Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Do Jumento ao Parlamento sexta, 24 de fevereiro de 2017

OS PSORÍACOS

OS PSORÍACOS

Raimundo Floriano

 

 

                        O Deputado Januário Feitosa é um homem lutador. Nascido em Cajazeiras, na Paraíba, em 1914, construiu sua vida política no Estado do Ceará, onde iniciou, em 1958, sua caminhada parlamentar como deputado estadual. Em 1970, elegeu-se deputado federal.

 

                        É o criador do município cearense de Barro, para o progresso do qual empenhou grande parte de sua existência. Mais de 30 empreendimentos de vulto, como escolas, hospitais, postos de saúde, energia elétrica, agência do correio, açude, telefone e outros tantos atestam a dedicação com que lutou pelo desenvolvimento da cidade e da região.

 

                        Conhecemo-nos quando eu, aposentado, chefiava, como secretário parlamentar, o gabinete do Deputado Sérgio Cury, PDT-RJ, e ele, já afastado das lides legislativas, batalhava junto aos antigos colegas, visando à obtenção de verbas para entidades beneficentes que fundara e das quais era o principal mantenedor. Alto, magro, belo porte, tem o físico e a aparência de um astro do cinema ou da televisão.

 

                        Foi amizade à primeira vista, surgida de incômodo detalhe. O deputado entrou no gabinete, de terno preto, com os ombros cobertos por um pó branco, que eu bem conhecia. Eu, sentado em minha poltrona, também de terno escuro, olhei para meus ombros e certifiquei-me de que aquela mesma poeirinha, que eu sempre trazia comigo, estava lá, intacta. Avaliamo-nos com divertida curiosidade. Dei, com as mãos, uma espanejada em mim, ele repetiu o gesto em si, e entre nós começou a existir uma grande empatia, embora jamais tocássemos diretamente no assunto.

 

                        Desde então, víamo-nos quase que diariamente. Descobrimos outra particularidade em comum: fôramos, ambos, almocreves em nossa infância sertaneja, onde o jumento era figura sempre presente na labuta cotidiana.

 

                        Sendo ele agricultor e pecuarista, dono de fazendas no Ceará e no Piauí, podendo estar cuidando de seus interesses, de seus negócios, admirava-me o fato de se conformar com as migalhas que conseguia na destinação das verbas do Orçamento. Será que as ínfimas quantias ajudariam as instituições que representava? Um dia, questionei-o sobre isso, e ele sentenciou:

 

                        – Meu caro, é melhor 1% do todo que 100% do nada!

 

                        De tanto me ver redigindo pronunciamentos, cartas, telegramas, projetos, relatórios, pareceres e outras proposições, esse amigo me perguntou, um dia, por que eu não me aventurava no campo da literatura. Acanhado, procurei tirar o corpo fora, mas ele rebateu meus argumentos com uma frase que, até hoje, guardo como ensinamento:

 

                                    – Meu rapaz, não deixei passar em branco o valioso tempo que Deus me concedeu!

 

                        Incentivado por ele e por outros amigos, tomei coragem. Em 1993, o jornal O Diário de Alagoas começou a publicar meus escritos numa coluna dominical a que dei o título de Do Jumento ao Parlamento, do qual esta obra é homônima.

 

                        Ao ler os primeiros exemplares, o deputado Januário Feitosa me aplaudiu. E ressaltou uma quase coincidência: era de sua autoria o livro Do Sertão ao Parlamento, de grande aceitação. Mas enfatizou que via nisso apenas uma obra do acaso. Outro que escrevera e que obtivera excelente vendagem na região foi Sertão do Meu Tempo.

 

                        Certa vez, não me contive e quase lhe falei o nome da coisa que nos afligia. Depois de dar a costumeira espanadinha em meus ombros, com ele a me imitar, arrisquei:

 

                        – Deputado, eu estou usando o Denorex, o Triatop e o Crisan, xampus muito bem recomendados!

                        –  E está obtendo um bom efeito?

                        – Sim, deputado. Com o uso do Denorex, minha cabeleira deixou de embranquecer precocemente. Com o Triatop, meu couro cabeludo já não coça tanto. E o Crisan é bem baratinho!

 

                        Quase 10 anos depois, descobri seu paradeiro pela Internet e liguei para sua casa. Com 88 anos, a completar no dia 28.12.02, está alegre e muito lúcido. Conversamos um tempão. Informei-o sobre minha pretensão de lançar um livro e, dessa vez, fui direto ao ponto:

 

                        – Deputado, meu trabalho não estaria completo se não citasse seu nome e, com sua licença, não mencionasse um mal comum, que nos tem afligido por todos esses anos.

 

                                    Ele deu uma gargalhada e perguntou:

 

                        – A psoríase?

 

                        Como ouço pouco, insisti:

 

                        –Poderia repetir?

                        – P, s, o, r, í, a, s, e! – Escandiu ele.

                        – O que vem a ser isso, deputado?

 

                        – É a caspa, meu amigo! Somos psoríacos da pesada!

 

                        Pois é, vivendo e aprendendo!

 

Deputado Januário Feitosa: incansável lutador

 


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