O DAN ERA MENINO
E o velho sábio descascava laranjas sem quebrar a casca. Contava histórias, tirava a pele sem ferir o gomo, retirava as sementes, aguçava o apetite. Fazia aquilo por puro prazer. Com a calma de monge. O pequeno Dan se deliciava. E nós também. Aquilo tinha gosto de pomar.
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DIÁLOGOS PERTINENTES
– Você sabe por que não temos manteiga nem margarina no pão? Você sabe por que não nos servem frutas nem sobremesas? Por que em vez de café tomamos chá?
– Não, não sei.
– Devia saber. Você é metido a sabichão.
– Ora, não seja besta. A clínica não nos serve nada disso para economizar. É evidente.
– Engano seu. Não é nada disso.
– Então, o que é?
– Aqui, eles seguem uma pedagogia da hora. É para que a gente valorize o que tinha em casa e não dava bola. Entendeu?
– Claro que sim. Vai ver que é por isso que ainda não tenho – depois de vinte dias de internação – travesseiro, fronha e coberta. Vai ver que é por isso que a comida que nos servem tem um jeitão de lavagem.
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OS MELHORES AMIGOS
São os de quem gosto, apesar de seus defeitos e vícios. São muitos? São poucos? São velhos? São novos? São reais? São virtuais? Que importa? São os de quem gosto, apesar de seus vícios e defeitos. A maior parte deles só existe na minha imaginação. E isso já me basta.