Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Memorial Balsense segunda, 11 de julho de 2022

ONZE DE JULHO de 2011 - CENTENÁRIO DO REDESCOBRIMENTO DE BALSAS!
ONZE DE JULHO DE 2011- CENTENÁRIO DO REDESCOBRIMENTO DE BALSAS!

Raimundo Floriano

 

 

 Rua 11 de Julho, antiga Rua do Frito

A seta assinala a casa onde nasci e me criei

 

                        No dia 11 de julho de 2011, comemoramos os 100 anos da chegada do primeiro vapor ao Porto das Caraíbas, assim conhecida a passagem de canoa da antiga Vila de Santo Antônio de Balsas ou, simplesmente, Balsas.

 

                        Esta data foi tão importante para o desenvolvimento do Sul do Maranhão e do Norte de Goiás – atual Tocantins –, quanto foi a chegada de Dom João VI com sua Corte ao Rio de Janeiro em 1808, para o progresso e consolidação do Brasil como Nação, e o lançamento do Sputnik, primeiro satélite artificial da Terra, para o incremento das telecomunicações.

 

                        Até então, nossos conterrâneos sertanejos viviam completamente isolados dos grandes centros comerciais e culturais do País. O único meio de transporte rumo ao litoral era a balsa – daí o nome da cidade –, feita de talos de buriti, cujo percurso ao sabor das águas do Rio Balsas, até Floriano (PI), distante 720 quilômetros, era vencido em, no mínimo, 10 dias. Era a balsa que levava a pequena produção agropecuária da região, passageiros diversos e também os estudantes em busca de maiores conhecimentos.

 

                        A volta era feita de vapor ou lancha, que subiam o Rio Parnaíba até Benedito Leite (MA), confrontante com Uruçuí (PI), distantes 360 quilômetros de Balsas. Dali, só havia dois meios de transporte para os sul-maranhenses: nas costas de cavalos, burros e jumentos, ou a pé.

 

                        Por isso, aquele esquecido sertão ressentia-se da inexistência de muitos produtos manufaturados e, principalmente, da ausência do sal, indispensável à alimentação do homem e à ração do rebanho vacum.

 

                        Havia até uns regatões que subiam o Rio Balsas com seus batelões, pequenos botes impulsionados a remo e vara, transportando cerca de 10 toneladas de tripulação e mercadorias, negociando de porto em porto, em jornadas que, de Benedito Leite a Balsas, duravam meses.

 

                        Maioria dos que saíam para estudar só retornava após a formatura, tamanha era a dificuldade encontrada para essa volta.

 

                        O texto a seguir foi extraído de meu último livro, De Balsas para o Mundo, no episódio O Vapor.

 

“No final da década de 1910, os batelões se encontravam completamente ultrapassados, tal era o volume e a intensidade do comércio que se praticava na então Vila Nova de Santo Antônio de Balsas, acrescido do fluxo de viajantes, tudo isso demandando uma outra forma de transporte mais eficiente e competitivo. Havia, ainda, a necessidade da conquista, pelo Poder Público, daquela região.

 

“Eloy Coelho Netto, em seu livro História do Sul do Maranhão, menciona a Lei nº 170, que previa a contratação dos serviços de uma companhia de navegação fluvial, especialmente para subir o rio e estabelecer navegação regular para Balsas e Vitória do Alto Parnaíba.

 

“Contratada pelo DNPRC - Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais, a empresa Oliveira, Pearce & Cia., sediada em Teresina e dirigida pelo Coronel Pedro Tomás de Oliveira, seu principal sócio, assumiu a responsabilidade do ingente encargo, empregando nesse desafio o seu melhor vapor, o Antonino Freire, sob o comando de Thomas William Pearce, sócio da firma.

 

“O vapor Antonino Freire, equipado com poderoso guincho, encetou sua viagem desbravadora removendo pedras, tocos, galharias marginais e tudo o mais que obstruísse o canal. Media também a profundidade – calado – nos trechos mais rasos, no intuito de orientar a fabricação dos novos barcos que por ali transitariam. Elaborou-se um estudo completo para os futuros navegantes.

 

“Considero essa viagem inaugural como o lançamento, pelos russos, do primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik, que escancarou as portas para a corrida espacial, culminando, até agora, com a conquista da Lua.

 

“Foram dezessete dias de árduo trabalho, em que a tripulação, toda ela impregnada de entusiasmo pela aventura de que participava, dedicava-se com alegria e esmero ao empreendimento, na ideia fixa da vitória final, que era a chegada ao Porto das Caraíbas.

 

“E isso aconteceu no dia 11 de julho de 1911!

 

“Essa é a data que a Prefeitura Municipal de Balsas tem como aceita, referendada pela Câmara Municipal que, muito depois, renomeou o logradouro onde nasci, a Rua do Frito, no coração histórico da cidade, denominando-a Rua 11 de Julho!

 

“Também nessa memorável data, o Comandante Thomas William Pearce inscreveu, com heroísmo e dedicação, de modo indelével, seu nome na História de Balsas!

 

“Estava cumprida a missão! A navegação Balsas – Parnaíba, ida e volta, perdera seu mistério! E o movimento no nosso rio se intensificou! E com uma novidade adicional: a barca a reboque dos vapores e lanchas.

 

“A partir de então, a navegação do Rio Balsas ficou verdadeiramente estabelecida. Suprindo a cidade de sal, fez deslocar-se para ali o eixo do comércio sul-maranhense!

           

“Já naquele tempo, a chegada duma embarcação em qualquer paragem era sinônimo de festa, alegria e muita confusão. Ainda mais se levando em conta a quase inexistência da força policial. Os cabarés da vida boêmia eram palco de grandes noitadas, bebedeiras e memoráveis arranca-rabos. Os que mais aprontavam eram os embarcadiços sem qualificação náutica alguma, contratados temporariamente, sem qualquer compromisso com a Marinha Mercante. Talvez por isso mesmo, tais baderneiros ficaram, desde cedo, conhecidos pela alcunha de ‘porcos-d’água’.

 

 “Desde o advento do primeiro vapor, era enorme o afluxo de pessoas ao Porto da Rampa, para assistirem à chegada ou à partida das embarcações, com seus fortes apitos, triunfais na vinda, saudosos na despedida. Virou uma das diversões da cidade.

 

“Retomemos o fio da meada!

 

“Regressando o vapor Antonino Freire a Teresina, com todos os estudos e observações anotados durante a viagem pioneira, cuidou a empresa Oliveira, Pearce & Cia. de mandar construir um barco com características especiais para navegar nas águas do Rio Balsas. Encomendou-o, então, aos estaleiros da empresa Izaac Abella & Michel, sediada em Liverpool, Inglaterra.

 

“Assim nasceu o vapor Joaquim Cruz!

 

 

Vapor Joaquim Cruz

 

“A chegada triunfal do Joaquim Cruz em sua primeira viagem a Balsas, sob o comando de Thomas William Pearce, aconteceu no dia 16 de abril de 1916, às cinco horas da tarde!

 

“A rampa do Porto das Caraíbas, ou Porto da Rampa, ficou apinhada por grande multidão que acorrera ao local para recepcionar o grande hóspede.

 

“No dia seguinte, mais de 100 pessoas reunidas no edifício da Câmara Municipal dirigiram-se para bordo do Joaquim Cruz, de onde o Comandante Thomas William Pearce se fez acompanhar de volta àquele edifício, no qual foi realizada Sessão Solene, quando falaram alguns vereadores e o homenageado.

 

“Terminada a parte oficial das honras prestadas ao comandante, um lauto banquete para 150 talheres foi-lhe oferecido na residência do Capitão Firmino de Souza Lima, com a presença de senhoras, senhoritas e cavalheiros representativos da população local.

 

“O Joaquim Cruz foi um vapor especial construído na Inglaterra, assim como outros, vindos do exterior. Mas os criativos brasileiros logo puseram mãos à obra. Em Floriano, o armador Afonso Nogueira construiu o vapor Afonso Nogueira e a lancha Rosicler. Em Teresina, Félix Pessoa, personagem deste livro, construiu o vapor Rio Balsas e as lanchas Teresina e Rio Poty. Até as caldeiras eram fabricadas no Brasil. Apenas as máquinas eram importadas da Inglaterra ou da Alemanha!

 

“O vapor Joaquim Cruz ficou ligado a Balsas pela primeira viagem que fez na Bacia do Parnaíba, tendo nossa cidade como destino.”

 

                        Portanto, salve o vapor Antonino Freire, que conquistou o Rio Balsas! Salve o vapor Joaquim Cruz, que fez a primeira viagem Oceano Atlântico – Balsas, para isso especialmente construído! Salve o Comandante Thomas William Pearce, intrépido navegante! E salve minha Rua do Frito, hoje Rua 11 de Julho, por ser o marco dessa grande conquista fluvial!

 

                        Vocês, meus caros leitores, hão de me questionar:

 

                        – Raimundo, com cem anos, a Rua 11 de Julho, no coração histórico da cidade, parece não ter evoluído nadica de nada! O que houve?

 

                        E eu lhes respondo:

 

                        – Amigos, este é um pequeno retrato do abandono e esquecimento em que ora vive meu sertão sul-maranhense. Embora com mais de 80 mil habitantes, Balsas está completamente isolada do restante do mundo. Sem linha aérea regular – que existia há 40 anos –, sem estradas dignas desse nome – que existiam há 25 anos – e sem a navegação fluvial – extinta há 50 anos, com a construção da Barragem de Boa Esperança sem eclusas –, os governantes dão-nos a impressão de que não existimos. Não aparecem por lá nem pra pedir o voto. Fazem-no pela TV, pela Internet ou por intermédio de cabos eleitorais. É o descaso total.

 

                        Isso não apagará, jamais, o amor que temos por esse querido rincão.

 

Homenagem da Filatelia:

 

 

À direita, a casa verde onde nasci e me criei


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