Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quarta, 23 de agosto de 2017

O URANISTA

O URANISTA

(Publicada no dia 24.11.2014)

Raimundo Floriano

 

Símbolo do urânio

 

                        Outro dia, sem ter o que fazer – como sói acontecer a todo aposentado –, eu garrei a maginar como as coisas ocorreram, tão rapidamente, que quase não tô achando tempo nem pra me coçar. Com seis livros no acervo, mantendo, ininterruptamente, esta coluna semanal no Jornal da Besta Fubana, desde sua fundação, em 2008, prefaciando obras de amigos e com artigos publicados no Jornal da ANE – Associação Nacional de Escritores, de ampla circulação, posso dizer que tudo isso me espanta! A coisa começou, pra valer, da forma que adiante lhes conto.

 

                        Eu já andava escrevendo umas coisinhas aqui e ali, meu fraterno colega Vili até me abrira espaço na Voz Ativa, da ASA-CD, quando, no inicio de 1993, o amigo Gilberto Melo, nosso Giba, redator do jornal O Diário de Alagoas, de Maceió, propriedade do então Deputado Cleto Falcão, ora já falecido, me convidou para assinar ali uma página semanal. Com esse apoio moral, meti os peitos, criando a coluna Do Jumento ao Parlamento, título do livro que viria a lançar, em 2003, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados.

 

                        E, relembrando aqueles bons tempos do Diário, vem-me à memória outro colunista do jornal, que também fazia parte de seu corpo editorial, tio do Giba, o grande escritor José Roberto de Melo, atualmente morando no Recife, dono de um texto saboroso e mordaz, com quem muito aprendi ao ler suas criações.

 

                        Uma delas, denominada “O Uranista”, nunca me saiu da lembrança. Como o Diário deixou, desde há muitos anos, de circular, não se tendo notícia de haver alguma coleção dele arquivada, vou tentar reproduzi-la, procurando, pelo menos, ser fiel ao espírito do tema.

 

                        No sertão alagoano – contava o Zé Roberto –, em cidade da qual não me recordo o nome, havia um fazendeiro, Seu Chicão Trombetas, pai de 18 filhos varões, que andava muito preocupado, contrariado, pode-se dizer, com o caçula, o Geribaldo. Na Fazenda Vão da Urucu, de sua propriedade, onde a rotina diária era amansar burro brabo, ferrar touro marrento, laçar boi mandingueiro e botar ferraduras nos cascos das montarias, dentre outros afazeres da lida no sertão bravio, o adolescente só queria saber era de ficar lendo revistas de fotonovelas, tirando mel de abelhas, assistindo a programas matinais de TV, fazendo renda na almofada, ajudando na cozinha, dormindo à tarde, brincando com a molecada do eito à noite, nada de pegar no pesado, solapando, assim, a rústica tradição da Família Trombetas.

 

                        À vista disso, Seu Chicão levou o rapazinho parra consultar um psicólogo e um urologista. Ambos os médicos, após examinarem o mancebo e nada encontrando de anormal, aconselharam o pai a mandá-lo para outras plagas, conhecer novas paragens, talvez a mudança de ambiente e de amizades o ajudasse a modificar seu comportamento.

 

                        O velho, mais que depressa, acatou a abalizada sugestão dos doutores, e até exagerou, mandando o jovem estudar nos Estados Unidos, onde lhe conseguiu uma bolsa para a Universidade do Texas, em Austin, sua capital, por ser aquele Estado famoso pelos caubóis, com exuberante indústria na área da agricultura, petroquímica, energia, informática, eletrônica, ciência biomédica e aeroespacial, aí incluindo os astronautas e as naves interplanetárias.

 

                        Com quatro anos, Geribaldo regressou para a Vão da Urucu assaz modificado, cheio de bossa, esperto, vistoso, queimadão de sol, falando Inglês e distribuindo a todos este cartão de visita:

 

 

                        Foi a glória! Para a Família Trombetas e para todo aquele sertão, que passava a contar com um cientista dentre seus habitantes, especializado em urânio, o que possibilitaria ao Brasil, se assim o quisesse, fabricar sua primeira bomba atômica!

 

                        Mas a bomba que estourou por lá foi bem outra! Certo dia, Geribaldo desapareceu! Procura daqui, procura dali, descobriram que o garoto fugira de Vão da Urucu com um caminhoneiro que puxava coco-da-baía para São Paulo.

 

 

                        Decepção geral!

 

                        – Mas ele não é uranista? – Perguntavam uns!

 

                        – Para isso é que estudou quatro anos na Universidade do Texas? – Indagavam outros.

 

                        E foi aí que um sertanejo metido a ladino, letrado, pegou o último volume do Grande Dicionário Brasileiro Melhoramentos Ilustrado, há muito tempo comendo poeira em sua estante, e desvendou o mistério, ao ler para os circunstantes os seguintes verbetes:

 

                        Uranismo: (S. m.) Homossexualidade, pederastia.

 

                        Uranista: (S. m. e f.) Pessoa que pratica o uranismo.

 


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