POBRE MÃEZINHA
Dalton Trevisan
Os gêmeos voltam inquietos da escola. Primeira
aula de educação sexual. Seis aninhos, e já perdidos
na busca da verdade.
—Sabe, mãe, o que é transar? Então me diga.
A moça desconversa. Um jogo? um brinquedo?
uma ginástica? Reservado só para adultos. Mais tarde
eles… O pai pode explicar melhor.
Nem uma semana depois. O mais espevitado:
—Mãe, mãe, já sei o que é transar.
—E o que é, meu anjo?
—Transar é um menino beijar na boca de outro
menino!
A mãe se assusta com razão.
—Alguém fez isso com você?
O outro, tipo sonso:
— Ih, mãe. O carinha tá por fora. Não é nada
disso.
Sossega a moça, mas não muito.
De novo, os seis aninhos de sapiência nas ruas da
vida:
—Transar é o menino pôr o pipi na popoca da
menina!
A mãe queda muda. Você não conseguia definir
melhor.
Eis que o primeiro ensaia um choro sufocado, cada
vez mais doído.
—Meu Deus, filhinho. O que é agora? Por que está
chorando?
—É isso o que o pai faz…
Os pivetes se entendem num simples olhar (não
fossem gêmeos), e o segundo:
—…na minha mãe!
Já rompem violentamente aos soluços.
—É isso… Então é isso… Na minha pobre mãezinha!
Desesperados e inconsoláveis. E agora, mãezinha?
Só lhe resta abraçá-los e chorar com eles. Chorar
muito a inocência perdida de todos nós.