A questão…
Nada de especial. Por que, então, o quê dá nó nos miolos? Porque é vira-casaca. Muda de time a torto e a direito. Ora é conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não dá problemas. Apresenta-se sempre com a mesma cara. As duas outras provocam enxaqueca. Às vezes pedem chapéu. Outras vezes dispensam o acessório. Você sabe lidar com as estripulias delas?
1º time
A equipe da conjunção se apresenta com a mesma cara – sem acento: Disse que acabará o estágio em dezembro. Saia mais cedo, que o metrô não circula hoje.
2º time
As outras provocam dor de cabeça. Por duas razões. De um lado, a criatura tem o poder da mobilidade. Salta daqui para ali como macaco salta de galho. De outro, varia de classe gramatical. Passa de pronome a substantivo com a facilidade com que andamos pra frente. Elas fazem as artes. Nós pagamos o pato. O preço dessas mudanças é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:
- Quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral. Como todo nome, tem plural:
Modelos na passarela têm um quê de sedutor.
Qual o mistério dos quês?
Este quê não me confunde mais.
Corte os quês da redação.
Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?
- Quando o quê for a última palavra da frase – a última mesmo, coladinha no ponto:
Trabalhar pra quê?
Riu, mas não disse por quê.
Você se atrasou por quê?
Ele se ofendeu com quê?
Quero saber a razão do emprego desse quê.
Moral da opereta
Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: não há por que temer o quê. Ele é mais manso que o gatinho lá de casa.