Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Dad Squarisi - Dicas de Português sexta, 26 de agosto de 2022

QUEM PODE ESCREVER NA INTERNET?
 

Quem pode escrever na internet?

Publicado em português

Não sei por que reclamam que brasileiro não lê, não escreve. As pessoas se esbaldaram de ler e escrever. Afinal, as redes sociais encontraram clientes ideais no Brasil. E elas aceitam tudo. Não há quem não consiga juntar os primos e tios em um grupo para o WhatsApp, ou agregar ex-colegas para formar um conjunto de amigos no Facebook. Quem não consegue está virtualmente morto. Virtualmente, fique claro. Afinal, como já se disse, hoje não se escreve para deixar um legado, para partilhar descobertas, inventos ou simples achados, mas para participar da rede. A unidade básica da sociedade não é mais o indivíduo, mas o grupo, a comunidade virtual, a rede.

O importante não é mais ter ideias, o significativo não é ter vivências, mas compartilhar o que quer que seja: uma paisagem, o namorado novo, a blusinha que se experimentou na loja do shopping, o som incrementado do show em que se conseguiu entrar, viagens para Disney (e suas filas quilométricas de brasileiros dispostos a curtir qualquer atração e dizer que estão no Primeiro Mundo) ou Mendoza (e seus vinhos pesados, para tomar com churrasco quase cru). O importante não é viver, é postar. Outro dia, na Sala São Paulo, duas senhoras embebidas em perfume doce moviam-se, inquietas, enquanto a orquestra atacava, com competência, um concerto de Bach. Enquanto o público aplaudia Alsop e Baldini pelo desempenho feliz, as doces senhoras fotografaram a orquestra, enviaram as fotos pelo celular, felizes por colaborar com a rede, mesmo que em sua ansiedade não tenham apreciado devidamente a música do gênio de Leipzig.

Até pouco tempo atrás, ouvir música era uma vivência, uma experiência na área da sensibilidade que enriquecia, de uma forma ou de outra, a personalidade. Hoje ninguém pensa nisso, mas em fotografar os artistas, gravar seu som e enviá-lo aos membros da rede. Eu mesmo vivi uma experiência desse tipo em uma cidade do interior em que fiz uma palestra: os jovens chegavam com livros de minha autoria e não se preocupavam com autógrafo, queriam mesmo era um selfie que, imediatamente, postavam “provando” terem assistido à palestra. O importante não era viver uma experiência intelectual, mas fazer com que os amigos soubessem que ele tinha ouvido aquela palestra, e a foto existia para documentar o ocorrido.

Enquanto o conhecimento supostamente adquirido em uma palestra poderia passar a fazer parte do patrimônio cultural do estudante, o post que ele colocou não é destinado a durar. Não só ele é entrevisto rapidamente, como logo será superado por outros posts de outros participantes do grupo que falarão sobre algo que experimentaram — uma música, um namorado novo, uma paisagem, uma comida e, em raríssimos casos, um livro.

Assim a rede se transforma em unidade da qual os indivíduos fazem parte. Na verdade o indivíduo passa a ser a rede, pois ela não é um conjunto de unidades, mas a própria unidade. Aquela rede, aquele grupo são indivisíveis, são os próprios indivíduos e eles não passam de componentes da nova unidade. É por isso que as pessoas ficam ansiosas para enviar tudo para a sua rede, pois é fundamental não deixar o indivíduo morrer de inanição.

A facilidade de postar fotos e textos, frases e conceitos, faz que as pessoas cometam, com frequência, um equívoco importante. Sim, todas as pessoas têm o direito de expressar suas ideias. Mas não, não temos a obrigação de respeitar ideias idiotas, mal fundamentadas, raciocínios equivocados ou, simplesmente, notícias falsas. Não se deve confundir o direito democrático de todos se expressarem do jeito que quiserem com o respeito que as pessoas precisam ter com relação à competência e à legitimidade da manifestação expressa.

Sim, você pode dizer o que quiser, redes sociais aceitam tudo, você está no seu direito, mas se você afirma as coisas sem refletir, reproduz notícias falsas, tenta legitimar reflexões imbecis atribuindo-as a nomes famosos, é raso e xucro quando emite as próprias opiniões…não temos nenhuma obrigação de levá-lo a sério. Na verdade, você deveria tomar mais cuidado ao postar suas coisas. No final das contas, embora você se perceba como parte de uma rede fechada e protegida, isso não existe na internet. Sua imbecilidade não ficará mais restrita a âmbito limitado, mas alcançará o mundo. Para o bem e para o mal. Então se poupe. E, principalmente, nos poupe.

JAIME PINSKY

Historiador, professor titular da Unicamp e diretor da Editora Contexto

jaimepinsky@gmail.com


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