Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Família Albuquerque e Silva sábado, 13 de novembro de 2021

PEDRO SILVA, O MENESTREL DO SERTÃO SUL-MARANHENSE
PEDRO SILVA, O MENESTREL DO SERTÃO SUL-MARANHENSE

Raimundo Floriano

 

 

 

Pedro Silva e seu amigo violão

                        Pedro Albuquerque e Silva, o Pedro Silva, meu irmão, nasceu em Balsas (MA), no dia 13 de novembro de 1922. Filho de Emigdio Rosa e Silva, o Rosa Ribeiro, e Maria de Albuquerque e Silva, a Maria Bezerra, é o primeiro varão e segundo de uma prole de dez, da qual eu sou o sétimo.

 

                        Completando 92 anos em novembro próximo, pode-se afirmar que este sertanejo é, depois de tudo, um forte, eis que continua em plena atividade, fazendo tudo de que gosta, como se tantos anos não lhe pesassem nas costas. É nosso herói!

 

                        A seguir, a fotografia mais antiga da família, batida em 1929:

 

Rosa Ribeiro, Maria Bezerra,

José, Pedro Maria Isaura e Maria Alice

 

                        Passou toda sua infância em Balsas, levando vida sadia e cheia de peripécias e traquinagens, como de todo menino do sertão. Já nesse tempo, começou a aprender a “bater” o violão, ou seja, acompanhar-se cantando, Arte que o acompanha desde antes, agora e sempre.

 

                        Aprendeu as primeiras letras e concluiu o Curso Primário nas escolas da Dra. Maria Justina, Melquíades Moreira Ferraz, Dr. Domingos Tertuliano e Educandário Coelho Neto, do Professor Joca Rêgo. Em Teresina, foi aprovado no Exame de Admissão para o Liceu Piauiense, onde cursou o Ginasial, após o qual, naquele primeiro quarto do Século XX, se considerou preparado para o exercício de sua verdadeira vocação: a atividade comercial.

 

                        Voltando para Balsas, começou a trabalhar como caixeiro na loja de José de Sousa e Silva, nosso Tio Cazuza Ribeiro, atendendo os fregueses no balcão. Tio Cazuza, vendo sua habilidade e tino para o comércio, designou-o para viajar pela Região Tocantina, para comprar gêneros de exportação - couros, peles silvestres, produção agrícola – e vender sal a comerciantes e fazendeiros. Era responsabilidade imensa para um adolescente naquelas plagas.

 

                        Lembro-me bem da chegada dele de uma dessas viagens. Trouxe uma lata, tipo de leite em pó, cheia de moedas de valores diversos, chamou os irmãos mais novos, derramou o dinheiro na mesa de jantar e mandou que fôssemos pegando, um de cada vez, em rodízio. Eu, por exemplo, só escolhia os patacões. Já o Bergonsil traquejado, primeiro olhava o valor, para pegar as dele. Essas atitudes de bom irmão faziam com que nós, os menores, o chamássemos de padrinho – Padim Pêdo –, numa espécie de sadio puxa-saquismo familiar.

 

                        Depois de um certo tempo, trabalhou, por conta própria, nos garimpos cristal de rocha em Xambioá, Piaus e Dois Irmãos, região ainda goiana, onde contraiu impaludismo, difícil de ser curado. Com a ajuda de Deus venceu essa moléstia assaz ceifadora.

 

                        Em 1945, aos 23 anos de idade, abriu uma casa comercial em Miracema, em sociedade com o Tio Cazuza, vendendo produtos industrializados e comprando as matérias-primas produzidas na cidade e em suas imediações. Nas horas vagas, o violão e a seresta eram seu lazer.

 

                        Pedro tinha um dom inato, que nele aflorou desde o tempo de rapazinho. Para discorrer sobre isso, mostro-lhes duas fotografias dele na juventude:

 

Pedro Silva no tempo de rapaz solteiro 

                        Como viram, era um sertanejo comum, sem nada de especial a não ser o dom acima citado: um visgo para atrair o sexo feminino. Quem o conhecia ficava perplexo, abismado, já não digo invejoso. Onde quer que chegasse, as pequenas choviam-lhe em profusão. Nem precisava que ele se esforçasse. Galante e dançarino de primeira, era o preferido nos salões. Houve até um amigo seu que um dia lhe falou: – Pedro Silva, não sei o que há com minha namorada. Quando dança comigo, é toda durona, sem jeito, parece que engoliu uma alavanca. Mas quando tu tiras ela pra dançar, aí a coisa muda de figura! Fica toda mole, se requebrando, se rindo, parece até que tá no céu! Por que será?

 

                        Se eu estivesse por perto, na ocasião, teria explicado: – É o visgo, rapaz, é o visgo! –, porque Pedro Silva era o verdadeiro Porta-Estandarte do Amor.

 

                        Em termos de namoro, não precisava se mexer. Era como o Mar Oceano, para onde correm todos os rios. Era como o Sol, a atrair os astros em seu derredor. Com esse imenso poderio, colheu, um dia, a mais bela flor morena da sociedade miracemense: Naide Noleto, com quem se casou, no dia 7 de outubro de 1949, e com quem teve cinco filhos: Ceres, Pedro Silva Júnior – o Silva –, José Emídio, Luís Ernesto e Jânio.

 

Pedro Silva e Naide: simpatia e elegância do jovem casal 

                        Mudou-se para Carolina (MA), a 9 de fevereiro de 1951, iniciando suas atividades comerciais à Praça Goiás, nº 55, onde construiu esta confortável casa com linda vista para o majestoso Rio Tocantins, na qual até hoje reside:

 

                         Em Carolina, sempre em sociedade com o Tio Cazuza, praticava o comércio de estivas em geral e gêneros exportáveis da região: couros bovinos, peles silvestres, crinas, penas de ema, arroz, babaçu, algodão e outros. Fez parte de diversas sociedades e empreendimentos vários até que passou a operar por conta própria, dedicando-se com mais afinco à pecuária. Paralelamente, foi nomeado Servidor da Prefeitura Municipal de Carolina, atuando no Setor de Finanças e no Departamento de Administração.

 

                        A Música, como sempre, era seu principal derivativo. Fundou a Escola de Samba Unidos de Carolina, que desfilou pela primeira vez no Carnaval de 1963.

 

Belinha, Porta-estandarte em 1977 

                        Em outubro de 1975, inspirado no grupo musical que acompanhou Carmen Miranda para os Estados Unidos, Pedro criou o conjunto Bando da Lua, com o objetivo principal de divulgar e promover a MPB em nossa região. Sem aparelhagem eletrônica, contava com uma sanfona, pau, corda, percussão e as vozes de seus integrantes, no gogó. A seresta, então, viu-se revigorada naquele sertão. Mais tarde, incluíram-se teclado, guitarra, contrabaixo, metais, palhetas, bateria e aparelhagem, para que alguns integrantes provessem o ganha-pão. Adiante, o Bando da Lua em sua feição seresteira:

 

Inácio, pandeiro; Djael, voz; Adelino, cavaquinho;

Luzimar, sanfona; Pedro Silva, violão; e Sitônio, surdão 

                        Pedro Silva tem também sua veia literária. Orador oficial da família, é cronista, articulista, compositor, escritor e cordelista. Adiante, a capa de seu livro Som e Ritmo da Terra, onde narra toda sua trajetória musical, com dados biográficos, e do cordel Navaiadas, elogiando políticos amigos e descendo o cacete nos adversários.

 

 

                        Ao aposentar-se do Serviço Público, Pedro Silva continuou em plena atividade econômica, como dono de caminhões e jipes, de embarcações fluviais, do Sítio Tangará, fornecendo leite para o consumo da cidade, das Fazendas Santa Maria e Jacaracy, especializadas na criação de gado Nelore e mestiço. Nessa última, construiu, no alto dum morro, o Santuário de Nossa Senhora da Conceição, de quem é devoto.

 

Detalhes do Sítio Tangará e da Fazenda Santa Maria

 

Santuário de Nossa Senhora da Conceição e Motor São Pedro de Alcântara 

                        Nestes 75 anos de árdua labuta, Pedro Silva exerceu, além das já citadas, as seguintes atividades: Fundador da Companhia Industrial do Tocantins - CITOCAN, para extração de óleo de babaçu, 1ª Sociedade Anônima da região, sendo seu Diretor-Presidente por 9 anos; Fundador da Liga Esportiva Carolinense, sendo um dos construtores do Estádio Alto da Colina; Fundador da Associação Recreativa de Carolina - ARCA; Fundador e Primeiro Presidente da Associação Comercial e Industrial de Carolina; Fundador da Loja Maçônica Caridade e Justiça, ocupando cargo de direção; Fundador da primeira Loteria Esportiva em Carolina; Fundador e Primeiro Presidente Municipal da ARENA, partido político; Fundador da Empresa Telefônica de Carolina, que presidiu; Diretor-Presidente da Comissão de Implantação do Sistema de Televisão em Carolina; e Suplente de Juiz de Direito, nomeado em outubro de 1973.

 

                        Recentemente, analisando essa rica trajetória, ele comentou comigo: – Raimundo, durante todo esse tempo, eu nunca tirei um dia sequer de férias do trabalho! Ao que eu acrescento: Nem da Boemia Seresteira! Nem de Porta-Estandarte do Amor, pois em suas serestas muitos casamentos foram engatilhados! Isso explica a razão de sua longevidade, atestada nestas duas imagens, uma colhida em julho de 2006, na comemoração de meus 70 anos, e a outra, em novembro de 2012, na festinha de seus 90:

 

Pedro Silva, aos 84, comigo, em meu Forrozão/70, e com sua Turma, ao festejar seus 90 

                        Carolina, hoje, mantém dois movimentos culturais preservadores de suas legítimas tradições. Uma delas é o Clube das Onze.

 

Clube das Onze: aguardando a chegada de seus membros 

                        Situado na Praça Alípio Carvalho, em frente ao quiosque Lanche Bar, em área adredemente cimentada para tal fim, é o ponto de reunião da Velha Guarda Carolinense. De segunda-feira a sábado, às 10h30, Lindomar, dono do quiosque, onde se bebe a cerveja mais gelada, e a cachaça mais pé-de-serra, com tira-gosto do pastel mais saboroso e crocante da paróquia, dispõe mesas e cadeiras, conforme se vê na foto acima, à espera dos membros que, aos poucos, vão chegando. Quando a frequência é maior, cadeiras e mesas adicionais são disponibilizadas. Às onze horas em ponto, começam os trabalhos que, ao meio-dia, impreterivelmente, são encerrados, seguindo cada membro para sua residência. Fundadores como Luiz Braga, Achiles, Hermógenes, Paulo Noleto, Alfredo Maranhão, Genésio, Maninho, Agnelo Jácome, Raimundinho Caetano, Zé Biô, Ulisses Braga e Darwin Noleto já não comparecerão, sendo representados pela nova geração que os sucede. Por ser o decano, Pedro Silva é, tacitamente, considerado o Presidente do Clube. 

 

                        O outra é o Conjunto Ouro & Couro. Como o próprio nome insinua, é formado por instrumentos de cordas – o ouro – e percussão – o couro. Fundado por Pedro Silva, que atua no violão e no vocal, conta ainda com os artistas Inácio, no pandeiro; Maria do Amparo, no violão e no vocal; Adelino, no cavaquinho; e Mangueirinha, na percussão. Essa turma, que mantém a tradição seresteira carolinense, está também pronta, a qualquer hora do dia ou da noite, para levar animação a todo tipo de função musical, seja um simples aniversário infantil ou uma festa de arromba.

 

                        Pelo conjunto da obra, Pedro Silva foi agraciado, a 13.11.2002, pela Câmara Municipal de Carolina, como o título de Cidadão Carolinense.

 

                        O CD Cheiro de Mato, artesanal, sem grandes recursos técnicos, mostra um pouco do trabalho desses sonhadores. Escolhi para ilustrar esta matéria o samba-canção que lhe empresta o título, Cheiro de Mato, composição recente de Pedro Silva, que o interpreta como vocalista principal:

 


domingo, 13 de novembro de 2022 as 17:41:58

João Ribeiro
disse:

Boas lembranças. Acho que o papai o chamava de Pedro Maranhense Costa, ou estou enganado?


Responder comentário - Cancelar
domingo, 13 de novembro de 2022 as 17:45:33

RAIMUNDO FLORIANO DE ALBUQUERQUE E SILVA
disse:

Primo, obrigado! Pedro Maranhense era outro, cujo perfil você de acessar clicando neste link (http://raimundofloriano.com.br/views/Comentar_Post/pedro-maranhense-meu-primo-guabiraba-hY7W4H7dT8n39aWMJblD)


Responder comentário - Cancelar

Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros