Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Raimundo Floriano - Perfis e Crônicas quinta, 08 de setembro de 2022

SÃO LUÍS! 8 DE SETEMBRO! 410º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO!

 

 
SÃO LUÍS, QUATROCENTOS ANOS

(Publicada no dia 08.09.2012)

Raimundo Floriano

 

 

Duas paisagens da Capital Quadrissecular do Maranhão

 

                        Hoje, 8 de setembro de 2012, comemoramos o Quadringentésimo Aniversário de São Luís, Capital do Estado do Maranhão, uma das três capitais brasileiras localizadas em ilhas. As outras são Vitória, no Espírito Santo, e Florianópolis, em Santa Catarina.

 

                        A Ilha de São Luís, lembrada hoje pelo enorme casario de arquitetura portuguesa, abrigava, no início, apenas ocas de madeira e palha e uma paisagem quase intocada. Ali, ficava a aldeia de Upaon-Açu, onde os índios tupinambás – cerca de 4.000, segundo cronistas franceses – subdivididos em 16 aldeamentos, viviam da agricultura de subsistência, com pequenas plantações de mandioca e batata doce, e das ofertas da natureza, caçando, pescando, coletando frutas.

 

                        Até o final do Século XVI, resultaram praticamente inúteis as tentativas portuguesas de estabelecer na ilha um núcleo de civilização. Não o conseguiram Aires da Cunha e Fernando Álvares de Andrade, associados ao historiador João de Barros, Donatário da Capitania do Maranhão. Partindo de Lisboa, em 1535, a Armada, sob o comando do primeiro, atingiu a Costa Maranhense, naufragando, porém, nos Baixios de Boqueirão, junto à Ilha do Medo. Os sobreviventes, em número reduzido, retiraram-se para o Reino em navios piratas que por ali passavam.

 

                        Igual sorte estava reservada, em 1554, a Luís de Melo e Silva, a quem Dom João III, por desistência do Donatário João de Barros, que permanecera em Portugal, doara a Capitania. A pequena frota com que para ela se dirigiu soçobrou, provavelmente nos Baixios da Coroa Grande, regressando Melo e Silva a Portugal numa caravela que escapara da catástrofe.

 

                        Essas duas catástrofes desanimaram os portugueses que acaso se interessavam pela conquista do Maranhão.

 

                        Os insucessos das Armas Lusas na África e a consequente passagem de Portugal para o domínio da Espanha deram ensejo aos franceses de se estabelecerem nas terras maranhenses. Com esse objetivo, foram equipadas três naus que, sob a chefia do Capitão Jacques Rifault, ali chegaram em 1594. O naufrágio do navio principal e a discórdia entre os componentes da tripulação decretaram o fracasso da empreitada.

 

                        Alguns elementos, por sua vez, não retornaram à França, preferindo o contato com os silvícolas, ao lado dos quais guerrearam, granjeando-lhes a simpatia. Entre eles, estava Charles Des Vaux que, voltando depois a seu país, expôs o que vira ao Rei Henrique IV. Interessando-se pelas notícias, o soberano ordenou a Daniel de La Touche, conhecido como Senhor de La Ravardière, que partisse para as novas terras, a fim de comprovar a veracidade das informações. Dessa viagem não decorreram, todavia, consequências de ordem prática, em vista da morte de Henrique IV.

 

                        Esse fato adiou outros empreendimentos, que só puderam ser levados a efeito em 1611, no reinado de Luis XIII. Por essa época, Daniel de La Touche organizou nova expedição com cerca de 500 homens vindos das cidades francesas de Cancale e Saint-Malo, partindo no dia 19 de março de 1612 no intuito de estabelecer no Brasil a França Equinocial – esforço dos franceses de colonização da América do Sul em torno da Linha do Equador. A 6 de agosto, chegou a seu destino.

 

                        Contando com a amizade dos aborígenes, os franceses procuraram organizar a defesa da nova colônia, certos de que os portugueses tentariam expulsá-los, logo que se tornassem conhecedores da situação. Em lugar alto e próximo ao ancoradouro, construíram um forte. Após o término das obras, a edificação recebeu o nome de Forte de São Luís, em memória eterna de Luís XIII, Rei de França e de Navarra. O ancoradouro foi denominado Porto de Santa Maria, não só em homenagem à Santíssima Virgem, como em atenção a Maria de Médicis, Rainha da França e mãe do Regente Luís XIII.

 

Rei Luís XIII e Busto de Daniel de La Touche

 

                        A 8 de setembro de 1612, tem lugar a implantação da Cruz na Ilha, procedendo-se sua bênção, sob a salva dos canhões do Forte e dos navios franceses, em sinal de regozijo. Esse ato, pela magnitude e excepcional solenidade de que se revestiu, é considerado como o verdadeiro Auto de Fundação da Cidade de São Luís.

 

                        A Capital Maranhense tem dois gentílicos: são-luisense e ludovicense, este derivado do Latim, Ludovicus, Ludovico em Português, ou Luís, mais uma homenagem ao Rei Luís XIII.

 

                        Tão logo se propalou a notícia do domínio do Maranhão pelos franceses, procuraram os portugueses eliminar a ameaça. Gaspar de Souza, Governador-Geral do Brasil, enviou, no início de 1614, pequena expedição, comandada por Jerônimo de Albuquerque, que fez o reconhecimento das posições francesas na Ilha de São Luís, sendo erigido, no lugar denominado Jericoaquara, hoje pertencente ao Ceará, pequeno forte de pau a pique, com o nome de Forte Nossa Senhora do Rosário, no qual foram deixados 40 homens.

 

                        Ainda no mesmo ano, Jerônimo, comandando nova expedição, penetrou, com seus navios, na Baía de Guaxenduba, hoje de São José, construindo em local próximo à Ilha de São Luís, o Forte Santa Maria. Em seguida a uma série de hostilidades, travou-se ferrenha peleja entre portugueses e franceses, até que a vitória se declarou a favor dos lusos. Suspensa a luta, foi concertado, a 27 de novembro, tratado de trégua por um ano, com apreciáveis concessões aos portugueses. Nessa época, Jerônimo de Albuquerque acrescentou Maranhão a seu nome.

 

                        Enquanto na França e na Espanha discutia-se a sorte das terras do Maranhão, vários reforços eram remetidos a Jerônimo, tanto de Portugal, quando da Bahia e de Pernambuco. A trégua foi rompida, e as forças portuguesas, comandadas por Alexandre de Moura, sitiaram os inimigos por mar e terra. A 3 de novembro de 1615, dava-se a capitulação, com Daniel de La Touche, entregando o Forte, rebatizado pelos vencedores como Forte São Felipe, em homenagem ao Rei, os quais conservaram o nome de São Luís para a cidade e consagraram à Senhora da Vitória a primeira Igreja Matriz.

 

                        Por seu destaque na luta para a expulsão dos franceses, Jerônimo de Albuquerque Maranhão, que também fundara a cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, do qual fora Capitão-mor, a 15.12.1599, foi nomeado Capitão-mor da Capitania do Maranhão. Foi ele o tronco maranhense da Família Albuquerque do qual sou descendente direto.

                       

                        Nascido na cidade pernambucana de Olinda, em 1548, casado com Catharina Pinheiro Feio e falecido em 1624, Jerônimo era mameluco, filho de Jerônimo de Albuquerque, o primeiro dessa família chegado ao Brasil, e da índia tabajara Maria do Espírito Santo Arcoverde. Seu pai, a quem se atribui ter tido filhos com mais de 100 mulheres, veio acompanhando Duarte Coelho, Donatário da Capitania de Pernambuco e casado com Brites Albuquerque, sua irmã.

 

Jerônimo de Albuquerque Maranhão e Mapa de São Luís em 1629

 

                        Em 1621, quando o Brasil foi dividido em duas Unidades Administrativas – Estado do Maranhão e Estado do Brasil – São Luís foi a capital da primeira, sendo a outra Salvador, na Bahia.

 

                        O período de progresso vivido pela região foi interrompido em 1641, quando 18 navios holandeses, transportando 2.000 homens, comandados pelo Almirante Lichthardt, aportaram em São Luís, na Praia do Desterro, onde desembarcaram os invasores. Depois de renhidas batalhas, os holandeses deixaram São Luís em 1644, derrotados pelas tropas comandadas por Antônio Teixeira de Melo

 

                        A 16 de janeiro de 1653, chegou a São Luís o Padre Antônio Vieira, jesuíta, com a incumbência do Reino de dar execução às ordens de pôr em liberdade os índios escravos, o que gerou motivo para que o povo se amotinasse e pedisse a expulsão da Companhia de Jesus. A crise maranhense é agravada pela concessão do monopólio do comércio de todo o Estado do Maranhão e do Grão-Pará – o chamado estanco –, pelo espaço de 20 anos, a uma companhia de comércio, culminando com a eclosão de uma revolta conhecida pelo nome de seu principal chefe – Bequimão –, liderada pelos irmãos Manoel Beckman, o cabeça, e Tomás. Iniciada em 1684, foi dominada no ano seguinte, sendo Manoel Beckman enforcado em praça pública, declarando, no ato: – Pelo povo do Maranhão, morro contente!

 

                        A partir de então, a Capital Maranhense retomou a normalidade, não mais envolvida com invasores estrangeiros. Internamente, porém, São Luís conheceu diversos momentos de ebulição, como o que resultou na adesão à Independência do Brasil, realizada a 28 de julho de 1823, no Paço da Câmara Municipal, o que foi conseguido, sem qualquer perturbação da ordem pública, por Lord Cochrane – Thomas Alexandre Cochrane, almirante inglês, depois nomeado Marquês do Maranhão, que viera, a pedido do Império Brasileiro, ajudar na consolidação do movimento nativista de desligamento da Coroa Portuguesa.

 

                        Como se viu, a história de São Luís é recheada de invasões, resistências e entreveros. O próprio Hino Maranhense, nas três estrofes mais conhecidas e cantadas, com letra de Antônio Batista Barbosa de Godóis e música de Antônio dos Reis Raiol, dá uma noção da característica guerreira de seu heroico povo:

 

Entre o rumor das selvas seculares

Ouviste um dia no azul do céu vibrando

O troar das bombardas nos combates

E após um hino festival soando

 

Salve Pátria, Pátria amada

Maranhão, Maranhão, berço de heróis

Por divisa tens a glória

Por nume nossos avós

 

Reprimiste o flamengo aventureiro

E o forçaste a no mar buscar guarida

Dois séculos depois, disseste ao luso

A liberdade é o sol que nos dá vida

 

                        A miscigenação do aborígene, do português, do francês – também conhecido como flamengo – e do holandês resultou num fenômeno bem peculiar, o sotaque do ilhéu, fazendo com que São Luís seja considerada a cidade brasileira onde se fala melhor a Língua Portuguesa, independentemente do grau de instrução. São Luís também foi considerada a Atenas Brasileira, pelo número de intelectuais e artistas que ali habitavam. Detém, ainda, outros títulos: Ilha do Amor, Cidade dos Azulejos e, pela assimilação da música caribenha, devido até a sua localização geográfica, Jamaica Brasileira ou Capital Brasileira do Reggae.

 

                        Para divulgar a festa do Quarto Centenário de São Luís, a ECT lançou este selo comemorativo, que será peça valiosa nos álbuns de filatelistas do mundo inteiro:

  

                        Como toda cidade praieira, a orla marítima que circunda São Luís é plena de lendas mistérios, assombrações, religiosidade, música e muita alegria. A foto a seguir dá uma ideia de sua feição jovial e prazerosa:

 

Largo do Carmo ou Praça João Lisboa

 

                        A esfuziante atividade musical de São Luís está representada por três de seus mais característicos gêneros: o bumba meu boi, o samba e o reggae.

 

A Cara de São Luís: Bumba meu boi, Alcione e Djalma Chaves

 

                        Eis uma pequena amostra desse cenário artístico:

 

                        Ilha do Amor, bumba meu boi, de Maria Aparecida Lobato, com o canário Lobato do Boi Feliz.

 

                        Solo de Pistom, samba, de Totonho e Paulinho Resende, na voz da ludovicense Alcione.

 

                        Ilha, reggae, na interpretação do autor, Djalma Chaves, membro ilustre de nosso clã, eis que casado com uma de minhas sobrinhas.

 

 


Escreva seu comentário

Busca


Leitores on-line

Carregando

Arquivos


Colunistas e assuntos


Parceiros