Para quem deseja se apetrechar consistentemente no enfrentamento de um ateísmo militante que se banqueteia diante da crescente fragilidade cultural humanística das nossas populações e de um conservadorismo profundamente energúmeno das religiões maiores, um livro de boa envergadura expositiva indicaria aos que estão tateando na obscuridade, buscando explicações não simplistas para as razões das suas existências atuais. O livro é de autoria de Deepak Chopra, um médico hindu, especialista em endocrinologia, fundador, em 1985, da Associação Americana de Medicina Védica, hoje desenvolvendo programas de Desenvolvimento Pessoal no The Chopra Center for Well Being, em San Diego, tendo sido considerado, em 1999, pela revista Time, uma das cem personalidades do século, que o classificou de Profeta das Medicinas Alternativas.
O livro, O Futuro de Deus, SP, Planeta, 2016, 288 p., é oferecido a “todos os que buscam novos caminhos”, partindo de um pressuposto incontestável: “estamos vivendo uma crise de fé, onde a religião passou milhares de anos sugerindo que aceitemos, com base na fé, um Deus amoroso que tudo sabe e tudo pode”. Contemporaneamente, nos países mais desenvolvidos, a fé perdeu muito sua força, a maioria das pessoas que ainda creem aceitando uma religião sem pensar muito sobre sua importância para a existência de cada um. E se observa o crescente fortalecimento do ateísmo e do ceticismo diante das múltiplas tragédias acontecidas nos últimos séculos, muitas das quais efetividades sob o patrocínio de religiões, a exemplo do Holocausto e da tragédia do World Trade Center, acontecida em 2001, 11 de setembro.
No livro, algumas perguntas feitas por Chopra inquietam bastante os mais responsáveis: “O que Deus tem feito por você ultimamente?; Na tarefa de prover a si mesmo e à sua família, o que faz mais diferença: ter fé ou um trabalhar duro?; Será que você de fato entregou-se a Deus e deixou que ele resolvesse um problema espinhoso para você?; Por que Deus permite tanto sofrimento no mundo?; Será que tudo isso não passa de uma brincadeira de mau gosto ou de uma promessa vazia da existência de um Deus amoroso?”
Segundo Chopra, necessitamos com urgência encontrar uma nova maneira de viver espiritualmente. E tal novo caminhar exige um radical repensar da realidade, a história alterando nosso cotidiano mundial para dimensões mais elevadas, reparando uma conexão há muitos milênios quebrada. E tudo se efetivando a partir de uma transformação interior e de um caminho espiritual que se inicia como curiosidade, oferecendo uma “abertura à possibilidade de que algo tão inacreditável quanto Deus pode de fato existir.”
Chopra rebate aqueles que imaginam que o ateísmo sempre se opõe a Deus. Ele cita alguns dados de um levantamento realizado pela Pew Research, em 2008: 21% dos norte-americanos que se identificaram como ateus acreditam em Deus ou em um espírito universal, acreditando no Paraíso, enquanto 10% rezam pelo menos uma vez por semana. E conclui: “A fé deve ser salva, para o bem de todos. Da fé nasce uma paixão pelo eterno, algo ainda mais forte que o amor.” E reproduz uns versos de Mirabai, uma princesa indiana que se tornou uma grande poetisa mística: “Inquebrantável, ó Senhor, /é amor que me prende a ti, /Como um diamante,/ele quebra o martelo que o atinge. /Como o lótus que surge da água, /a minha vida surge de ti. /Como o pássaro noturno fitando a lua que passa,/eu me perco em ti./Ó meu amado… Retorna!” E reflete com grande maestria: “Por si só, a fé não leva necessariamente a Deus, mas faz algo do que precisamos ainda mais no momento: ela possibilita Deus.”
No seu livro, Chopra ressalta alguns pontos que merecem ampla reflexão daqueles que se imaginam sem crença alguma, embora sempre afetados com uma fé residual interior jamais desapartada da Criação. E ele declara, sem lengalenga alguma: “é melhor ser livre e cético do que viver preso a mitos, superstições e dogmas”. E vai mais além, com todo rigor analítico: “os picos criativos da história humana são atingidos por adultos, não por bebês crescidos”, qualquer um podendo passar da descrença à crença e ao verdadeiro conhecimento, cada um tendo plena liberdade para escolher a trilha existencial que mais lhe pareça melhor.
No seu livro, um verdadeiro manual de reencontro efetivo com o Espírito Superior, Chopra declina os principais balizamentos para se preservar uma espiritualidade sadia, sem vitimismos nem pieguismos, tampouco infantilismos deletérios, que apenas amplificam alienações débeis. Ei-los:
1. Reconheça que existe um poder superior no universo, maior do que a pequena existência humana. Somente assim, você se tornará mais racionalmente humilde; 2. Aproveite as oportunidades de colocar mais amor no ambiente onde vive, sendo mais adorável; 3. Reserve alguns minutos do dia para refletir ou contemplar algo belo, para se tornar mais densamente humano; 4. Seja mais receptivo, tornando-se mais gracioso e simpático; 5. Perdoe alguém que você jamais imaginaria perdoar, tornando-se mais generoso; 6. Reconheça seus erros, tornando-se mais responsável; 7. Tente enxergar o lado bom dos outros, ampliando sua visão positiva do mundo; 8. Reflita diariamente sobre o seu modo de pensar e de agir, pois só assim se tornará mais centrado; 9. Abençoe sem temor o mundo inteiro, tornando-se também beneficiário dessa bênção; 10. Dê o melhor de si em cada relação, para mais amorosamente aproximar-se cada vez mais do Criador.
Para se ter uma espiritualidade mais próxima da Criação, Chopra recomenda um combate sistemático e sem trégua contra cinco venenos que nos vitimam cotidianamente:
1. A ignorância, incapacidade de distinguir o verdadeiro do falso; 2. O egoísmo, identificando-se com o “eu”, o self individual; 3. O apego a determinadas coisas, objetos de desejos; 4. A aversão, sempre rejeitando as outras coisas, tornando-as repulsivas; 5. O medo da morte.
E que cada um se lembre no seu dia-a-dia: Quando a consciência cresce, o mal encolhe.