PIONEIRO INTITULADO E VERBETE
(Publicada em 25.04.2011)
Raimundo Floriano
Hoje, 21 de abril, quando lhes escrevo estas maltraçadas, Brasília completa 51 anos de sua fundação, e é com imensurável alegria que me dano a relembrar as gloriosas passagens aqui por mim vividas, as quais não posso deixar de compartilhar com todos vocês.
Quando fui receber meu Diploma e a Medalha de Honra ao Mérito de Pioneiro, Chico Fogoió, meu Assessor e Marqueteiro, quis saber se a solenidade seria transmitida pela TV. Ao inteirar-se de que sim, orientou-me:
– Mundinho, na hora do recebimento, fala assim: “Dizem por aí que eu não sou diplomado, mas meu primeiro diploma é logo o de Pioneiro de Brasília”, e cai em comovido pranto.
Ao que eu retruquei:
– Chico, isso será uma deslavada mentira, pois já sou diplomado em Ciências Contábeis pela AEUDF!
Chico Fogoió insistiu:
– Mundinho, o que vale é o momento, o que fica na memória do povo. Lembra-te de que o Presidente Lula, ao ser diplomado pelo TSE, no ano passado, falou do mesmo jeitinho: “Dizem que eu não sou diplomado, mas meu primeiro Diploma é o de Presidente da República do Brasil”, e abriu o rabo a chorar, emocionando o País inteiro, numa cena que até hoje é rememorada com ternura por todos os brasileiros. Mas, na realidade, seu primeiro Diploma foi o de Deputado Federal, expedido em 1982 pelo TSE de São Paulo.
Para reforçar seus argumentos, Chico me exibiu esta carta que fora publicada no dia seguinte àquela cena, no Correio Braziliense:
Correio Braziliense - 17.12.2002
Contrariamente à orientação desse meu zeloso Marqueteiro, fiz foi engalanar-me, caprichar nos detalhes, para que o importante e glamouroso momento se revestisse de toda a solenidade requerida.
Com Roosevelt Beltrão, Presidente do Clube dos Pioneiros, e Veroni, minha mulher
Não poderia faltar esta foto, demonstrativa do quanto de bom aquela diplomação representou aqui em nosso lar:
Com Veroni e Elba e Mara, nossas filhas
A festa aconteceu num sábado. A ela deveriam comparecer várias personalidades coroadas da República. Das programadas, confirmadas e esperadas, só faltou mesmo o Senador José Sarney, então – e hoje também! – Presidente do Senado da República. Em compensação, estava lá, sem aparato algum, o músico pistonista e Ministro Maurício Corrêa, então Presidente do Supremo Tribunal Federal, que curtiu a festa, dialogou com seus amigos, dançou, comeu, bebeu, enfim, se portou como legítimo pioneiro que é.
Passada a festa, o dia seguinte seria só de ressaca e descanso para nós aqui em casa, e para todos os que lá estavam, não fosse uma desagradável notícia: falecera há uma semana, o marido de uma grande amiga da Veroni, humilde contínuo do Judiciário, e a Missa de Sétimo Dia seria celebrada às 19h00, na Paróquia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Lago Sul. Comparecemos.
Na hora das condolências à família enlutada, olha quem está na fila: o Ministro Maurício Corrêa!!! Não me contive. Ao passar por ele, mesmo sem conhecê-lo pessoalmente, dirigi-lhe um gracejo, expressando minha admiração por vê-lo ali:
– Ministro, em menos de 24 horas, é a segunda vez que nos encontramos!
E ele:
– Pois é, e ontem, lá na festa, eu fiquei o tempo todo encucado com aquela sua estrela de Xerife!
O tempo passou, mas novas festas vieram!
No ano passado, comemoramos, em grande estilo, o Cinquentanário de Brasília! Como decorreram rápido esses anos! Aquele dezembro de 1960 parece que foi ontem, quando desembarquei na Estação Rodoviária, esperançoso de que, na Capital Federal, iria realizar as grandes conquistas de minha vida. Éramos Deus e eu!
Ainda em 2009, a agradável surpresa: eu seria um dos verbetes do livro Brasília 50 Anos, e a Editora me solicitava o envio de meus dados biográficos, foto e uma frase definidora da ilustre Cinquentenariante.
Eis o livro, com meu perfil na Página 220:
Acompanhando-o, veio este certificado:
E, em meu verbete, esta declaração:
“Balsas é ternura umbilical; Floriano foi paixão de infância; Teresina foi xodó da adolescência; Brasília foi o amor à primeira vista, desde que aqui cheguei, em dezembro de 1960, terra onde fixei residência definitiva, escolhendo-a para nela constituir família e nela plantar as sementes de minha descendência.”
Faltou acrescentar: “Em que pese os trambiqueiros adventícios, que teimam em fazer-nos passar vergonha!”.