Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 17 de agosto de 2020

OS BRASILEIROS: FRANCO DA ROCHA

 

OS BRASILEIROS: Franco da Rocha

Francisco Franco da Rocha nasceu em Amparo, SP, em 23/8/1864. Médico psiquiatra, escritor, jornalista, ornitólogo e um dos pioneiros no tratamento de doenças mentais no Brasil. Foi também precursor da psicanálise, tendo inspirado e amparado Durval Marcondes, considerado fundador do movimento psicanalítico brasileiro, além de ter idealizado, fundado e dirigido o Hospital Psiquiátrico do Juqueri, durante 25 anos (1898-1923).

Diplomado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1890, concluiu o curso como interno (médico-residente) na Casa de Saúde Doutor Eiras. Vale ressaltar que Juliano Moreira e ele foram os primeiros médicos a se dedicarem integralmente à pesquisa e tratamento das doenças mentais no Brasil e construírem as duas primeiras instituições permanentes de tratamento destas doenças no Rio de Janeiro e em São Paulo respectivamente. Tais instituições foram criadas quase ao mesmo tempo em dezembro de 1852: “Hospício D. Pedro II”, no dia 5, no Rio de Janeiro e “Asilo Provisório de Alienados da Capital de São Paulo”, no dia 14. No Rio de Janeiro, o “hospício” logo foi instalado em majestoso prédio próximo ao centro da cidade; já em São Paulo foi instalado provisoriamente e só veio a ter sede definitiva em 1896, através do empenho de Franco da Rocha.

Com apoio dos governos de Cerqueira César e Bernardino de Campos, Dr. Franco conseguiu instalar a sede projetada pelo arquiteto Ramos de Azevedo, num amplo espaço de 170 hectares às margens do Rio Juqueri nos arredores da zona norte da capital. A construção e o desenvolvimento do Hospício Juqueri transformou radicalmente a região, tornando-a no Município de Franco da Rocha, criado em 1934. Em meados do século XX chegou a ser o maior hospital psiquiátrico da América Latina. O “Hospício” foi inaugurado em 1898 e no ano seguinte ele se mudou para o local junto com a esposa -Leopoldina Lorena Ferreira- e tiveram 6 filhos. Passou boa parte da vida residindo naquele espaço bucólico, onde desenvolveu o gosto pela ornitologia, vindo a escrever um opúsculo sobre o pássaro tico-tico. Foi o primeiro professor de Neuriatria e Psiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo, proferindo sua aula inicial, em 1919, sobre a psicanálise freudiana. Assim, foi pioneiro na introdução de Freud no Brasil. No ano seguinte publicou o livro O Pansexualismo da Doutrina de Freud, republicado em 1930 como A Doutrina de Freud. O tema despertou o interesse de seu aluno Durval Marcondes, que obteve seu apoio na iniciativa de fundar, em 1927, a primeira instituição latino-americana voltada ao estudo e a divulgação da psicanálise: a Sociedade Brasileira de Psicanálise-SBP, da qual, além de cofundador, foi o primeiro presidente. Mais tarde, quando se aposentou, as relações entre Marcondes e o meio psiquiátrico tornaram-se mais difíceis, o que veio favorecer posteriormente que a SBP acolhesse membros não médicos.

No Juqueri, instituiu o regime de liberdade para os doentes mentais. Na rotina hospitalar, introduziu a terapêutica ocupacional laborativa nas diversas modalidades, especialmente no setor agrícola. Implantou pela primeira vez na América do Sul, em 1908, o sistema de assistência familiar, com a instalação de pacientes em ambiente doméstico, aos cuidados de sitiantes da região no perímetro do hospício. Pouco depois acrescentou 5 colônias autônomas, um pavilhão para menores anormais e um laboratório de Anatomia Patológica. Depois insistiu para que fosse construído um Manicômio Judiciário, reservado aos alienados criminosos, concretizado mais tarde, em 1927. Na área de estudos, pesquisou a psicose maníaca-depressiva e a paranoia, também estudada por Juliano Moreira e Afrânio Peixoto. Passou em revista o quadro da epilepsia psíquica, na ausência de crises motoras, acarretando tantas vezes reações violentas e anti-sociais e as manifestações polimorfas da histeria.

Segundo os colegas, “tinha pelos insanos uma profunda meiguice, uma ilimitada paciência, uma enorme dose de simpatia e piedade”. Segundo ele próprio: “Desdobrar a minha atividade em proveito dos infelizes que carecem de conforto, foi para mim um grande prazer durante a parte mais forte da minha existência”. Costumava advertir: “Nunca se deve contrariar o delírio dos doentes. Devemos sempre nos adaptar ao seu meio, a fim de lhes inspirar confiança. Às vezes é até de boa técnica delirar com eles”. Certa vez, uma paciente delirante, no saguão do Hospício, relutava em ser internada. Declarava que ”daquele salão de baile na Corte, onde se encontrava, ela, uma princesa, só poderia retirar-se dançando ao som daquela música que a orquestra executava”. Ele atendeu-a pacientemente e com uma reverência, pediu-lhe: “Dá-me a honra, alteza, desse minueto?. A paciente satisfeita e feliz, de braço dado com ele, em movimentos de dança, entrou no Hospício. Em 1928, por iniciativa de discípulos e amigos, foi erguido seu busto de bronze no saguão do Hospital. Conta-se, que um velho negro, dos mais antigos do Hospital, sempre se ajoelhava e orava diante do busto de Franco da Rocha. Quando o advertiram de que o busto não era de um santo, mas do diretor, respondeu: “Bem sei disso. Mas é isso mesmo, ele é santo e é o nosso santo. Por isso, não deixo de rezar cada vez que posso junto dele”.

Alguns estudiosos afirmam que, embora muito citado, poucos se debruçaram sobre sua produção intelectual, limitando-se a uma análise superficial de sua biografia, a qual teria sido marcada pela fundação e administração do Hospital do Juqueri. Porém, é na sua produção de livros, artigos e ensaios publicados em revistas nacionais e estrangeiras que se encontra uma fértil seara emblemática de sua eloquência e sagacidade, a qual sugere sua atuação como mais um pensador social dentre os nomes da medicina brasileira na passagem do século XIX para o XX. Segundo Yolanda C. Forghieri, ele foi um dos pioneiros da Psicologia Social no Brasil, tendo estudado as desordens mentais das multidões, os transtornos psíquicos relacionados à raça negra, as epidemias de loucura religiosa. É considerado, também, um dos formuladores da nossa Psiquiatria Forense, pontificando acerca das questões médico-legais relacionadas com os distúrbios da mente. Tais contribuições ficaram registradas no livro Esboço de psiquiatria forense, publicado em 1904 e traduzido para o alemão.

Como escritor não deixou muitos livros; preferia uma comunicação mais direta com o público. Era um jornalista vocacionado e divulgou noções de psiquiatria e áreas correlatas, através de numerosos artigos na imprensa leiga, colaborando nos jornais “O Estado de São Paulo” e “Correio Paulistano”, durante 30 anos. Mas não descuidava da área científica e contribuiu com um capitulo no Tratado Internacional de Psicopatologia, organizado por P. Marie, publicado em princípios do século passado, além de inúmeros artigos nas revistas técnicas nacionais e estrangeiras. Após sua aposentadoria, em 1923, passou a colaborar mais permanente com os jornais e revistas e faleceu em 8/11/1933.

Era um homem culto, dominava diversos idiomas e leitor voraz de obras literárias e sociológicas. Manteve contatos com a turma de Semana de Arte Moderna de 1922 e chegou a receber Mario de Andrade no Juqueri para umas experiências musicais com os pacientes. Foi através desse convívio com os escritores e artistas que ingressou Academia Paulista de Letras em 1930. O sociólogo Paulo Silvino Ribeiro publicou em 2010, nos “Cadernos de História da Ciência” extenso artigo: Franco da Rocha e publicação de suas ideias: uma análise do meio social na explicação etiológica da loucura, onde sintetiza sua atuação e sua representatividade no cenário nacional: “Se a medicina contribuiu para a institucionalização das Ciências Sociais no Brasil, é certo que a Psiquiatria seria um dos ramos que a representou neste processo, tendo na figura de Franco da Rocha um dos principais nomes nos estudos psiquiátricos na passagem do século XIX para o XX”.

 


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