Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

José Domingos Brito - Memorial segunda, 21 de março de 2022

OS BRASILEIROS: PAULO PRADO
 

OS BRASILEIROS: Paulo Prado

José Domingos Brito

 

Descendente de uma influente família paulista, era o primogênito do conselheiro Antônio Prado, primeiro prefeito da cidade de São Paulo, e Maria Catarina da Costa Pinto e Silva. Em 1890, aos 21 anos, diplomou-se advogado e viajou para a Europa, onde passou alguns anos com o tio Eduardo Prado, que o levava para conversar com o português Eça de Queiroz e outros intelectuais e escritores deste quilate. Na companhia do tio, de Olavo Bilac e Domício da Gama, participou das homenagens ao 10º aniversário da morte de Gustave Flaubert, em Rouen. Durante a viagem de Paris a Rouen, dividiu o vagão na 1ª classe com Émile Zola, Edmond de Goncourt e Guy de Maupassant. Convivia também com alguns brasileiros que, de vez em quando, por lá flanavam, tais como Joaquim Nabuco e o Barão do Rio Branco. Só voltou em meados de 1910, a chamado do pai para cuidar dos negócios da família, que não eram poucos. Entre 1911 e 1924, foi gerente e presidente da exportadora de café Casa Prado, Chaves & Cia., a maior empresa brasileira no ramo. Seu envolvimento com a arte deu-se em 1919 ao promover a “Exposição de Pintura e Esculturas Francesas” no hall do Teatro Municipal e a montagem da peça O contratador de diamantes, de Afonso Arinos.

Sua importância na Semana de Arte Moderna de 1922 pode ser vista através do diálogo de seus organizadores, publicado na entrevista de um deles, Rubens Borba de Moraes:

– Mas, para fazer essa coisa, precisamos de dinheiro.

E aí alguém disse:

– Justamente com o dinheiro não tem importância. Nós vamos falar com o Paulo Prado.

O Paulo Prado era um grande senhor, um homem milionário, que ia todos os anos à Europa, tinha vivido em Paris, tinha conhecido Eça de Queiroz e estava a par do que você falasse sobre Picasso…de maneira que disse:

– Nós vamos fazer isso. Mas é preciso fazer o seguinte: vamos arranjar o dinheiro com os homens ricos de São Paulo, eu peço para eles, e eles dão esse dinheiro para fazer isso.

E organizamos a Semana de Arte Moderna, e esses milionários paulistas entraram com o dinheiro… e depois ficaram decepcionadas com as manifestações da Semana”. (clique aqui para ler). Após a “Semana”, começou a promover a emigração de alguns artistas modernistas à Paris, como Brecheret, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Villa Lobos, bem como a imigração do poeta Blaise Cendrars ao Brasil e a visita do arquiteto Le Corbusier, em 1929, para conferências em São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires.

Sua relevância no movimento modernista é confirmada através dos depoimentos de seus protagonistas Mário de Andrade: “Sem ser artista ou poeta, sem ser o propositor central dos padrões renovadores de expressão – embora fosse conhecedor e opinasse a respeito – Paulo Prado foi justamente quem deu expressão social ao Modernismo, o que significa dizer que deu o sentido de movimento às experiências até então isoladas dos modernistas” e Oswald de Andrade: “sem a inteligência e a compreensão de Paulo Prado, nada teria sido possível. Ele foi o agente de ligação entre o grupo que se formava e o medalhão Graça Aranha”. Seu nome não é apenas o primeiro a aparecer na lista dos financiadores da Semana. Encarregou-se também do programa, da divulgação e demais detalhes de evento. Mário de Andrade reitera que seu prestígio “abre a lista das contribuições e arrasta atrás de si os seus pares aristocratas e mais alguns que sua figura dominava”.

Suas atividades, além do poderio econômico, extrapolou para a política cultural, que vinha despontando desde muito antes ao negociar com o poeta Paul Claudel, Encarregado dos Negócios da França no Brasil, o estabelecimento do Convênio Franco-Brasileiro em 1917. Por tal feito recebeu a mais alta condecoração francesa: a medalha da Legião de Honra, instituida por Napoleão Bonaparte para recompensar os méritos militares ou civis à nação francesa. Mesmo após a “Semana de 1922” são lançadas diversas revistas de divulgação da produção modernista e seu mome aparece s associado à fundação e ao controle de boa parte dessas publicações. Assumiu o controle da Revista do Brasil, de grande repercussão e longevidade no início do século XX, a Revista do Brasil, editada de 1918 a 1925 por Monteiro Lobato. Devido ao sucesso da publicação, Lobato funda a editora “Monteiro Lobato & Cia”, que conta com sua colaboração financeira na montagem do parque gráfico, e revolucionou o mercado editorial brasileiro. Nesse período, entre 1923 e 1925, enquanto Lobato concentra seus esforços na editora, a Revista do Brasil passa a ser dirigida por Paulo Prado.

Como se viu, o empresário viveu entre duas épocas e dois mundos bem distintos: fins do século XIX e início do século XX, numa Europa que se modernizava e um Brasil que ainda não engatinhava no modernismo. Por esta razão é visto como uma figura de “transição”, representando o ponto de encontro de duas épocas, e duas mentalidades distintas. É também um período de transição da Monarquia à República, da escravidão negra à mão de-obra livre, do apogeu da exportação do café aos primórdios da industrialização. Em contatos com o historiador Capistrano de Abreu (1853-1927), passou a se interessar pela história e publicou dois livros: a história de São Paulo – Paulística (1925) – e a formação do Brasil – Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira (1928), que causou grande polêmica entre os intelectuais. A pedido de Capistrano, empreendeu parte do projeto inacabado de Eduardo Prado, financiando diversas obras raras sobre a história do Brasil. A coleção Eduardo Prado: para conhecer melhor o Brasil teve seus primeiros volumes iniciados em 1922.

O Retrato do Brasil busca explicar as origens do atraso econômico e cultural do País e dos vícios crônicos dos regimes políticos, através do processo de formação racial e cultural da nacionalidade. Segundo alguns estudiosos, apresenta “uma noção racista de superioridade do povo branco paulista e uma concepção do negro como uma raça inferior e corruptora no seio das famílias”. Ou seja, uma noção contraposta a suas ideias de ruptura com o passado, expostas na Semana de Arte Moderna. Tal contradição, levou seu amigo Gilberto Freyre a descrevê-lo como “um dos casos mais curiosos de Dr. Jekyll e Mr. Hyde que já houve no Brasil”, exagerando na comparação.

No entanto, trata-se de um livro que vem sendo reeditado até hoje e considerado básico para o entendimento de algumas peculiaridades na formação do povo brasileiro. Em 2012 o pesquisador Carlos Augusto Calil organizou uma nova edição pela Companhia das Letras, revista e ampliada incluindo a seção “Outros retratos do Brasil” com textos dispersos do autor. Tal lançamento e a repercussão causada certificam que “o apelo veemente à modernização do Brasil e a denúncia dos males da política ainda hão de reverberar como questões candentes (e irresolutas) ao leitor de hoje”. Segundo o historiador Francisco Iglésias, o ensaio de Paulo Prado “é um livro muito errado, mas fundamental e brilhante que se lê com muito prazer”. Para o historiador Boris Fausto, trata-se de “uma tentativa de fazer uma psicologia coletiva, ao passo que as análises de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque têm uma amplitude muito maior e dão mais atenção à vida material. Nesse sentido, Retrato do Brasil seria, isso sim, um precursor da tendência que seria depois chamada de história das mentalidades”.

Não contamos ainda com uma biografia p.p. dita do empresário paulista, mas um apanhado de seu envolvimento com a cultura brasileira pode ser visto no bem intitulado artigo – A face oculta e visionária da Semana de Arte Moderna de 1922 – à disposição na Internet (clique aqui para ler) o que se aproxima mais de uma biografia pode ser visto no livro de Carlos Eduardo Ornelas Berriel – Tietê, Tejo, Sena; a obra de Paulo Prado – lançado pela editora Papiros, em 2000.


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