Agnes afirma que o disco é uma “reflexão real” de sua vida e passeia por diferentes fases. “Esse trabalho sempre será um dos mais lindos e verdadeiros. Dei a cara a tapa por ser completamente apaixonada pela arte. Sei que tem muita gente por aí que vai entender esse projeto, que se identificará com as letras e permitirá que as melodias toquem o coração. A música me salvou, me trouxe até aqui.”
Com a mãe, aliás, descobriu o poder da música popular brasileira. Já a avó a introduziu ainda menina ao universo do forró de serra. Sozinha, apaixonou-se por Nina Simone e Etta James. “Sou esse caldeirão de referências”, observa a jovem estrela, que caiu nas graças de um olheiro aos 14 anos, depois de publicar um cover na internet. “Na minha cabeça, não existia a menor possibilidade dessa profissão dar certo, mas resolvi arriscar. Disse: ‘Mainha, se não funcionar, faço minha faculdade de História e viro professora’. Aos 17, formada no Ensino Médio, minha mãe e eu partimos rumo ao Rio de Janeiro”, recorda. “As coisas começaram a acontecer e vi que poderia viver desse sonho. Lancei uma canção aqui, outra ali; e, no início da pandemia, iniciei a produção desse álbum. Foram 20 meses compondo e gravando.”
Ao longo do processo, Agnes revisitou memórias, nem todas agradáveis. Trouxe à tona o racismo que precisou enfrentar logo nos primeiros anos da adolescência. “Era atacada constantemente nas ruas e na escola. Mandavam eu raspar meus cabelos para nascer outros bons, perguntavam o que escondia no meu black. Sofri bastante nesse mundo, e a dor me fez amadurecer precocemente. Só para constar: achava meu look um deslumbre.”
Nos 45 do segundo tempo, nasceu a faixa título do disco. “Escrevi ‘Menina mulher’ para minha avó, durante um período na Península de Maraú, na Bahia. Ela sempre teve relacionamentos complicados, chorava constantemente. Falo para vovó num trecho: ‘Esqueça logo esse moço, não perca tempo, vem dançar’. Foi nessa pequena temporada que perdi meu medo do mar. Enxerguei como um renascimento.”
Com shows marcados na Inglaterra e em Portugal, a baiana afirma que está preparada para o sucesso: “Quero mostrar que é possível chegarmos a algum lugar. Saí do sertão e aqui estou, pronta para colher os frutos”.