Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas domingo, 27 de agosto de 2017

O SENHOR DAS ARMAS

O SENHOR DAS ARMAS

(Publicada no dia 2.01.2015)

Raimundo Floriano

 

                        Juvenal Antunes Pereira é meu amigo. Conhecemo-nos bem no começo do ano de 1961, eu, formado pela EsSA - Escola de Sargentos das Armas, Turma/1957, transferido do 12º RI, sediado em Belo Horizonte, e ele mais 8 colegas da Turma/1960 – Arnaldo, Bandeira, Coimbra, Dantas, Loiola, Montibeller, Pinheiro e Silva –, vindo diretamente para Brasília, onde formaríamos o embrião do que seria o BPEB - Batalhão de Polícia do Exército de Brasília.

 

                        Apesar desse reduzidíssimo efetivo de Sargentos – 10 ao todo – para dar conta da Administração e da Instrução da Unidade, além dos serviços de Adjunto, Sargento de Dia, Comandante da Guarda, Patrulha, Policiamento e Segurança a Autoridades, todos nós achamos tempos para estudar, cursar o Ensino Médio e, quando isso se tornou possível nos cursos noturnos, conquistar o Grau Superior. Juvenal foi muito mais além!

 

                        Concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade no Elefante Branco e matriculou-se, após aprovação em vestibular, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, campus de Uberaba, que funcionava nos finais de semana. Sacrificando suas horas de lazer e o convívio familiar, Juvenal colou Grau em dezembro de 1969. Em setembro de 1970, deu baixa do Exército, para dedicar-se à Advocacia Criminal e preparar-se para concursos públicos.

 

                        Começava aí sua trajetória de sucesso na vida civil. Aprovado em concurso público de provas e títulos, tomou posse no cargo de Procurador do Distrito Federal, vindo aposentar-se, em 1996, no último cargo da carreira.

 

                        Paralelamente, integra a Secretaria-Geral do Gabinete do Grão-Mestre, como Assessor Jurídico, foi Venerável Ministro do Superior Tribunal Eleitoral Maçônico, por mais de 20 anos, e seu presidente por 10 anos consecutivos, é membro da Academia Maçônica de Letras do Distrito Federal, da Academia de Artes, Ciências e Letras do Grande Oriente do Brasil e da Academia Maçônica Internacional de Letras de Lisboa.

 

                        Autor de vários artigos e livros sobre temas diversos é também Membro da Academia de Letras de Brasília, a cuja posse compareci.  Para fechar com chave de ouro esse invejável currículo, é formado pela Escola Superior de Guerra.

 

                        Tendo eu deixado o Serviço Ativo do Exército há 47 aos, e ele, há 44, nem por isso se viram interrompidos nossos laços fraternais. Pelo menos uma vez por ano, os remanescentes daquele efetivo do BPEB, mais alguns seus colegas da Turma EsSA/1960, nos reunimos, com nossas famílias, na casa do Bandeira, por ser o espaço mais apropriado para esse tipo de grande evento, como aconteceu nas proximidades do último Natal. E, também, no Aniversario de nosso Batalhão, ali comparecemos, para desfilarmos no Pelotão da Saudade. A seguir, três flagrantes das comemorações do Jubileu de Ouro do BPEB, ocorrido em 2010:

 

No destaque, Juvenal

 No destaque, Floriano, Bandeira e Arnaldo

 Juvenal, Éden, Floriano e Macedo 

                        Uma vez PE, sempre PE! 

                        Os últimos anos do Juvenal no BPEB foram por demais espinhosos: Comandante do PIC - Pelotão de Investigações Criminais, tinha em seu mister diário o contato com terroristas, assaltantes de bancos, arrombadores de cofres, emboscadores, frios assassinos e guerrilheiros. Nesse contexto, Juvenal, cumpria seu dever como partícula do Exército que, com sua intervenção vigorosa, procurou estancar a ação deletéria que estava levando a Sociedade Brasileira a um confronto entre irmãos.

 

                        Havia um guerrilheiro codinome Juca, perigosíssimo, atuando na Região Centro-Oeste, que organizava uma grande investida contra a Ordem Constituída e para isso aliciou e plantou elementos diversos nos quartéis, para roubarem armas e munições. Por isso, ganhou o epíteto de O Senhor das Armas!

 

                        No BPEB, o aliciado, a que darei o nome de Assecla, tinha duas missões impostas por Juca: subtrair armas e assassinar o Juvenal!

 

                        Na primeira, teve êxito. Apoderando-se de chaves das Reservas, conseguiu surrupiar 6 metralhadoras INA, 8 pistolas Colt. 45, mais de 10 caixas de munição e umas 20 granadas, além de apetrechos de campanha privativos do Exército, tudo entregue ao guerrilheiro Juca.

 

                        Na segunda, deu azar. Havia uma combinação tácita de que quem fosse preso seria eliminado no xadrez por outro aliciado, para que não abrisse o bico. E o Assecla se deu mal. Preso na rua pela Patrulha, por uma transgressão qualquer, ao ser trancafiado, viu-se apossado de grande terror de ser ali assassinado, razão pela qual procurou o Juvenal e lhe contou tudo, não só o plano de Juca, mas sobre onde lhe entregara o armamento roubado, revelando seus esconderijos e disfarces.

 

                        A prisão de Juca se deu, logo depois, no final de julho de 1969, às 19h, num ponto de ônibus da 207 Sul, e é um dos lances mais emocionantes do livro cuja capa aí vai:

 

 

                        Feita a campana por vários dias, chegou o momento decisivo. No citado ponto de ônibus, Juvenal, encarando o terrorista guerrilheiro, olho no olho – pois era ali que o alvejaria, em caso de reação armada –, deu-lhe o veredicto:

 

                         – Acabou, Juca! Somos agentes do Pelotão de Investigações Criminas da Polícia do Exército! Você está preso! Ponha as mãos na cabeça, ajoelhe-se e não se mexa, porque senão, você morre!

 

                        Era um ou o outro! Até hoje, tanto tempo depois, Juvenal agradece a Juca por não ter reagido e assim salvado a própria vida e, igualmente, a dele Juvenal. Naquele momento, o perigoso guerrilheiro, O Senhor das Armas, o sanguinário, o brabo, o bom-de-sela, o trinca-ferro, preferiu, humildemente, ajoelhar-se e depor seu armamento no solo!

 

                        O tempo fluiu. A situação do País mudou. Juca, agora com seu nome verdadeiro, cuja menção aqui não interressa, passou a ocupar cargos importantes na ordem política nacional. Mas não ficou só nisso.

 

                        Juvenal, embora ocupando o alto cargo de Procurador do Distrito Federal, passou a carregar o estigma de ter sido militar. E cada posto direção a que era indicado, logo surgia uma denúncia de Juca para que fosse destituído.

 

                        Assim foi, em 1998, no Governo de Cristovam Buarque, quando chefiava a Procuradoria Jurídica do Detran.

 

                        E, a partir daí, sucessivamente!

 

                        Aconselho a todos a leitura desse livro, O Senhor das Armas, para que se saiba um pouco do outro lado da História do Brasil, agora que a Lei da Anistia só vale para um lado de seus atores – os derrotados em 1964.

 

                        Em homenagem a nosso passado na caserna, aí vão duas peças musicais que cantávamos e continuamos cantando em solenidades no pátio da Polícia do Exército.

 

                        Canção do Exército (Capitão Caçulo), de Teófilo Magalhães e Alberto Augusto Martins, com a Banda de Música da EsSA:

                         Canção do BPEB, de Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, com a Banda de Música do BPEB:

 

 

 

 


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros