Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial quarta, 22 de fevereiro de 2023

OS BRASILEIROS: MANOEL BOMFIM (ARTIGO DE JOSÉ DOMINGOS BRITO, COLUNISTA DO ALMANAQUE RAIMUNDO FLORIANO)

 

OS BRASILEIROS: Manoel Bomfim

José Domingos Brito

 


 

 

Manoel José do Bomfim nasceu em 8/8/1868, em Aracaju, SE. Médico, psicólogo, pedagogo, sociólogo, historiador, jornalista e escritor. Devido ao caráter revolucionário de suas obras, ficou no limbo da História durante mais de 50 anos e foi redescoberto por Darcy Ribeiro apenas em 1984. Trata-se de um dos primeiros autores a empregar o termo “América Latina” em seu livro América Latina: males de origem (1905). Mais tarde estudou os males de origem que também afligem o Brasil.

 

Filho de Maria Joaquina do Bomfim e Paulino José do Bomfim, tradicional família sergipana, teve os primeiros estudos em Aracaju. Aos 18 anos ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, onde estudou por 2 anos e transferiu-se para Rio de Janeiro, concluindo o curso aos 22 anos. Enquanto estudava, colaborou no jornal Correio do Povo, auxiliando Alcindo Guanabara na defesa do regime republicano. Em 1891 ingressou, como médico, na Polícia Militar e no ano seguinte foi promovido a tenente-cirurgião da Brigada Policial do Rio de Janeiro, ocupando o cargo até 1894.

 

Por essa época, casou-se com Natividade de Oliveira; tiveram 2 filhos; abandonou a Medicina e passou a lecionar na Escola Normal do Rio de Janeiro, onde assumiu a cátedra de Pedagogia e Psicologia. Em 1902 foi mandado a Paris para ver e estudar o funcionamento das escolas. Ficou por lá até 1903, estudou psicologia na Sorbonne e manteve contatos Georges Dumas e Alfred Binet, com quem planejou a instalação do primeiro laboratório de psicologia experimental no Brasil, em 1906, no ”Pedagogium” (museu pedagógico fundado em 1890 e transformado num centro de cultura superior em 1897), do qual foi diretor por 15 anos. De volta ao Brasil em 1905, foi diretor interino da Instrução Pública do Rio de Janeiro e no ano seguinte foi nomeado Diretor Geral.

 

Em 1907, foi eleito deputado estadual, defendendo importantes projetos educacionais.  Sua obra é extensa e variada entre ensaios sobre História, Sociologia, Medicina, Zoologia, Botânica, incluindo alguns livros de Língua Portuguesa em coautoria com Olavo Bilac. No livro Pensar e Dizer: estudo do símbolo no pensamento e na linguagem (1923), demonstra avançado conhecimento da Psicologia de sua época. Publicou uma série de livros relevantes: O methodo dos testes (1926); Cultura do povo brasileiro (1932); Crítica à Escola ActivaO fato psychicoO respeito à criança etc. Sua interpretação do Brasil apoia-se na análise histórica da colonização, na exploração e na espoliação das riquezas do país, analisando as consequências sobre as condições culturais do povo. Mantinha uma veemente defesa e expansão da educação pública como meio para a emancipação e  construção de uma sociedade democrática.

 

Suas concepções de Psicologia, quanto ao método e objetivo,  eram destoantes em relação a seus contemporâneos. Considerava o fenômeno psicológico como um fato histórico-social, fruto das relações entre consciências, mediadas pela linguagem, esta entendida como produto e meio da socialização. Assim, antecipou ideias mais tarde adotadas por Vigotski, Piaget,  Ernst Bloch entre outros em sua interpretação da sociedade. No entanto, ficou praticamente esquecido na historiografia brasileira, por se contrapor ao pensamento dominante na época.

 

Manteve uma longa polêmica, pela imprensa, com Sílvio Romero originada como o lançamento do livro América Latina: males de origem (1905). Romero era um intelectual importante, conhecido como o “rei da polêmica”, que defendia o branqueamento da população como uma solução para o “defeito de formação” étnica do brasileiro. Bomfim era um novato audacioso, que defendia a miscigenação, valorizando-a e negando a validade científica das teorias racistas em voga. Via a educação popular como um “remédio” para o atraso do Brasil. No livro O Rebelde Esquecido, lançado pela ed. Topbooks, em 2000, por Ronaldo Conde Aguiar, consta que a polêmica entre os dois rendeu 25 artigos e 400 páginas de injúrias e ataques tendo a vítima revidado uma única vez.

 

Sua convicção era firme e o pensamento claro: “Vale discutir (…) a célebre teoria das raças inferiores. Que vem a ser esta teoria? Como nasceu ela? A resposta a estas questões nos dirá que tal teoria não passa de um sofisma abjeto do egoísmo humano, hipocritamente mascarado pela ciência barata, e covardemente aplicado à exploração dos fracos pelos fortes”. Visando fundamentar suas convicções, escreveu: O Brasil na América: caracterização da formação brasileira (1929), reeditado pela Ed. Topbooks, em 1997; O Brasil na História: deturpação das tradições, degradação política (1930), reeditado pela Ed. Topbooks em convênio com a PUC/MG, em 2013 e Cultura e educação do povo brasileiro e O Brasil nação: realidade da soberania brasileira, lançados em 1931. Não encontramos uma reedição deste primeiro livro. Porém temos uma boa análise de seu pensamento sobre a educação, publicada no livro Manoel Bomfim, de Rebeca Gontijo, lançado em 2000, pela Fundação Joaquim Nabuco e Editora Massagana, à disposição no link http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4708.pdf. Manoel Bonfim faleceu em 21/4/1932.

 

Acredita-se que seu apagamento da história por mais de 50 anos, deve-se às suas críticas e por defender as classes populares. Foi “resgatado” por Darcy Ribeiro, que destacou o porquê do desconhecimento do autor: “Teve predecessores, é certo, que cita copiosamente, dos quais se quis fazer herdeiro e continuador. Não teve foi sucessores, porque jamais existiu, de fato, na bibliografia brasileira. A culpa não é de Bomfim, é nossa. Não porque ele fosse adiantado demais, mas sim porque nossos pensadores são servis demais. Entre nós, a cultura não constrói, como em toda parte, pela superposição de tijolos nas paredes de um edifício que se levante coletivamente. Aqui, cada pedreiro está olhando para a casa alheia e só deseja contribuir com seu grão de areia exemplificativo ou seu tijolinho de lisonjas ao pensador estrangeiro que mais o embasbaca”.

 

Em 2019 o cineasta Carlos Pronzato lançou o documentário Por que não se fala em Manoel Bomfim, realçando a opinião de Darcy Ribeiro. Ainda reiterando esta opinião, temos a biografia O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim, lançada em 2000 por Ronaldo Conde Aguiar pela Editora Topbooks. Para ele, Bomfim era “uma voz que ousava dizer o indizível, um pensador que não temia pensar o impensável”. Outra biografia ressalta sua luta contra o racismo: Manoel Bomfim: combate ao racismo, educação popular e democracia racial, de Aluísio Alves filho, lançado em 2008 pela Ed. Expressão Popular.]

BRASIL DAS LETRAS - MANOEL BOMFIM

 

 


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