QUIBEBE - PRATO PARA A SEMANA SANTA
(Publicada em 30.03.2015)
Raimundo Floriano
Foto de Elba Albuquerque
INTRODUÇÃO
Há quase cinco anos, precisamente no dia 5.4.2010, publiquei aqui no JBF matéria com o título A Fábula do Ovo e do Pré-Sal, onde contava as agruras de Dona Chiquinha Comboieiro, boleira balsense, não dando conta dos 500 cacetes encomendados pela PETROBRAS – só conseguiu 300 –, para um café da manhã em que se comemoraria naquele sertão o jorro do petróleo na torre que, há muito tempo, perfurava o solo na Fazenda Testa Branca, o que não veio a acontecer, acabando aquela estatal por cimentar o poço, relegando-o, definitivamente, ao olvido.
No dia 8 de agosto de 2014, a leitora Sebastiana Rodrigues de Sousa postou um comentário no jornal, assim se expressando: “Gostei dos contos, mas quero a receita do bolo cacete”.
Assim instigado, mostro o cacete, digo, o pau, depois de macerar a cobra, esta representada, evidentemente, pelo teste, aqui em casa, de todas as receitas, para não dar chabu.
Quando não houver menção específica, o resgate delas foi uma gentileza da amiga Maria do Socorro Ferreira Vieira, minha Assessora Cultural e Plenipotenciária balsense.
No tempo de minha infância, Balsas ainda não contava com a existência de padaria. A dona de casa, assim, tinha de usar de muita criatividade, todas as manhãs, para botar na mesa o quebra-jejum da família, as mais das vezes com beiju, cuscuz, frito de carne, farofa de ovo mexido ou os bolos cujas receitas aqui apresento.
Havia famosas boleiras balsenses, como Dona Dolores Lima e Madrinha Ritinha Pereira. Outras, como Dona Febrônia Tourinho, Dona Chiquinha, Dona Úrsula, Dona Biloca Botelho e Dona Maria Bezerra, minha saudosa mãezinha, faziam-nos, não só para o consumo domiciliar, mas também para vender.
E era aí que eu entrava na dança. Toda boca-de-noite, eu saía de casa, carregando na cabeça uma gamela cheia de bolos diversos, oferecendo-os de porta em porta, ou apregoando-os em alta voz.
Não preciso nem dizer a saia-justa que isso me causava, quando batia à porta de casa onde havia meninas colegas minhas do Grupo Escolar, principalmente na de Seu Jonas Bonfim, pai da Maria Núbia, menina de 8 anos, pela qual eu era perdidamente apaixonado. E esse acanhamento ficou maior, depois que passei a estudar em Floriano, pois nas férias, minha mãe me entregava a gamela, sem levar em consideração meu novo status de ginasiano.
Na Semana Santa balsense de minha infância, que ia de quarta a sexta-feira, quando se obedecia a rigorosa abstinência de carne, o prato mais comum nas mesas daquele sertão era o quibebe, cuja receita passo apresentar.
QUIBEBE
Fotos de Elba Albuquerque
(Receita resgatada pela Comadre Maria Júlia, criada por minha mãe e residente em Anápolis)
Ingredientes:
Jerimum picado
Macaxeira picada
Maxixe picado
Batata doce em rodelas
Mandioquinha picada
(Todos em partes iguais)
Folhas de quiabo picadas (um molho)
01 garrafa de leite de coco
Modo de preparo: Após cozinhar os ingredientes, adicionar o leite de coco, sal, alho, cebolinha, coentro, e outros temperos, a gosto.
Tempo de duração: Melhor consumir no mesmo dia.
O ingrediente mais difícil de ser encontrado é a folha de quiabo. No ano passado, meu irmão Rosimar trouxe-as de São Luís de Montes Belos, sertão goiano, onde mora.
No último Natal, pedi a minha sobrinha e afilhada Lara, a qual não mede esforços para me agradar, que, como presente de natalino, plantasse no jardim de sua casa, na 714 Sul, um pé de quiabo, para que o ingrediente ficasse à mão com facilidade. Poderia ter pedido a outras sobrinhas queridas que têm quintal, mas aí morava o perigo, pois os cachorros que guardam casas adoram mijar nos canteiros de hortaliças.
Aí esta o resultado das providências da Lara:
Foto de Lara Maria
É bem verdade que lagartinhas andaram testando o alimento, mas não faz mal, lagarta é Natureza, se não morreram, é porque o produto é de qualidade.
Para os que não gostam de comer as folhas, mas adoram comer o fruto, proponho, quebrando a seriedade o assunto, que repitam, cem vezes, este trava-língua:
Eu como quiabo cru, eu como quiabo cru, eu como quiabo cru, eu como quiabo cru...