Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 15 de fevereiro de 2021

OS BRASILEIROS: GARRINCHA (ARTIGO DE JOSÉ DOMINGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

OS BRASILEIROS: Garrincha

Manoel Francisco dos Santos nasceu em Magé, RJ, em 28/10/1933. Futebolista, conhecido como o melhor driblador da história do futebol. Se a graça do futebol está no drible, Garrincha é o maior jogador. Mesmo na Seleção Brasileira, voltava a driblar o jogador no mesmo lance só pela brincadeira em si. Ficou famoso por seu notável controle de bola, imaginação, habilidade de drible e “finta”. No drible, o jogador realiza um movimento no qual ele passa com a bola e consegue fazer o passe. Na “finta” é quando o jogador realiza um movimento indicando uma ação e atua noutra. Geralmente o adversário fica desestabilizado e pode até cair.

Deste caráter “brincalhão” foi extraída uma pérola do escritor Eduardo Galeano: “Em toda a história do futebol, ninguém deixou mais pessoas felizes. Quando ele estava lá, o campo era um picadeiro de circo; a bola, um bicho amestrado; a partida, um convite à festa. Garrincha não deixava que lhe tomassem a bola, menino defendendo sua mascote – a bola – e ela e ele faziam diabruras que matavam as pessoas de riso: ele saltava sobre ela, ela pulava sobre ele, ela se escondia, ele escapava, ela o expulsava, ela o perseguia. No caminho, os adversários trombavam entre si, enredavam nas próprias pernas, mareavam, caíam sentados”. Com sua literatura, Galeano fez um documentário sobre Garrincha. Não por acaso, foi ele o criador do “olé” no futebol. João Saldanha conta que em 1957, no México, num amistoso contra o River Plate, ele fez “gato e sapato” do jogador Vairo: “toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible (a “finta”) e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamavam ‘Ôôô-lé!’ Foi ali naquele dia que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’”.

Era o 16º filho de uma família humilde e o apelido –nome de um passarinho- foi dado pela irmã. Uma poliomielite na infância deixou-lhe com as pernas tortas e parecia incapacitado para o futebol, mas aos 14 anos começou a jogar como amador no Esporte Clube Pau Grande. Sem chance de continuar no time, entrou para o Serrano Football Club da cidade vizinha. Vendo-o jogar, um “olheiro” ex-jogador do Botafogo levou-o para um teste. Após uns dribles em Nilton Santos, o craque da época, foi contratado em 1953 e permaneceu até 1965. Na estreia contra o Bonsucesso, no Campeonato Carioca, o Botafogo venceu por 6×3, quando ele fez 3 gols. O Botafogo foi campeão em 1957, sendo que em 26 jogos, ele marcou 20 gols. Era criticado por driblar demais; porém sua atuação no clássico contra o Fluminense em fins de 1957 deixou claro que ele não poderia ficar fora da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, em 1958.

Sua vida pessoal sempre foi atabalhoada. Separou-se da mulher em 1963, com quem teve 7 filhos, e assumiu o namoro com a cantora Elza Soares, com que se casou em 1966. O tumultuado casamento durou até 1982, quando deu-se a separação devido a ciúmes, traição e brigas decorrentes do alcoolismo crônico que o perturbava. Teve mais um filho com Elza; outro com uma namorada e mais um na Suécia: Ulf Lindberg, numa transa extraconjugal com uma jovem na cidade de Umea durante uma excursão do Botafogo em 1959. Ao todo, calcula-se que teve uns 14 filhos.

Na Copa de 1958 foi um dos principais jogadores, mas só foi escolhido na 3ª partida do torneio. Pouco antes do inicio da Copa havia marcado um de seus gols mais famosos, contra a Fiorentina na Itália. Driblou quatro defensores e o goleiro, antes de parar na linha de gol. Mesmo com o gol aberto, em vez de chutar para o gol, ele ainda driblou o zagueiro Enzo Robotti antes de marcar o gol. A comissão técnica da Seleção ficou aborrecida com a jogada irresponsável e isso provavelmente levou-o a não ser escolhido nas duas primeiras partidas. Logo no inicio da 3ª partida foi decidido um ataque direto do pontapé inicial. Ele recebeu a bola, driblou 3 jogadores e chutou na trave. Em menos de um minuto de jogo, pegou de novo a bola e criou uma chance para Pelé, que também chutou na trave. O jogo foi tão impressionante que ficou marcado na imprensa internacional como “os três minutos mais incríveis do futebol de todos os tempos”. Este foi o cartão de visitas de Garrincha à Copa do Mundo de 1958. O Brasil venceu a partida por 2×0.

Na Copa Mundial de 1962, ao substituir Pelé, tornou-se ídolo nacional. Dos 14 gols do Brasil, 6 passaram pelos seus pés: marcou 4 e encaminhou 2. Na Copa ganhou a “Bola de Ouro” (melhor jogador do torneio), a “Chuteira de Ouro” (artilheiro) e o troféu da Copa do Mundo. Por isto, a Copa de 1962 ficou conhecida aqui, como a “Copa do Garrincha”. O jornalista Sandro Moreyra descreveu seu desempenho: “De repente parou de brincar, virou sério, compenetrado de que a conquista da Copa dependia dele. Quase sozinho, ganhou a Copa. Fez o que nunca tinha feito. Gols de cabeça, pé esquerdo, folha-seca. E driblou como um endiabrado, endoidando os adversários”. No jogo contra a Inglaterra ele roubou a bola de Didi, fez uma pausa, e, de fora da área, acertou um chute folha-seca no ângulo, fazendo o 3º gol. A imprensa britânica disse que “Garrincha era Stanley Matthews, Tom Finney e um encantador de serpentes, todos juntos”. Na semi-final, contra o Chile, foi decisivo, marcando dois dos 4 gols da vitória por 4×2. Seu primeiro gol foi um chutaço de fora da área com o pé esquerdo; o segundo, de cabeça. Uma manchete do jornal “El Mercurio” perguntava: “De que planeta veio Garrincha?”.

A Copa do Mundo de 1966 mostrou Garrincha visivelmente abatido e fora de forma. Uma lesão no joelho atrapalhava seus movimentos. Além disso, os europeus estavam dispostos a não deixar o Brasil vencer a Copa pela 3ª vez consecutiva e usaram a tática de parar o jogo sempre que possível na porrada. Mesmo assim, ele fez um gol na 1ª partida, conta a Bulgária, e Pelé fez o segundo, vencendo por 2×0. No jogo seguinte, o Brasil perdeu por 3×1 para a Hungria. Foi seu último jogo internacional e única vez em perdeu uma partida com a seleção brasileira. Contam-se histórias engraçadas a seu respeito: no jogo contra Rússia, em 1958, os jornalistas souberam que ele era desprovido de educação formal e um deles quis testar seus conhecimentos. Perguntou-lhe se ele sabia o que significava a sigla CCCP na camisa soviética. A resposta foi imediata: “Cuidado com o crioulo Pelé!”. Noutra ocasião, na Alemanha, ele gostou de um rádio de pilha e quis comprá-lo. Mas foi advertido por um colega gozador: “Mas você entende a língua alemã? Esse rádio não vai transmitir em português no Brasil!”.

O fim da carreira começou em 1963 com o agravamento dos problemas contínuos da osteoartrite, causando inflamação cartilagem e inchaço do joelho. A cirurgia, diversas vezes recomendada, finalmente foi realizada em 27/9/1964. Mas via-se que já não era o mesmo jogador. Em 1966 ainda passou alguns meses jogando no Corinthians; outros no Flamengo e no Olaria enquanto vai decaindo como jogador e o álcool vai lhe derrubando como pessoa. Em São Paulo, o Jornal da Tarde de 26/10/1966 deu a manchete: “Mané veio para ser a alegria do Corinthians, não foi. É um homem triste que só vê a bola em treino no Parque São Jorge”. Seu último gol se deu no jogo do Olaria com o Comercial em Ribeirão Preto, em 23/3/1972, encerrando a carreira profissional. A partir daí realizou alguns jogos de exibição até 1982 e faleceu em 20/1/1983, aos 49 anos, vitimado por uma cirrose hepática.

Milhares de pessoas foram às ruas seguir a procissão fúnebre, em uma linha desde o Maracanã até o cemitério. No seu epitáfio lê-se: “Aqui descansa em paz aquele que era a alegria do povo”. No dia seguinte o poeta Carlos Drummond de Andrade deixou registrado sua façanha na crônica publicada no Jornal do Brasil: “Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é sobretudo irônico, farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo que nos alimente o sonho”.

Considerado um dos maiores jogadores de todos os tempos, foi votado na Seleção de Futebol do Século XX por 250 dos escritores e jornalistas de futebol mais respeitados do mundo e incluído na Seleção do Todos os Tempos, da FIFA, em 1998. Foi homenageado com seu nome no Museu do Estádio do Maracanã e no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Em 2010, torcedores do Botafogo custearam uma estátua de 4 metros e meio, esculpida pelo artista plástico Edgar Duvivier, localizada frente ao Estádio Olímpico Nilton Santos, no Rio de Janeiro. Conta ainda com uma filmografia: Garrinha, alegria do povo (1962), documentário de Joaquim Pedro de Andrade; Mané Garrincha (1978), documentário de Fábio Barreto; Pelé e Garrincha: Deuses do Brasil (2002), documentário da BBC; Garrincha: estrela solitária (2005), filme baseado na biografia escrita por Ruy Castro, em 1995, uma biografia de fôlego considerada a mais completa até o momento, baseada em muita documentação e 500 entrevistas. Em 2016 foi apresentado o espetáculo musical “Garrincha: uma ópera das ruas”, dirigido por Bob Wilson, reapresentado pela TV Sesc, em dezembro de 2020.

 

 

 


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