OS LANDWEHR: DO HOLOCAUSTO AO PARAÍSO BRASILIENSE
(Publicada no dia 19.01.2015)
Raimundo Floriano
Mapa da Romênia
O Holocausto é tema deveras recorrente. Muitos livros já li e a muitos filmes tenho assistido sobre o tema, e isso é bom, para que não caia no esquecimento esse bárbaro crime que foi perpetrado contra o povo judeu na Segunda Grande Guerra. Ainda mais agora, quando vemos nossos últimos governantes acenando com simpatia para ditadores que o negam.
O conhecimento que tenho sobre o assunto me foi totalmente passado por escritores e diretores cinematográficos de países distantes. Por isso, venho falar de uma pessoa que o viveu, e que está aqui, praticamente a nosso lado, moradora num dos Condomínios de Brasília, fácil de ser contatada por um simples telefonema, ou mesmo ser encontrada na praça de alimentação de um shopping qualquer. Trata-se de Lulu Landwehr.
Lulu, judia como toda sua família, nasceu na Romênia, numa pequena aldeia chamada Peteneye, no dia 23 de maio de 1925. Era filha de Moritz Weiss e Eszter Katz Weiss. No próximo mês de maio, completará 90 anos, linda como sempre.
Devido a dificuldades financeiras, seu pai mudou-se com a família para próspera cidade de Oradea, capital do judet – distrito – de Bihor, onde passou a operar como pequeno agricultor.
Oradea, pela proximidade com a Hungria, ora era anexada àquele país, ora era devolvida, e vice-versa, de forma que muitos romenos dali achavam que eram húngaros, e muitos húngaros pesavam que fossem romenos. Toda a região é conhecida por Transilvânia, famosa na literatura como a terra dos vampiros.
Em 1944, a Hungria, com Oradea sob seu domínio, era simpática à causa alemã. E, em maio daquele ano, toda a família da Lulu, por ser judia, foi embarcada num vagão de gado rumo aos campos de concentração de Auschwitz, operados pelo Terceiro Reich, nas áreas polonesas anexadas pela Alemanha Nazista e maior símbolo do Holocausto.
Lulu estava com 19 anos!
O vivido, desde o embarque, em maio de 1944, até a libertação, pelos americanos, a 14 de abril de 1945, encontra-se narrado neste impressionante e contundente livro, editado pela Thesaurus Editora. Dos 85 que li em 2014, este é o de maior conteúdo, o de maior valor histórico:
Para dizer o mínimo, em Auschwitz, Lulu perdeu o pai, a mãe, as irmãs Erzsi e Iren e o irmão Sanyi, nos fornos crematórios. Com ela, sobreviveram Duci e os irmãos Miki e Ioska.
Ao retornar para Oradea, o ambiente já não era o mesmo entre seus concidadãos, onde reinava intenso preconceito contra os libertados. Vejam só, na própria pátria!
Foi quando Lulu começou a namorar o compatriota Dan, judeu, que teve participação ativa na Segunda Guerra Mundial, lutando como partisan ao lado de Charles de Gaulle até a libertação da França em 1944.
O romance começou em 1948. Logo em seguida, Lulu foi internada num sanatório, por ter contraído tuberculose, doença quase impossível de ser combatida na época. Foi quando Dan mostrou a ela o grande amor que lhe devotava, nunca lhe negando carinhos e beijos quando a visitava. Um ano depois, ou seja, em 1949, com Lulu totalmente curada, Dan buscou-a no sanatório e levou para a casa dos pais dele, em Paris, onde se casaram.
Tendo que lutar pela vida e contra a discriminação, o casal viveu em Paris, e Buenos Aires e, finalmente, chegou ao Brasil, em 1952, onde fixou residência definitiva, motivado pelo aspecto de que nosso país é o único onde não existe preconceito contra seu povo. Vejam bem no que desejam transforma o povo brasileiro agora, lançando olho castanho contra olho azul, cabelo escuro contra cabelo loiro, pobres contra ricos, nordestinos contra sulistas, apedeutas contra estudados e, para o cúmulo dos cúmulos, criando as famigeradas quotas raciais!
No Brasil, Lulu e Dan tiveram dois filhos, Roby e Vivi.
Lulu e Roby, em 1956 - São Paulo
Lulu, Vivi, Roby, Dan e Duci - Início de Brasília
Iniciando suas atividades, primeiramente em São Paulo, Dan logo se transferiu com mala e cuia para Brasília, onde chegou com a família, antes da Inauguração.
E o que os faz tão perto de nós, tão palpáveis, tão gente da gente? Vou lhes contar!
Dan vem a ser Bâzu Dan Landwehr, que montou em Brasília a primeira e maior fábrica de móveis de qualidade, a Mainline Móveis, fornecedora, mediante licitação, para todos os órgãos públicos da Nova Capital e exportadora em grande escala. Um meu primo, Pedro Ivo, foi Contador da empresa desde 1970, e mais adiante, um de seus sócios.
Paralelamente, Dan montou na Galeria do Hotel Nacional a loja DAN - Decorações a Artes Nacional, de alto nível, gerenciada por Lulu e freqüentada pela socialites da Corte.
Para ter-se uma ideia do nível de seus produtos, vou contar-lhes uma historinha. Em 1968, por ocasião da visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil, o Congresso Nacional viu-se em palpos de aranha, por não dispor de dependências condignas para recebê-la. Aí Seu Dan entrou em ação: montou um gabinete com móveis, tapeçaria, decoração e tudo o mais, nada ficando a dever ao ambiente mais sofisticado do Palácio de Buckingham. No dia seguinte ao da partida da Rainha, retirou todo o material, fazendo tudo isso graciosamente! Bâzu Dan Landwehr sabia negociar!
Seu Dan faleceu ainda no vigor de sua produtividade, em 1982. Para perpetuação do clã, deixou-nos a filha Vivi e o filho Roby, do qual passo a falar.
Roberto Landwehr é meu colega na Hidroterapia, atividade a que comparecemos três vezes por semana. Nasceu em São Paulo, no ano de 1956, e veio morar em Brasília juntamente com os pais, em 1960. Iniciou seus estudos no Colégio Dom Bosco, como se vê a seguir:
Seu currículo é extenso e valioso: licenciatura em Educação Física pela Faculdade Dom Bosco de Brasília, DF; especialização em Fitness pelo Instituto de Pesquisas Aeróbicas, em Dallas, Texas, EUA; especialização em Ciência do Treinamento Desportivo pela Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, RJ; doutorado pela The University of New Mexico, Albuquerque, EUA; professor de Educação Física na Fundação Educacional do Distrito Federal; professor de matérias diversas, com ênfase em Treinamento Desportivo e Fisiologia do Exercício, nas Faculdades Dom Bosco de Educação Física, Santa Terezinha, Em Brasília, Anhanguera, em Brasília, na Universidade Católica, em Brasília...
Na maturidade, é a cópia xerocada do pai:
Com esse invejável cabedal, acaba de lançar, com parceiros, também por nossa Editora, a Thesaurus, este livro de bolso cuja qualidade já me fez comprar 10 exemplares para presentear meus professores de malhação e minha reumatóloga, e a cujo lançamento compareci, quando tive oportunidade de apertar a mão da Lulu:
Para avaliar-se o tamanho de sua aceitação, basta saber que, na noite de autógrafos, no Restaurante Carpe Diem, saíram 135! Recorde editorial brasiliense no ano de 2014!
Era o que tinha a declarar!
Os livros E Pilatos Lavou as Mãos e Pílulas do Dr. T encontram-se à disposição neste site de vendas: www.thesaurus.com.br.
Em homenagem ao amigo Roby e a sua família, aqui vai o Hino Nacional da Romênia: