Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 07 de dezembro de 2020

OS BRASILEIROS: HENRIQUE DIAS (CRÔNICA DE JOSÉ DOMINGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

OS BRASILEIROS: Henrique Dias

Henrique Dias nasceu no Recife, PE, em princípios do século XVII. Negro liberto, mestre-de-campo, revolucionário, cavaleiro da Ordem de Cristo e um dos fundadores do Exército Brasileiro. Há pouca documentação sobre sua origem e as informações confiáveis aparecem somente em 1633, quando se apresentou ao general Matias de Albuquerque, como voluntário, para combater a “invasão holandesa” no Recife. Assim, tornou-se o capitão de uma tropa e recebeu a patente de governador dos negros e mulatos do Brasil.

 

 

Também não há retrato seu autêntico, conhecido. Os que aparecem nos compêndios de história e livros eruditos são pura fantasia. Segundo Osvaldo de Camargo, em seu livro O Negro Escrito (1987), é o primeiro negro que escreveu um texto no Brasil e, por conseguinte, “o primeiro afro-brasileiro letrado”. Combateu os holandeses em Pernambuco, Bahia, Alagoas e Rio Grande do Norte, não perdendo sequer uma batalha. Tomou parte, entre outras, nas batalhas das Tabocas, de Casa Forte, de Cunhaú e dos Guararapes. Sua primeira ação militar foi a defesa do Engenho São Sebastião, quando contou com a ajuda de vinte negros e de outros capitães, onde recebeu o primeiro dos seus 8 ferimentos lutando contra os holandeses. Num desses ferimentos perdeu a mão esquerda na batalha e continuou lutando com a direita.

Estabeleceu-se num local do Recife (atual bairro de Santo Antônio) próximo dos inimigos. Ficava tão perto dos holandeses que, às vezes, o duelo não era na bala e sim com palavras de desafio e injúria. De seu local realizou várias investidas importantes contra os batavos. Em 1635, quando os holandeses tomaram o Forte Bom Jesus, ele foi visto como escravo e não ficou entre os prisioneiros mais bem guardados. Fugiu e se reuniu às tropas pernambucanas que recuavam para o sul. Atuou na Bahia como capitão-do-mato e combateu quilombos. Passou a comandar um regimento de 500 negros; recebeu o título de fidalgo e o hábito da Ordem Militar de Cristo e recebia um soldo compatível com o posto de comandante. Enquanto isso, Maurício de Nassau consolidava a vitória em Pernambuco e governou por oito anos o “Brasil Holandês”.

Seu retorno à Holanda em 1644, precipitou a insurreição pernambucana. Os portugueses enviaram as tropas acantonadas na Bahia, incluindo a comandada por Henrique Dias. Seu batalhão, conhecido como “Terço da Gente Preta”, era composto de 500 negros escravos de origem africana e permaneceu em atividade como parte das tropas regulares de Pernambuco até meados do século XVIII. Em fevereiro de 1649, o coronel Van Den Brinck e seus 3500 homens receberam uma artilharia e a ordem para desalojar os pernambucanos dos montes Guararapes. Dias demonstrou excepcional bravura e o batalhão negro perseguiu os holandeses até os portões da cidade. O comandante português, Menezes, mal pode acreditar na vitória. Em dado momento da trégua de Portugal com a Holanda, D. João IV determinou que os insurreitos pernambucanos se encaminhassem à Bahia.

Antes que os holandeses comemorassem a retirada, receberam de Henrique Dias uma carta dizendo o seguinte: “Meus senhores holandeses, saibam Vossas Mercês que Pernambuco é minha Pátria, e que já não podemos sofrer tanta ausência dela. Aqui haveremos de perder as vidas, ou havemos de deitar a Vossas Mercês fora dela. E ainda que o Governador e Sua Majestade nos mandem retirar para a Bahia, primeiro que o façamos havemos de responder-lhes, e dar-lhes as razões que temos para não desistir desta guerra”. Com a expulsão dos holandeses, em 1654, Henrique Dias, ao contrário de outros militares combatentes, não recebeu as recompensas que lhe eram devidas, tendo que viajar a Portugal para requerer a remuneração atrasada dos seus serviços e foi recebido pelo rei Dom João IV. Na ocasião, pediu que seu regimento de negros fosse perpetuado. O rei concordou e mandou construir a cidade de Estância, perto de Recife, para os soldados.

Recebeu o título de governador dos crioulos, pretos e mulatos do Brasil, além da comenda dos Moinhos de Soure, da Ordem de Cristo. Passou seus últimos anos em Pernambuco em extrema pobreza e morreu em 8/6/1662, no Recife. Sua memória ficou registrada com o nome adotado pelos batalhões de Pretos que surgiram em várias capitanias após sua morte. Um século depois ainda estavam ativos dois corpos militares de homens de cor em Pernambuco. O de Pardos possuía 31 companhias e contava com 1.401 pessoas e o de Henrique Dias, exclusivamente formado por Pretos, que contava com 17 companhias formadas por 1.549 homens. Pela sua bravura, dedicação e liderança, foi escolhido, em 1992, patrono do então 28º Batalhão de Infantaria Blindada (28º BIB), atualmente, 28º Batalhão de Infantaria Leve (28º BIL) localizado em Campinas, São Paulo.

A Lei nº 12.701, de 6/8/2012, incluiu seu nome no Livro de Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria, em Brasília. Não obstante o esquecimento a que foi relegado, mesmo no “movimento negro”, seu nome ainda denomina uma porção de logradouros e instituições no Brasil e, particularmente, em Pernambuco, como o “Grupo Escolar Henrique Dias”, em Garanhuns, onde conclui o curso primário.

 


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