No seu Livro das Ocorrências (1985), Capiba conta “causos” engraçados acontecidos durante a sua movimentada vida de jogador de futebol, musicista, bancário e compositor dos mais festejados.
Chegando ao Recife em 15 de setembro de 1930, Lourenço da Fonseca Barbosa originário da Paraíba, então capital do vizinho Estado, veio assumir as funções de funcionário no Banco do Brasil, Agência do Recife.
Trazia em sua bagagem poucos conhecimentos para a vida bancária, mas já era conhecido e consagrado como compositor de frevos e canções, bem como pianista de cinema mudo, o que lhe garantia um grande número de relações de amizade.
Com o seu temperamento jovial, o nosso Capiba tinha sempre um chiste, uma graça, uma piada, no seu modo peculiar de viver a vida.
Logo nos primeiros dias de trabalho, como “quarto escriturário a título precário do Banco do Brasil”, Capiba pressentiu ao chegar para o expediente da manhã um grande rebuliço no salão da recepção. Formava-se uma grande roda de antigos funcionários, que atentos e com os semblantes revelando certo pesar, ouviam um fato narrado por uma voz para ele desconhecida.
Forçando a passagem, afasta daqui aperta dacolá, sobe numa cadeira, pede licença a um e empurra o outro, finalmente o nosso herói chega ao centro dos acontecimentos, bem no momento exato em que o narrador terminava a sua história.
Imediatamente surgiram as perguntas dos circunstantes preocupados:
– “E ela já tomou aplicações de radium?” – Indagava o chefe da seção.
– “E já experimentou um exame de raios-X?” –.
Perguntava preocupado o contador.
– “Bom seria um chá de Bom-Nome?”.
Sugeria um modesto funcionário crente na cura pelas erva.
A todos o narrador acenava afirmativamente. Todos os meios conhecidos foram utilizados; todos os medicamentos existentes naquele início dos anos trinta haviam sido experimentados.
Fazendo-se engraçado, o nosso Capiba, entrando no meio da conversa, saiu-se com esta prescrição:
– “Pelo que eu estou vendo ela já tomou tudo?!… Só falta mesmo é tomar no c…!!!!!”
Fez-se um silêncio geral e, logo em seguida, uma debandada de circunstantes marcou o cenário. Cada um procurava a sua carteira, ou algo para fazer, ficando sozinho no centro do salão o nosso Capiba, sem nada entender perante tamanha correria.
Sem saber o porquê do não estar agradando, nem muito menos a razão daquela retirada apressada, foi para a sua carteira, pensativo com os seus próprios botões.
Ao colega mais perto ele indagou: “E o que foi que houve por eu ter dito aquela besteira?”.
A resposta veio em tom de conselho:
– Olha, o gerente regional do banco estava contando que a sua senhora está doente e que havia tomado tudo quanto é remédio e não tinha obtido nenhum resultado, aí entra você, no meio da conversa, e vem com aquela recomendação!
– Nós ficamos com a cara no chão, não adianta consertar agora que vai sair muito pior…
De repente, recorda Capiba, eu vi junto a mim um homem que, pelos meus cálculos, tinha mais de dois metros… Com a voz forte e soturna ele profetizou:
– Seu Lourenço!… Aquela que o senhor recomendou tal tratamento é minha mulher… Ela encontra-se no Hospital Osvaldo Cruz, portadora de uma doença desconhecida, entre a vida e a morte… Enquanto vida eu tiver, jamais vou esquecer o seu receituário…
– No mês seguinte ele me ameaçava com uma transferência para o Amapá…