Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Literatura - Contos e Crônicas quinta, 10 de fevereiro de 2022

O LEILÃO (CONTO DO MARANHENSE HUMBERTO DE CAMPOS)

O LEILÃO

Humberto de Campos

 

 

 

- Um conto e duzentos! Um conto e duzentos! Dou um conto e duzentos!

Foi ao som desse pregão intempestivo que o Dr. Alfredo Camilo despertou, alta madrugada, na sua cama de casal, na alcova suavemente iluminada por uma pequenina lâmpada de cabeceira. Espantado, o ilustre médico voltou-se no leito, e percebeu que era a sua jovem esposa, a formosíssima D. Belita, que insistia, no meio de um sono agitado:

- Um conto e duzentos! Um conto e duzentos! Dou um conto e duzentos!

Sentando-se na cama, o Dr. Alfredo bateu no ombro nu da esposa, sacudindo-a, com força:

- Belitinha! Belitinha! Que é isso? Que é que tens? Acorda!

- Hein? Hein? Que é? Que é que tem? - exclamou a moça, despertando, espantada, esfregando os olhos com as mãos.

- Estás com pesadelo? - indagou o marido.

- Não! Era um sonho... Por que?

- Estavas para aí fazendo leilão...

- Ahn! - exclamou a linda senhora, espreguiçando-se. - Uma extravagância... uma tolice...

- Conta! Quero saber o que era! - pediu o esposo; enciumado.

- Não vale a pena, Alfredo!

- Conta! - exigiu o Otelo.

D. Belita agasalhou a cabecita de ouro no peito do marido, e começou a narrar, de olhos fechados:

- Eu sonhei que me achava em um mercado, não sei em que cidade, nem em que país onde estavam fazendo um leilão de homens, para maridos, os quais eram disputados por centenas de mulheres. De repente, depois de várias arrematações, levaram um rapagão alto, forte, formoso, uma verdadeira beleza, que encantou, logo, todas as pretendentes. Ao vê-lo, a Luisinha, mulher do Alonso, que também estava presente, lançou duzentos mil réis. Eu lancei trezentos. A Abigail ofereceu quinhentos. Eu cobri o lance com oitocentos, e estava oferecendo um conto e duzentos quando tu me despertaste.

Com os olhos presos na cabeça da esposa, o Dr. Alfredo ouvia, em silêncio, essa história, quando, chegada a narração ao fim, protestou, revoltado:

- Sim, senhora! Uma senhora honesta, e casada, a ter sonhos destes!...

Não convindo, porém, brigar, àquela hora, por um simples sonho, um mero fenômeno de imaginação, procurou consolar-se, indagando:

- E eu, não estava lá, não?

- Você? Não vi.

- Mas, se eu estivesse lá, as mulheres dariam uma fortuna... Não?

D. Belita sorriu, e, esfregando os olhos:

- Você?

E com desprezo, rindo:

- Como você havia lá às dúzias, a cinquenta mil réis, e ninguém queria!

E virou-se para o outro lado, roncando...


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