Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Leonardo Dantas - Esquina quarta, 23 de agosto de 2017

NA RUA DO BOM JESUS, TEM INÍCIO A HISTÓRIA DOS JUDEUS NOS EUA

 Rua da Cruz, dos Judeus e do Comércio, c. 1855. Recife, Pernambuco. Augusto Stahl.

 

Com a ocupação holandesa em Pernambuco (1630-1654), milhares de judeus se estabeleceram no Nordeste do Brasil no ramo do comércio, particularmente do açúcar e do tabaco, chegando alguns a possuir engenhos, dedicar-se à cobrança de tributos, empréstimo de capital e no comércio de escravos originários da costa africana.

O aumento da comunidade fez com que, alguns integrantes mais ricos da gente da nação (como se autodenominavam) fixarem-se na guarda do Bode, em terreno comprado pelo judeu Duarte Saraiva, em 1635, à Companhia das Índias Ocidentais. Depois de algumas construções, o terreno, que ficava próximo a “Porta de Terra” no lado norte da cidade, dando origem a chamada de Rua dos Judeus, hoje Rua do Bom Jesus.

Duarte Saraiva, conhecido entre os do Recife e da Holanda pelo nome de David Senior Coronel, era um dos principais líderes da comunidade de então. Na sua casa funcionou a primeira sinagoga do Recife, em 1636, antes de ser construído o prédio destinado à Kahal Kadosh Zur Israel, ou seja, a “Santa Comunidade o Rochedo de Israel”.

Curiosamente, nesta sinagoga da Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, vem ter origem a história da Comunidade Hebraica dos Estados Unidos, conforme proclamação assinada pelo presidente Barack Obama, datada de dois de maio de 2012:

Há trezentos e cinquenta e oito anos atrás, um grupo de 23 refugiados judeus fugiram do Recife, Brasil, afligidos pela intolerância e opressão. Para eles, a partida marcou mais um capítulo da perseguição sofrida por um povo que tem sido testado desde o momento em que juntos passaram a professar sua fé. No entanto, foi também o marco de um novo começo. Quando estes homens, mulheres e crianças aportaram na Nova Amsterdam – que veio posteriormente a ser a Cidade de Nova Iorque – eles encontraram não apenas um porto seguro, mas as sementes de uma tradição de liberdade e oportunidades que uniria a suas histórias à história da América para sempre.

Esta saga tem início quando da rendição das tropas holandesas no Recife, em 27 de janeiro de 1654, dando causa a diáspora de 150 famílias judaicas forçadas a retornar aos Países Baixos e de lá, novamente, ao Novo Mundo, espalhando novas comunidades em ilhas do Caribe e na América do Norte.

Um desses grupos saídos do Recife vem a ser embarcado no navio holandês Valk, com destino aos Países Baixos. Na viagem de retorno vieram a se tornar prisioneiros de corsários espanhóis, sendo, porém, resgatados na Jamaica por franceses e, com estes, rumaram em direção à Nova Amsterdam a bordo do barco Sainte Catherine.

Em setembro de 1654, esses 23 judeus [entre homens, mulheres e crianças] já se encontravam na Nova Amsterdam, fundando assim a primeira comunidade judaica daquela que veio ser a cidade de Nova Iorque.

Segundo consultas ao arquivo do cemitério da Congregação Shearith Israel, daquela cidade, membros da Congregação Zur Israel do Recife aparecem em documentos do início da segunda metade do século XVII. Um deles, Benjamin Bueno de Mesquita, falecido em 1683, tem a sua lousa tumular preservada naquele cemitério; acrescentando a mesma fonte:

Corsários, piratas e a intolerância religiosa ibérica tornariam ainda mais complicada a já difícil viagem de alguns desses judeus. Em Amsterdã, o rabino português Saul Levi Mortera – professor de Baruch Spinoza e mais tarde seu “excomungador” – deu conta dos percalços sofridos por uma dessas embarcações em um manuscrito não publicado do qual apenas restam seis cópias:

O navio foi capturado pelos espanhóis, que queriam entregar os pobres judeus à Inquisição. Ainda assim, antes de poderem cumprir os seus ímpios desígnios, o Senhor fez aparecer um navio francês que libertou os judeus dos espanhóis, levando-os depois para África, posto o que chegaram salvos e em paz à Holanda.

Um outro navio, atacado por piratas ao largo do cabo de Santo António, em Cuba, seria também resgatado por um barco francês – o Sainte Catherine, comandado pelo capitão Jacques de la Motthe. A 7 de Setembro de 1654, com 23 judeus portugueses a bordo, o Sainte Catherine aporta a Nieuw Amsterdam, na ilha holandesa de Manhattan, a cidade que mais tarde passaria a ser conhecida como Nova Iorque.

Dessas vinte e três pessoas – homens, mulheres e crianças – sabe-se hoje muito pouco. São seis famílias, encabeçadas por quatro homens e duas viúvas. Só os seus nomes são mencionados nos registos oficiais. Mesmo assim é fácil adivinhar-lhes a proveniência: Abraão Israel Dias, Moisés Lumbroso, David Israel Faro, Asher Levy, Enrica Nunes e Judite Mercado. Entre esses adultos, foram identificados três homens citados no relatório da cidade como pessoas que assinaram o livro de atas da Congregação Zur Israel do Recife, no ano de 1648: Abraham Israel, David Israel e Mose Lumbroso.

Permanece o cemitério dos primitivos judeus do Recife em Nova Iorque, nos dias atuais, conservado pela Congregação Shearith Israel, estando localizado em um movimentado cruzamento daquela cidade, assinalado por uma placa com dizeres em inglês: “O Primeiro Cemitério da sinagoga Hispano-Portuguesa, Shearith Israel, na Cidade de Nova York 1656 – 1833”.

O tamanho da área do cemitério é pouco maior do que o de duas quadras de tênis. Parte acabou sendo destruída quando uma rua foi construída décadas atrás. Ao redor, famílias chinesas observam muitas vezes sem entender o que existe de especial nesse cemitério unindo as histórias de Brasil, Estados Unidos, Portugal, Holanda e da diáspora judaica.

Esses descendentes dos judeus saídos do Recife em 1654 se transformaram em figuras proeminentes na sociedade americana. Um deles, Benjamin Cardozo, já falecido, alcançou o posto de juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos. Outro Bruce Bueno de Mesquita, professor da Universidade de Nova York, é o mais destacado especialista de teoria dos jogos aplicada à ciência política.

O episódio que marca a presença dos vinte e três judeus do Recife na história da cidade de Nova Iorque (1654) é hoje reconhecido amplamente pelos norte-americanos, a ponto do Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, assinar, em dois de maio do ano de 2012, a seguinte proclamação:

Há trezentos e cinquenta e oito ano atrás, um grupo de 23 refugiados judeus fugiu do Recife, Brasil, afligidos pela intolerância e opressão. Para eles, a partida marcou mais um capítulo da perseguição sofrida por um povo que tem sido testado desde o memento em que juntos passaram a professar sua fé. No entanto, foi também o marco de um novo começo. Quando estes homens, mulheres e crianças aportaram na Nova Amsterdam – que veio posteriormente a ser a Cidade de Nova Iorque – eles encontraram não apenas um porto seguro, mas as sementes de uma tradição de liberdade e oportunidades que uniria a suas histórias à história da América para sempre.

Esses 23 crentes abriram o caminho para milhões. Durante os próximos três séculos, judeus de todas as partes do mundo seguiram para construir novas vidas na América – um país onde a prosperidade é possível, onde os pais podem prover a seus filhos mais do que ele próprios tiveram, onde famílias não mais sofreriam a ameaça de violência ou exílio, onde podiam professar sua fé abertamente e verdadeiramente. Mesmo aqui, os judeus americanos suportaram tormentos de opressão e hostilidade; mesmo assim, através de cada obstáculo, gerações carregaram em si a profunda convicção de que um futuro melhor estava ao seu alcance. Na adversidade e no sucesso eles se apoiaram mutuamente, renovando o a tradição de comunidade, propósitos morais, e esforço comum tão presente em sua identidade.

Suas histórias de continua perseverança e crença no futuro são uma lição não apenas para os judeus americanos, mas para todos os americanos. Gerações de judeus americanos têm contribuído para alguns das grandes realizações do nosso país e para sempre enriquecido nossa vida nacional. Como um produto da herança e da fé, eles têm aberto nossos olhos para a injustiça, para os mais necessitados, e para a simples idéia de que nos devemos nos reconhecer através da luta dos nossos companheiros homens e mulheres. Estes princípios têm levado os defensores judeus a lutar pela igualdade das mulheres e pelos direitos dos trabalhadores, e pregar contra o racismo a partir da bimah (púlpito); eles inspiraram muito a liderar marchas contra a segregação, ajudaram a forjar os laços inquebráveis com o estado de Israel, e deu suporte o ideal de tikkun olam – nossa obrigação em reparar o mundo. Judeus americanos têm servido heroicamente em batalhas e nos inspirado na busca da paz, e hoje, eles se postam como líderes em comunidades por toda a nossa Nação.

Mais de 300 anos depois que aqueles refugiados puseram os pés na Nova Amsterdam, nós celebramos o permanente legado dos judeus americanos – dos milhões que cruzaram o Atlântico em busca de uma vida melhor, dos seus filhos e netos, e de todos cuja crença e dedicação os inspiraram a atingir o que seus antepassados podiam apenas imaginar. Nosso país se fortalece através de sua contribuição, e este mês, nós comemoramos a miríade de formas com as quais eles enriqueceram a experiência americana.

AGORA, POR ISSO, EU, BARACK OBAMA, Presidente dos Estados Unidos da América, em virtude da autoridade em mim investida pela Constituição e leis dos Estados Unidos, por meio desta proclamo mês de maio de 2012 como o Mês da Herança Judaico Americana. E conclamo todos os americanos a visitar o site www.JewishHeritageMonth.gov para aprender mais sobre a herança e contribuição dos Judeus Americanos e respeitar este mês com programações apropriadas, atividades, e cerimônias.

EM FÉ DO QUE, eu assino o presente documento neste segundo dia de Maio, do ano de dois mil e doze, duzentos e trinta e seis da independência dos Estados Unidos da América.

BARACK OBAMA


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