Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Violante Pimentel - Cenas do Caminho terça, 03 de abril de 2018

O LENHADOR

 

Antônio era um lenhador muito pobre, que todos os dias ia com a mulher e os quatro filhos cortar lenha na floresta. A lenha se destinava a uso caseiro. Sempre traziam alguma caça para alimentação. A família vivia numa tremenda miséria. . Os filhos eram todos crianças de 7 a 12 anos. Toninho, o mais velho, era o que mais ajudava ao pai.

Levavam a vida “como Deus permitia”. Antônio tinha se acomodado à pobreza e não tinham esperança de melhorar. Para aumentar a miséria em que a família vivia, veio um inverno violento e as coisas se modificaram para pior. Apavorado, ante a perspectiva dos filhos passarem fome, o homem entrou em desespero. Passava horas perdido em seus pensamentos, à espera de uma luz que lhe mostrasse o caminho que deveria seguir. As caças sumiram com o inverno, e a lenha molhada não acendia o fogo. O feijão e a mandioca que tinham em casa, não garantiam a eles o sustento, por mais um mês completo.

Toninho era muito esperto e logo percebeu a preocupação que afligia seus pais.

À noite, inquieto em sua rede, ouviu o pai dizer para sua mãe:

– Não quero ver meus filhos morrerem de fome. Amanhã, vou levar todos para passear na floresta e lá eles irão ficar. Tenho certeza de que vai aparecer gente caridosa que tomará conta deles e eles não irão passar fome.

A mãe se desfez em lágrimas e protestou:

– Como você pode ser tão cruel?- Se eles tiverem de morrer de fome, que morram ao nosso lado. Morreremos todos juntos.

Porém, o marido completamente transtornado, não quis ouvir mais nada. Também amava seus filhos, mas não podia suportar a ideia de vê-los sofrer..

Pela madrugada, antes mesmo das aves começarem a cantar, o menino levantou-se, correu até junto de um regato, e ali encheu os bolsos com pequenas pedras brancas. Voltou, então, para casa e deitou-se outra vez na rede, fingindo dormir. Estava apavorado, diante da certeza de que, no dia seguinte, o pai iria se livrar dele e dos irmãos. Abafou seus soluços e amargou suas lágrimas em silêncio.

Pela manhã, depois do todos comerem um bico de pão duro com água, disse o pai que todos teriam que ir passar o dia na floresta, para buscar lenha e procurar caças.

No trajeto, Toninho atrasou os passos, e, à medida que andava, ia deixando pelo caminho as pedrinhas que tinha nos bolsos. Bem depressa, chegaram a uma parte da floresta muito espessa, onde as árvores se juntavam muito. Aí, o pai parou e começou a cortar uma árvore, dizendo aos meninos que fizessem feixes com as toras de lenha.

Quando estavam muito ocupados e distraídos com esse serviço, o pai desapareceu. Quando viram que ia escurecer e ele não voltava, as crianças se encheram de medo e os menores começaram a chorar. Toninho os tranquilizou, dizendo:

– Não se assustem. Eu sei voltar para casa. Venham atrás de mim, e chegaremos lá.

Ali muito perto, estava a última pedrinha que ele tinha deixado cair, depois outra e outra, e assim seguindo as pedrinhas, Toninho e os três irmãos chegaram ao casebre onde moravam, sãos e salvos.

Enquanto isso se passava, a mãe, muito triste, chorava sem parar, certa de que tinha visto os filhos pela última vez. Imaginava o que estaria acontecendo com eles, naquela hora, todos ainda tão crianças.

Nesse momento, bateram à porta e chegou um guarda da floresta dizendo que vinha da parte do seu amo, trazer-lhes um bom presente de caça, pois ele tinha sabido da miséria em que estavam vivendo. Antes que a mulher pudesse agradecer, ouviu a porta se abrir novamente e por ela entraram os seus quatro filhos, gritando eufóricos:

– Estamos aqui, mãe! Ficamos perdidos na floresta, mas Toninho acertou o caminho de volta! .

Chorando de alegria, a mulher os abraçou e jurou para si mesma, que isso jamais iria acontecer novamente. Quando o pai chegou, depois de ter passado a noite vagando pela estrada, sem coragem de encarar a mulher, a alegria foi grande. Todos pareciam formar uma família feliz.

Mas, a caça recebida não podia durar para sempre. Dias depois, a situação se agravou novamente e para comer, só restava um bocado de pão seco. Toninho percebendo a situação, imaginou logo o que iria novamente acontecer com ele e os irmãos.

Nessa mesma noite, o menino ouviu o lenhador dizer à mulher que levaria, mais uma vez, os quatro filhos para a floresta, na esperança de que pessoas ricas e generosas pudessem encontrá-los e dar-lhes casa e comida.

Mal rompeu a aurora, Toninho saltou da rede e foi abrir a porta para sair, à procura das pedrinha salvadoras. Dessa vez, a porta estava trancada e sem a chave.. Desapontado, voltou para a sua rede, sentindo-se perdido, diante da maldade do pai.

Na hora de tomarem café com pão, Toninho teve outra ideia. Em vez de comer o seu pão, guardou-o no bolso do casaco, para fazer com as migalhas o mesmo que tinha feito com as pedrinhas, marcando o caminho por onde passassem. Logo depois, o pai chamou os filhos e convidou-os a irem com ele, novamente, para a floresta, procurar caça e buscar lenha.

Repetindo a cena, o homem entreteve-se com o seu serviço, e quando viu os meninos distraídos, amarrando os feixes de toras de lenha, fugiu como um ladrão.

Dessa vez, os seus filhos não se assustaram, “Toninho sabe voltar” pensaram os menores. Mas quando o irmão foi procurar as migalhas que tinha cuidadosamente espalhado pelo caminho, não encontrou nenhuma. Os pássaros tinham comido todas. “Estamos perdidos!”. Pensou Toninho, dizendo para os irmãos:

– Venham, meninos! Não podemos ficar aqui!, Daqui a pouco estará escuro”. Disse ele , visivelmente nervoso.

Depressa, o sol se pôs e Toninho, que ia na frente, disse:

– Vejo uma luz! Ali tem uma casa! Vamos pedir para passarmos a noite lá.

Correram todos até a casa e bateram à porta. Uma mulher, com cara de boa pessoa, veio abrir. Mas quando lhe disseram o que queriam, abanou tristemente a cabeça.

“Ai, disse ela, meu marido é um homem mau e não vai gostar de ver vocês aqui. É melhor irem embora..”

Os meninos tremiam de frio e se viram perdidos. A noite já estava totalmente escura, sem lua e sem estrelas.

Cheios de medo, saíram correndo estrada afora, até que, cansados, deitaram-se abraçados debaixo de uma árvore, esperando o dia amanhecer..

Quando viu o dia clarear, Toninho chamou os irmãos, para saírem dali o mais rápido possível. Saíram correndo em disparada, à procura de alguém que os pudesse ajudar.

Vendo o cansaço dos irmãos menores, Toninho resolveu ir sozinho à procura de socorro. Pediu-lhes que ficassem ali sentados, aguardando sua volta.

Muito cansado, chegou a uma enorme casa. Era uma fazenda. Encontrou, no terraço, um senhor muito gordo, risonho e simpático, que lhe perguntou o que fazia por ali. Com muito medo da reação daquele homem que parecia rico, Toninho contou-lhe que ele e seus três irmãos tinham passado a noite na estrada e estavam com muita fome. Tinham sido abandonados pelo pai, que se encontrava sem condições de sustentar a família, na esperança de que pessoas boas os pudessem ajudar. O fazendeiro se compadeceu daquela história e quis ver os outros meninos.

Toninho conquistou logo a simpatia do bom homem, ao dizer que sabia amarrar feixes de toras de lenha, cortadas pelo pai , que era lenhador. Também sabia limpar mato. Disse que ele e os irmãos gostavam de ajudar ao pai, na lida. Obedecendo ao fazendeiro, o menino foi correndo à procura dos irmãos. Em meia hora, estavam os quatro ali, todos tremendo de frio e fome. O homem, imediatamente, conduziu as crianças até uma enorme mesa, onde um lauto café da manhã os esperava. A esposa do fazendeiro, uma boníssima e simpática senhora de 60 anos, também se penalizou com a situação dos garotos. Combinaram, então, de lhes dar abrigo imediato e tomar as providências necessárias, para localizar seus pais.

Ao ficar provado que Antônio, o lenhador, abandonou os filhos, levado pelo desespero, o fazendeiro lhe deu emprego na fazenda.


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros