Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Zelito Nunes - Histórias de Beradeiro sábado, 11 de fevereiro de 2017

O BODEGUEIRO MARIANO

Monteiro ficou mais pobre no dia 24 de janeiro de 2011, com a morte, do bodegueiro  Mariano Bezerra da Silva, último irmão vivo de Pinto do Monteiro.

Mariano morreu aos 96 anos, vividos com muita dignidade, trabalho e honradez.

Assim falei dele no livro PINTO VELHO DO MONTEIRO, UM CANTADOR SEM PARELHA, que teve a  sua primeira edição no ano de  2002:

 

livropintodomonteiro

 

Severino Lourenço da Silva Pinto foi o mais velho de uma família de oito filhos, cujos destaques foram ele e o irmão  Heleno, também um grande e respeitado cantador, restando ainda vivos Filomena, com 94 anos, e Mariano, com 92.

Mariano Bezerra da Silva ou “Seu Mariano da Bodega” é estabelecido com uma mercearia em Monteiro há exatos sessenta anos. Aos 92 anos, é um ativo comerciante, estando, ainda, à frente do negócio que ajudou a criar e formar os seus filhos.

Seu Mariano, um homem trabalhador, digno e generoso, sempre dispensou a Pinto um cuidado especial, apesar de mais novo 19 anos. Sempre o ajudou e, ainda, fala dele de maneira fraterna e carinhosa.

Pouco antes e após a morte do poeta, alguns jornais do Recife publicaram matérias dando conta de que Pinto estivera vivendo e morrera na miséria e abandonado numa casa em Monteiro. O que aqui, a bem da verdade, provoca uma pronta correção. Quem o conheceu de perto, e com ele conviveu, tem conhecimento de que Pinto, embora tenha tido – em função do seu extraordinário talento – condições de amealhar bens, nunca o fez. Sempre repartia tudo com todos, conhecidos ou não. “Não deixou bens a inventariar”, assim consta no seu atestado de óbito.

Quando em Sertânia, já praticamente cego e imobilizado em decorrência de uma fratura na perna esquerda (seqüela de uma “traquinagem”, assim, por ele – a mim – descrita: “Foi no ano de 1930, na rua Duque de Caxias no Recife, eu estava num 1º andar do “Cabaré das Polacas”, houve um incêndio e eu pulei do alto e quebrei a perna!…”), mais uma vez foi acolhido pelo irmão que, pacientemente, cuidou dele, não deixando que lhe faltasse o essencial, até o fim.

A casa em que foi abrigado era simples e humilde, mas não lhe faltaram os cuidados da diligente Lenice, que cuidava da limpeza e preparava o pouquíssimo alimento que consumia, e do cabo Edésio, o eterno companheiro dos fins de tarde e quem lhe assistiu os últimos suspiros, com quem traçava glosas e outras conversas de “poeta para poeta”.

Ao longo da convivência com Mariano, não foram poucas as bodegas que este abriu e entregou ao irmão-poeta que, por viver sempre na estrada e ser um desastrado para negócios, iam sempre à falência.

Na maioria das vezes, Pinto, então, distribuía a “massa falida” com quem estivesse por perto, fosse conhecido ou não.

Mariano conta que, numa dessas ocasiões, ainda resgatou a balança que ia debaixo do braço de um camarada que a tinha recebido de Pinto como presente. Em sua alma de poeta, decididamente não havia espaço para negócios ou lucros.

Cantando com João Furiba, depois de mais uma falência, começou a se queixar da falta de sorte no ramo de bodegas, findou uma lamentosa sextilha:

Do jeito que as coisas vão
Com essa falta de sorte
É melhor a gente ir
Pro Rio Grande do Norte.

Furiba:

Se você quiser ter sorte
Na sua mercearia
Coloque uma etiqueta
Em cada mercadoria
Se nela tiver meu nome
Vai conquistar freguesia.

Pinto:

Triste da mercadoria
Que nela tiver teu nome
Pode vir um guabiru
Com quinze dias de fome
Mija o pão, caga no queijo
Passa por cima e não come.


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