Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Do Jumento ao Parlamento quarta, 21 de dezembro de 2016

NA CASERNA - NO 25º BATALHÃO DE CAÇADORES

NA CASERNA

NO 25º BATALHÃO DE CAÇADORES

Raimundo Floriano

Pertenci às fileiras do Exército Brasileiro por mais de onze anos. Fui incorporado ao 25º Batalhão de Caçadores, 25º BC, em Teresina, PI, a 11 de fevereiro de 1955, e licenciado no dia 15 de fevereiro de 1956. A 11 de março de 1957, em virtude de concurso público, reingressei no serviço ativo, onde permaneci até 28 de março de 1967, quando, também em decorrência de concurso público, fui nomeado para a Câmara dos Deputados.

 

Além do 25º BC, servi na Escola de Sargentos das Armas, EsSA, em Três Corações, Minas Gerais, no 12º Regimento de Infantaria, 12º RI, em Belo Horizonte, capital mineira, na Companhia de Polícia do Exército da 11ª Região Militar e no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília – BPEB –, os dois últimos no Distrito Federal.

 

Nesses onze anos, fui cabo, 3º sargento, 2º sargento e, ao ser transferido para a reserva, recebi a promoção ao posto de 2º tenente QOA R/2.

 

O Exército me deu excelente formação, responsabilidade, condições para estudar e me ensinou a trabalhar. Ao deixá-lo, sentia-me apto a enfrentar qualquer desafio na vida funcional. Por isso, guardo comigo, até hoje, o amor a essa instituição e a saudade dos bons tempos em que ali me dediquei à pátria.

 

Dentro dos propósitos deste livro, que é mostrar o lado alegre e divertido de situações por mim vividas, não poderiam ficar de fora os colegas da farda verde-oliva. Selecionei um episódio para cada uma das unidades acima citadas.

 

No 25º Batalhão de Caçadores

 

25º Batalhão de Caçadores: pavilhão do comando

 

No meu primeiro dia como soldado, deu para ver que os tempos de moleza eram coisa do passado: ganhei apelido, trabalhei feito um mouro e levei sonoríssima bronca.

 

Naquele tempo, eu era muito magro e tinha os ombros aguçados, apontando para o céu. Ao me ver, o colega recruta Alencar, que eu acabara de conhecer, botou-me o apelido de Morcego, que imediatamente pegou. Na parte da manhã, gastamos o tempo no recebimento de uniformes e equipamentos.

 

Fui lotado na Companhia de Petrechos Pesados, CPP, cujo armamento – metralhadoras e morteiros – era transportado em lombo de burros. Para mim, a pessoa mais importante da CPP, depois de seu comandante, era o sargenteante, uma espécie de chefe de pessoal. Fazia a chamada, transmitia as ordens, elaborava as escalas de serviço, lia, em frente à companhia, o Boletim Interno, no final do expediente. Para se falar com qualquer autoridade superior, era necessário pedir sua permissão.

 

No começo, eu e muitos colegas pensávamos que ele era alcunhado de sargento hiante – que tem a boca aberta – porque, no desempenho de suas funções, estava constantemente a falar com a tropa, sempre em voz alta. Por esse motivo, temíamos pronunciar tal nome perto dele. Alguém do antigo jornal Pasquim, não me lembro quem, também fez essa confusão em seu tempo de conscrito.

 

Nosso sargento hiante, digo, sargenteante era o 2º sargento Hílton. Alto, moreno, robusto, tinha o porte do sargento Garcia do seriado O Zorro. Mas só a aparência. Era ágil e esperto, bom de ginástica e um dos melhores juízes da Federação Piauiense de Futebol.

 

Pois bem, naquele primeiro dia, logo depois do rancho do almoço, o cabo Chiquito, praça velha engajada, me pegou como voluntário para ir cortar capim na Catarina, granja onde o 25º BC cultivava o pasto necessário à alimentação dos muares e cavalos argolados – em serviço no quartel.

 

Na parte da tarde, duas novidades na instrução militar. A primeira era de que o baixe-a-mão caíra. A partir de 1955, ao subordinado que se apresentasse a um superior bastaria fazer a continência, identificar-se e, em seguida, desfazer o gesto, não sendo mais necessário aguardar a ordem “baixe a mão!” A segunda era a que proibia o costume em voga nas escolas da cidade de se gritar boa! – boooooa! – quando se ouvia a voz de comando fora de forma, marche! No Exército, ao recebê-la, caberia ao militar romper a marcha – dar um passo à frente, como se fosse marchar – em absoluto silêncio.

 

Um detalhe crucial: eu, naquele turno vespertino, encontrava-me na Catarina, sob o inclemente sol teresinense, me arrebentando no corte de capim, e não recebera tão importantes recomendações. De volta ao quartel, às cinco da tarde, participei da formatura da companhia para o encerramento da jornada. Cumpriu-se, então, a rotina diária de qualquer unidade militar.

 

Veio o sargento Hílton e leu o Boletim e a escala de serviço, transmitiu as ordens para o dia seguinte e, ao final, exclamou:

 

– Companhia, sentido!

Obedecemos.

– Fora de forma, marche!

Inocentemente, eu, como fazia no Colégio Diocesano, enchi o peito e berrei:

– Booooooooooa!

 

O sargenteante bramiu:

 

– Quem foi o filho duma égua que relinchou aí?

Todos me apontaram:

– Foi o Morcego, sargento!

– Seu Morcego – sentenciou o sargento Hílton –, você vai ficar uma semana na Catarina, cortando capim, pra deixar de ser voador!

 

A Seguir, a Canção do 25º Batalhão de Caçadores, de Gustavo Barbosa, com a Banda de Música daquela Unidade:

 

 


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