O DIPLOMA AMBULANTE
Sacristão Paulo Bandeira
A hospitalidade do sertanejo nordestino é incomparável! Ao receber um visitante, mesmo desconhecido, trata-o como rei, oferecendo-lhe uma xícara de café, ou, no mínimo, dependendo de suas poses um copo d’água. Alguns até possuem, anexa a sua morada, uma tapera, para que os viajores ali se arranchem, ao cair do sol, armando suas redes para o pernoite!
E foi assim que eu, certa vez, em jornada pelo sertão maranhense, após dirigir por mais se 6 horas, sol a pino, sem encontrar qualquer tipo de local onde pudesse matar a sede, estacionei à porta duma casa de taipa, e bati palmas:
– Oi de casa!
Uma voz respondeu:
– Oi de fora!
Saudei:
– Deus vos salve a Casa Santa!
Lá de dentro, a reposta:
– Onde Deus fez a Morada!
– Onde mora o Cálix Bento!
– E a Hóstia Consagrada!
Pronto! Estavam feitas as apresentações, mostrando que éramos pessoas do bem. Veio à porta um lavrador, meia-idade, a quem pedi um copo d’água. Ele me convidou para entrar, ofereceu-me uma cadeira e gritou no rumo do quintal:
– Diploma!
Uma voz de criança respondeu:
– Sinhô!
– Venha cá!
Aí apareceu na sala um menino orçando pelos 6 anos de idade:
– O quié, vô?
– Vá buscar uma cabaça d’água aqui pro moço!
Estranhei o nome esquisito do moleque, por isso, não me contive e, achando que entendera errado, perguntei:
– Como é mesmo o nome do seu neto?
– É Diploma!
– É apelido?
– Não, senhor, é nome registrado em cartório!
Estranho, inacreditável mesmo! Ainda era costume por aquelas bandas batizarem os recém-nascidos com o nome do Santo do Dia, conforme informava a Folhinha do Sagrado Coração de Jesus. Assim, ainda intrigado com a novidade, voltei a indagar:
– Qual o motivo da escolha de um nome tão incomum?
– É seguinte: mandei minha filha estudar na Capital, e olhe o diploma que ela me trouxe!
Muito bom.