e graduação de 3º Sargento e fazer o Curso de Aperfeiçoamento, pode esperar sentado, calmamente, que as outras promoções virão somo sem falta: Segundo Sargento, Primeiro Sargent e Subtenente. Para isso, basta ter comportamento. No Quadro de Músicos, o buraco é mais embaixo, como se diz, por isso, estou vibrando com a seguinte notícia publicada no Estadão:

 

 

                        Pra começo de conversa, considero todo Músico um intelectual. Mais ainda, quando se trata de um Músico Militar, que precisa ralar muito, queimar as pestanas, estudar pra valer, visando a transpor cada degrau. De Soldado, estuda para sair Cabo; De Cabo, para 3º Sargento; de 3º Sargento, para 2º Sargento; de 2º Sargento, para 1º Sargento; de 1º Sargento, para Subtenente. Ao ser promovido a essa graduação – classificada como de Praça Especial –, o Música já é um Maestro perfeito e acabado, podendo reger orquestras em qualquer País do Globo Terrestre!

 

                        Sim, porque a Música é Linguagem Universal. Um Subtenente Musico brasileiro está apto a reger orquestra no Japão, Malásia ou Rússia, de primeira, sem conhecer os instrumentistas, que o obedecerão de imediato, se submeterão a sua regência, dada a Universalidade da Música.

 

                        Sem um poliglota, um multilíngue, nada mais apropriado que designar um Subtenente Músico para compor qualquer comissão internacional. No caso em exame, acho que o Subtenente epigrafado, era mais globe-trotter idiomático de toda a equipe. A Partitura, ou Notação Musical, é cosmopolita, e a Música é Arma Poderosa, que transpõe qualquer barreira, conquista o mais empederni coração, um Esperanto que deu certo, eis que, no Século XXI, é linguagem falada em todo o Planeta Terra.

 

                        Parabéns para esse valoroso Subtenente que, além de competente conquistador, mostrou garra, se esforçou, e ora vê recompensada toda sua dedicação ao estudo e ao saber!

 

 


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