Mais do mesmo – de novo, como sempre. Otávio percorrera a pé o quarteirão, fazendo as paradas obrigatórias: bar do Pedro, bar do Zé, bar do Paulo etc. Mas naquela segunda, mais que nas outras, não quis prosa alguma. Não estava disposto a ouvir. Falar? Nem pensar. Cogitou comprar algo para comer. Contentou-se com três maços de cigarros e dois litro de aguardente. Mestre da gororoba, ele faria um bem bolado com as sobras do domingo.
Pensou em Inês, a velha mulata de pernas ainda bem torneadas. Assanhada, ela sempre lhe dizia:
– Seu Otávio: o senhor precisa se cuidar: fazer a barba, cortar os cabelos. Que desleixo é esse? O senhor, aprumadinho, não é homem de se jogar fora.
Em casa, Otávio resolveu fazer o que há muito não fazia: olhar-se no espelho. Quase enfartou. Era uma réplica piorada do capeta. Um caco ensebado. Tinha que pôr um fim naquilo. Lembrou-se de seu Humberto, velho conhecido, dono de bar e de alguma sabedoria:
– Parei de beber, Otávio, porque percebi que estava deixando tudo para depois. E o depois nunca chegava.
Um sábio, esse seu Humberto. Otávio se prometeu mudar de vida. A partir de próxima segunda, claro.