Nesses dias que antecedem às comemorações do Natal, me pego recitando um soneto do poeta maranhense, Da Costa e Silva:
“Saudade! Olhar de minha mãe rezando
E o pranto lento deslizando a fio…
Saudade! Amor da minha terra… o rio
Cantigas de águas claras soluçando.”
Saudade é um sentimento que se apossa de nós a todo o momento, particularmente nesses dias em que todos festejam em sua volta e só você, unicamente você, não tem o que festejar, pois sua mãezinha já não mais comparece no final da noite a balbuciar baixinho:
Boa noite, meu filho…
Esta é a dura lição a nos ensinar que por mais experiências que a vida nos tenha oferecido, nunca estaremos devidamente preparados para conviver com o sentimento da orfandade.
Ela nos deixou em um domingo no qual o calendário marcava 13 de maio de 2000, quando todos festejavam o Dia das Mães e o cemitério estava tomado por flores.
O vazio que, a partir de então, se apossou de nós é como se uma boa parte do nosso ser tenha sido sepultado naquela manhã, juntamente com o que restou da mãezinha querida.
Sem ela, a vida se transforma num eterno vácuo… A sua presença, mesmo silenciosa, era o bálsamo que suavizava o nosso dia-a-dia, particularmente quando da chegada da noite, com o seu beijo a solfejar aquela cantiga de ninar que nos fazia dormir sossegado:
Boa noite, meu filho…
Das trevas dos seus últimos anos, do silêncio de que foi tomada, ela era o nosso Norte: O nosso referencial de vida. Suas palavras, o nosso consolo; sua presença, o nosso incentivo…
Nascera na primitiva povoação da Torre, em 27 de março de 1912, filha de um comerciante, Manuel Pantaleão Barbosa Dantas, e de uma tecelã da Fábrica de Tecidos da Torre, Guilhermina Francisca dos Santos.
Foi moça bonita, de cabelos negros e longos, que despertava o vate dos poetas de então… Estudando à noite e trabalhando durante o dia, formou-se pela Escola Normal Pinto Júnior, em dezembro de 1930, e, por toda a vida, dedicou-se ao magistério, abrindo os caminhos do saber a uma infinidade de gerações.
Por ocasião de seu velório, eram dezenas de vozes a balbuciar, entre lágrimas:
Minha primeira professora!
Em 1932, casou-se com Antônio Machado Gomes da Silva, técnico em máquinas e motores do Porto do Recife, e dessa união deixou apenas um filho, Leonardo Antônio Dantas da Silva, e três netos: Antônio (Tonico) Machado Gomes da Silva Neto, Mariana e Isadora.
Toda sua vida foi povoada de exemplos de dedicação e, sobretudo, de doação para com os que dela se acercavam.
Ilídia Barbosa Dantas da Silva foi a mulher forte de que fala às Escrituras. A mulher total, idealizada pelos filósofos. A criatura de Deus que, com o seu passamento, tornou bem mais tristes todos os que com ela conviveram.
Mas também a mulher, simples e doce, como nas trovas portuguesas:
Vi minha mãe rezando
Aos pés da Virgem Maria
Era uma santa escutando
O que a outra santa dizia.
Com a sua ausência do nosso mundo, a humanidade se torna um tanto ou quando mais pobre.
O céu, no entanto, tornou-se mais rico com a ascensão desta estrela…
Se duvidas, é só voltar os olhos para o infinito…
Logo perceberás que todas as estrelas estarão sorrindo.