MINHA CAMISA ARTÍSTICA E BRILHOSA
(Publicada no dia 18.01.2016)
Raimundo Floriano
Eu e ela
Todos os anos, há muito tempo, não dava outra: no mês de dezembro, eu saía adoidado, procurando nas lojas, butiques e feiras uma camisa brilhante para usar na passagem do ano, mas tudo em vão. No Réveillon de 2014/2015, tive de me contentar com esta, branca misturada com amarelo:
Elba, Raimundo, Veroni e Mara
Mas tomei vergonha. Jurei que seria a última vez e que, no primeiro dia útil de 2015, eu partiria para comprar o tecido e produzir, com meu alfaiate, a tão ansiada vestimenta. Assim, no dia 2 de janeiro, uma sexta-feira, fui à luta.
Embora o comércio de Brasília seja rico e variado, ainda é meio incipiente quando se trata de viadagem. Depois e pesquisar à exaustão na Rua dos Tecidos, cheguei ao único estabelecimento que me apresentou variadas opções para escolha. Este daí:
Olha, gente, sou macaco velho, quenga-do-rabo-esfolado quando o assunto se refere a compra de tecidos. Como meu é corpo é por demais irregularmente curvilíneo, calças, pijamas, bermudas e sungas para meu uso não se encontram em confecções prêt-à-porter, de carregação, no linguajar sertanejo. Exigem a mão de obra de costureira ou alfaiate na produção de trajes personalizados. Para calças e bermudas, por exemplo, um pano do tipo Oxford, ou Panamá, atualmente importado da China, não chega 20 reais o metro.
Nessa condição de expert no assunto, quando a vendedora expôs as peças no balcão e botei o olho na que me agradou, nem perguntei o preço, fui logo falando: – Tire dois metros!
A moça espantou-se: – Dois metros!?
Respondi: – Dois metros! Costumo guardar pequena sobra para o caso de futuro defeito ou necessidade de ajuste motivado por engorda!
Na hora de efetuar o pagamento, quando vi Nota Fiscal, o espanto foi meu:
Não sou de dar o braço a torcer, quando o vacilo é meu! Como eu não perguntara o preço antes e mandara cortar a peça, era sinal de que eu arrostaria com minha inconsequência. Apenas, solicitei uma explicação quanto ao inusitado valor da operação.
A vendedora me deu uma aula sobre tecidos de alto gabarito, corriqueiro na high society. Aquele era um paeté macramé, inteiramente estampado com lantejoulas, cujo metro custava R$710,00 que, multiplicados por dois, alcançaram o a cifra de 1.420,00. Os R$35,80 restantes se referiam ao acompanhamento do indispensável forro.
A bronca é a arma do otário! Satisfeito com as razões apresentadas, paguei sem bufar, agradeci e fui cuidar da segunda fase do projeto.
E aí é que foi parada pra desmantelo! Liguei para o Santos, maranhense que, há muitos anos, produz minhas roupas, estabelecido na Galeria Alvorada, à Quadra 511 Sul, mas o telefone estava mudo. Depois de muito tentar, fui lá pessoalmente, por várias vezes, encontrando o atelier fechado. Diante disso, resolvi procurar qualquer artista da tesoura para resolver o assunto.
Que nada! Nenhum profissional, homem ou mulher, nem mesmo o Moreira, maranhense de São João dos Patos, com alfaiataria no Polo de Modas, dispunha de máquina provida de agulha para costurar sobre as lantejoulas da peça. Diante do fato, resignei-me com a desdita, guardei o paetê em casa e desliguei-me do frustrado desejo. Não sou de chorar sobre o leite derramado!
Uns quatro meses depois, vou passando de carro pela W/3 Sul, quando vejo o Santos na calçada em frente à Galeria Alvorada. Estacionei onde pude e corri para saudá-lo. E qual não foi minha surpresa ao saber que, durante todo aquele tempo, seu telefone estivera em algum momento com defeito, mas que a alfaiataria jamais deixara de funcionar, tendo sido grande azar meu a ocorrência de tão lamentável desencontro.
Restabelecido o contato, o Santos, de imediato, se propôs a confeccionar a camisa, dentro de seu altíssimo padrão de qualidade, e eu nem estranhei o “santíssimo” preço cobrado pelo feitio: quatrocentos reais!
E o resultado ai está! Além da estreia no Réveillon 2015/2016, a maravilhosa camisa transformou-se em meu vestuário artístico, que passarei a ostentar em todas as apresentações doravante, notadamente a 5 de abril próximo, no Restaurante Carpe Diem, no lançamento nacional de meu livro Caindo na Gandaia, e em Balsas, na noite de 12 de junho, no Arraial do Festejo de Antônio, nosso Padroeiro, no lançamento umbilical.
O que mais me emocionou, nesse episódio, não foi a ansiada realização de meu almejado sonho sonhado, mas o sentimento de orgulho, de patriotismo bairrista até, de meus familiares, por terem um parente adornado por tão selecionado vestuário, digno de barões, duques, príncipes e quiçá reis, como se pode ver nas fotos a seguir:
Com Veroni, minha mulher - Com Ana Alice, comadre e sobrinha
Com Elba, minha filha – Com Fábio, meu genro
Com Mônica, sobrinha – Com Paulinha, sobrinha
Com Larissa e Laís, sobrinhas – Com Duda, sobrinha
Com Lara, sobrinha e afilhada – Com Ima Aurora, sobrinha
Finalmente, o momento em que eu, como o macróbio em nossa festança familiar, na casa da sobrinha e comadre Ana Alice, dava início à tradicional ceia da virada:
Fazendo o prato – Com a drumstick do peru