Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial quarta, 16 de junho de 2021

OS BRASILEIROS: ALEIJADINHO

 

 

OS BRASILEIROS: Aleijadinho

José Domingos Brito

 

 

Antônio Francisco Lisboa nasceu em Ouro Preto, MG, em 1738. Carpinteiro, arquiteto, entalhador e o mais destacado escultor do período colonial. Suas obras e esculturas em pedra-sabão, entalhes em madeira, altares, retábulos, igrejas e peças de arte sacra encontram-se em diversas cidades históricas de Minas Gerais. Filho da escrava Isabel e do português e mestre de carpintaria Manuel Francisco Lisboa. Com o pai e o pintor João Gomes Batista aprendeu as noções básicas de arquitetura, desenho e escultura.

 

Seus primeiros estudos, além de latim, religião e música, se deram com os padres de Vila Rica. Em meados do séc. XVIII, graças ao garimpo de ouro, a cidade foi palco de um movimento artístico, onde ele pode desenvolver as atividades de arquiteto e escultor. Porém, na condição de mestiço, seu talento não era reconhecido, nem seus trabalhos recebiam sua assinatura. Só mais tarde, quando a fama chegou a outras cidades e sua obra se encontrava em pleno esplendor, é que seu nome foi reconhecido não só como artista, mas também como animado festeiro e dançarino. Seu primeiro trabalho se deu em 1752 com um chafariz no Palácio dos Governadores de Ouro Preto. Em 1756 viajou para o Rio de Janeiro, onde conheceu grandes obras arquitetônicas, que vieram a influenciar suas obras. 2 anos após, esculpiu mais um chafariz no Hospício da Terra Santa, considerada a primeira obra no estilo “barroco tardio”.

 

Em seguida fez diversos trabalhos em igrejas, tais como a matriz de São João Batista (hoje, Barão de Cocais) e a fachada da Igreja do Carmo, em Ouro Preto. Sua primeira obra de vulto se deu em 1766 com a ornamentação da igreja da Ordem Terceira de São  Francisco, em Ouro Preto. Em princípios de 1770 organizou sua oficina, que foi regulada e reconhecida pela Câmara de Ouro Preto em 1772, e passou a comandar uma equipe de artesãos e dar pareceres sobre obras arquitetônicas de igrejas. Em 1977 foi diagnosticado com a doença hanseníase, deformando seus pés e mãos. No entanto, não deixou de trabalhar. A partir daí as peças foram talhadas com a ajuda dos auxiliares e quando seu talento era exigido, amarrou correias de couro nas mãos para segurar o cinzel, o martelo e a régua. O apelido “Aleijadinho” passou a vigorar a partir de 1790. Uma de suas obras mais expressivas -66 esculturas de madeira encenando a “Via sacra” em Congonhas do Campo- foi concluída em 1799. No ano seguinte e no mesmo local iniciou as esculturas dos “Doze Profetas” em pedra-sabão no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, cuja planta imita o santuário de Bom Jesus de Braga, em Portugal.    

 

Em Ouro Preto a Igreja de São Francisco de Assis, considerada uma obra prima do barroco brasileiro, foi iniciada em 1776 e concluída em 1794. Além da planta da igreja, elaborou a talha; a escultura do frontispício; dois púlpitos com figuras de santos; pia batismal; altar principal com as imagens da Santíssima Trindade e dois anjos. A fachada conta um vistoso medalhão com a imagem do santo. Seu estilo é marcado pela presença do dourado e repleto de detalhes, como arabescos e “rocalhas” imitando rochedos, grutas e produtos brutos da natureza, construídas com pedras, conchas etc. Os anjos e querubins têm formas arredondadas; as torres apresentam um recuo em relação à fachada das igrejas, constituindo-se num ícone do barroco brasileiro.   

 

Sua vida é cercada de lendas e controvérsias, pois todos os dados disponíveis foram extraídos de uma biografia escrita em 1858 por Rodrigo José Ferreira Bretas, 44 anos após sua morte 18/11/1814. Os críticos tendem a considerá-la um pouco fantasiosa; acham que sua personalidade e obra foi manipulada e romantizada com o intuito de elevá-lo à condição de ícone da brasilidade. No entanto, é o único registro existente, sobre o qual foram feitas as biografias posteriores. Após sua morte, passou por um período de relativo obscurecimento, não obstante ter sido comentado por alguns viajantes e eruditos na primeira metade do séc. XIX, como Auguste de Saint-Hilaire e Richard Burton. A fama do artista voltou com força em princípios do séc. XX através das pesquisas de Affonso Celso e Mário de Andrade.

 

Os modernistas, engajados num processo de criação de um novo conceito de brasilidade, encararam-no como um paradigma nacional: um mulato, símbolo do sincretismo cultural e étnico brasileiro. Mário de Andrade, no texto Aleijadinho (1928), entusiasmado com sua história e obra, chegou a criticar os europeus que comentavam suas obras sem considerá-lo um gênio. A partir dessa época muita bibliografia foi produzida nesse sentido, criando uma aura assumida pelas instâncias oficiais da cultura nacional. Tais estudos foram ampliados posteriormente por pesquisadores, como Roger Bastide, Gilberto Freyre, Rodrigo Melo Franco de Andrade entre outros. O artista na opinião de alguns críticos: German Bazin louvou-o como o “Michelangelo brasileiro”; Lezama Lima acha que ele é “a culminação do Barroco americano”; Carlos Fuentes considera-o o “maior ‘poeta’ da América colonial”; Regis St. Louis destaca-o na história da arte internacional; John Crow coloca-o ao lado dos criadores mais dotados deste hemisfério em todos os tempos.   

 

A quantidade de obras que lhe foram atribuídas tem variado ao longo do tempo, devido mesmo ao valor que adquiriram no mercado. Um catálogo geral publicado por Marcio Jardim em 2006, conta com 425 peças. Um nº muito superior as 163 obras contadas em 1951 numa primeira catalogação. Um estudo realizado por Myriam de Oliveira, Antonio Batista dos Santos e Olinto Rodrigues e publicado pelo IPHAN-Instituto do Patrimônio Artístico Nacional, em 2003, contestou centenas dessas atribuições. Guiomar de Grammont não acredita nestes números e alegou ter “razão para desconfiar que existe um conluio entre colecionadores e críticos para valorizar obras anônimas". Independente dessa controvérsia, seu prestígio junto à crítica especializada acompanha seu prestigio entre os leigos. Em 2007 o Centro Cultural Banco do Brasil realizou a exposição “Aleijadinho e seu tempo: fé engenho e arte”, atraindo um público recorde de 968.577 visitantes.

 

Sua história já foi retratada no cinema e na TV. Em 1915 Guelfo Andaló dirigiu a primeira cinebiografia; em 1968 foi interpretado por Geraldo Del Rey no filme Cristo de Lama; por Maurício Gonçalves no filme Aleijadinho:  paixão, glória e suplício (2003) e Stênio Garcia num Caso Especial da TV Globo. Em 1978 foi tema de um documentário -O Aleijadinho- dirigido por Joaquim Pedro de Andrade e narrado por Ferreira Gullar. Em 1968 foi inaugurado o “Museu Aleijadinho”, em Ouro Preto, onde é realizada regularmente a “Semana do Aleijadinho”, evento reunindo artistas e historiadores com palestras e exposições. Dentre suas várias biografias, destacam-se: O Aleijadinho e a escultura barroca no Brasil (Record, 1963), de Germain Bazin; Vida e obra de Antônio Francisco Lisboa: o Aleijadinho (Cia. Ed. Nacional, 1979), de Sylvio Vasconcellos; O Aleijadinho: sua vida, sua obra, seu gênio (Difel, 1984), de Fernando Jorge; Aleijadinho e o aeroplano: o paraíso barroco e a construção do herói (Civilização Brasileira, 2008), de Guiomar de Grammont.

 

Documentário – O Aleijadinho

 

 


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