QUASE HISTÓRIAS
APARÊNCIAS
– Você já está bêbado. E ainda não são dez horas da manhã, francamente.
– Como você percebeu?
– Ora, quem não o conhece que lhe compre. É sempre o mesmo filme: começa com suas gracinhas, descamba para impropérios. Afinal, o que você bebeu?
– Cerveja.
– E o que mais? Não minta.
– Cachaça. Cinco cachaças.
– Pelo amor de Deus. Que vergonha. Se ainda bebesse uísque…
– Qual a diferença?
– Ora, quem bebe cachaça é cachaceiro, pinguço, borracho.
– E quem toma uísque?
– Adicto. É mais chique, entende?
* * *
TRISTE SINA
É quase sempre assim (ou quase sempre assim): uns e outros me perguntam coisas que não sei responder. Em especial nos botecos de bairro, nas conversas de balcão de padaria. Famosos centros de cultura, como se sabe.
Não é de hoje que me perguntam coisas que ignoro; não é de hoje que não tenho respostas, também.
Houve um tempo em que tentava justificar minha ignorância.
Bobagem. Hoje, dou de ombros. O melhor é fazer cara de paisagem, cara de conteúdo.
Em sendo ela, a ignorância, o único bem fartamente distribuído (que atire pedras o ignorante atrevido!), a tendência é que os outros considerem sua ignorância superior.
O único risco é que o tomem por gênio.