– Oi. Tudo bem por aí, pai?
– Tudo, filho. E com vocês?
– Tudo em paz. Dudu está lindo.
– Daqui de cima, eu o vejo todos os dias. Está lindo mesmo. Como você conseguiu ligar?
– Não importa. A gente sempre dá um jeito.
– Não me faça passar vergonha. O céu é lugar recatado.
– OK. Estou com saudade. Tem lido?
– Muito. Quer dizer: quando tua mãe me deixa ler… Como fala, a tua mãe! Havia me esquecido desse detalhe.
– Ela está aí?
– Agora, não. Ela foi com Laura e Valésia, suas tias, fazer pudim para Pedro, o santo.
– Como assim?
– É aniversário dele. Vamos fazer uma festinha surpresa.
– Não sabia que santo faz aniversário.
– Faz. Por que não faria? O que mais, filho?
– Está com pressa?
– Estou. A vida é curta, preciso ler, aprender. Mas pode falar.
– Por aí a vida não é eterna?
– Depois te explico.
– Soube que tio Iraci está por aí.
– Está. Duro é encontrá-lo. Continua o mesmo. Bate pernas o dia todo. Só aparece para fazer as refeições. Vai ao purgatório, vai ao inferno. Não esquenta cadeira. Uma hora ainda se perde. Não volta para o céu.
– E tio Antônio?
– Também está por aqui. Ele sempre lhe manda beijo. Gosta de você. Continua o mesmo. Continua chamando Laura de “pamonha”. Com razão. Agora cismou, esse Antônio! Quer fazer piquenique. Mas quem há de trazer o velho jipe para o céu? Quem? Sem jipe não há piquenique…
– É.
– Amanhã, a gente se fala. Pedro está chegando, com cara de poucos amigos. Acho que o pudim desandou. Também pudera. Sua mãe e tias não param de falar.
– Sua benção, pai.
– Deus te abençoe. Não beba muito, largue o cigarro. Beijo.