Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Caindo na Gandaia terça, 02 de maio de 2017

SARAMAGO NAVEGOU NA MAIONESE

 

 

SARAMAGO NAVEGOU NA MAIONESE

Raimundo Floriano

 

 La fuga di Lot da Sodoma (Gustave Doré - 1832 – 1883)

 

                        Matéria publicada no Jornal da Besta Fubana no dia 21.6.2010.

 

(Esta crônica, que se encontrava na fila para publicação, foi escrita a 10.5.2010, mais ou menos na época em que um deputado cearense declarou que o Presidente da República navegara na maionese. Mais de mês antes, portanto, do falecimento do grande escritor português José Saramago, ocorrido a 18.6.2010)

 

                        Pra início de conversa, declaro-lhes, com muito fervor, que professo a Religião Católica Apostólica Romana e sigo fielmente sua doutrina. Ao tomar as primeiras lições de Catecismo, na igreja de São Sebastião, em Balsas (MA), me foram ministrados estes dois basilares Mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas; não tomar Seu Santo Nome em vão!

 

                        Navegar está na moda! Navegar é preciso! – já dizia o poeta. Navegar na maionese, porém, nem pensar!

  

                        A ilustração acima apresenta-nos um casal homogâmico masculino. A palavra homogamia ainda não foi catalogada, pelo inusitado da nova realidade, como o enlace matrimonial entre duas pessoas do mesmo sexo, nem nos Tratados de Direito, nem nos mais modernos dicionários. Mas não demora muito. Em Portugal, a 17.5.10, o Presidente Cavaco Silva sancionou essa união.

 

                        O termo casal homogâmico, em minha pobre opinião, é muito mais deferente do que o corriqueiro casal gay. E, se ele ainda não existe, acabei de inventá-lo! Crédito para mim, pois!

 

                        Diante dessa nova situação jurídica, muitas perguntas se fazem recorrentes na boca do povo. Quem dos dois engravidará? Quem dos dois parirá? Qual a contribuição desse casal para continuidade da espécie humana? E a resposta será sempre a negativa. Porque, biologicamente, nada disso é possível. Quer dizer, ainda não, pois os cientistas estão aí aferrados nas pesquisas para resolver esse pequeno problema.

 

                        O escritor Luiz Berto, o Papa Berto I, é um criador de personagens fantásticas. Em o Romance da Besta Fubana, a Besta, que dá nome ao livro, é uma entidade mítica, bissexual, extraída da Literatura de Cordel, que vem do espaço sideral até o sertão pernambucano, para tomar parte ativa na República Rebelada de Palmares. O ponto alto de sua atuação, a meu ver, é o momento da punição dos infratores, em solenidades públicas que ganharam a denominação de enrabamento! Nas quais nenhum filho foi gerado, evidentemente!

 

                        Esse livro ficou tão famoso e ganhou tantos prêmios, que ofuscou os demais trabalhos literários de Luiz Berto. Por isso, Memorial do Mundo Novo, de igual valor, lançado em 2001, excelente reconstituição da História de Pernambuco, passou batido em todos os órgãos da mídia e até mesmo no Jornal da Besta Fubana, blog onde este que lhes escreve e um monte de desocupados publicam as besteiras que inventam.

 

                        No Memorial, Luiz Berto apresenta-nos o navegante bombardeiro Diogo de Paiva, componente da flotilha espanhola do Capitão Vicente Iañez Pinzon, chegada à Costa Brasileira em fevereiro de 1500, antes, portanto, do português Pedro Álvares de Cabral.

 

                        Diogo de Paiva é detentor da imortalidade, e sua pessoa atravessa os tempos, tem parte ativa e preponderante em todos os acontecimentos históricos, desde sua chegada a Pernambuco até o limiar do ano 2000, quando é abatido por um tiro mortal.

 

                        No Capítulo II do livro, Diogo de Paiva abandona a flotilha e, com matolão às costas, a cara e a coragem, segue em direção à mata, até encontrar-se com duas belas e jovens indígenas, que lhe simulam um sorriso. Transcrevo, por achar magnífica, a descrição que o autor faz daquele primeiro contato do europeu com as nativas brasileiras:

 

                        “Entre o balançar das ondas do mar às suas costas, e o balançar das palhas dos coqueiros à sua frente, os passos do bombardeiro são seguros, e como que dizem da naturalidade deste encontro que se irá estabelecer.

 

                        Está criado Pernambuco, e nele instalado o iniciador de sua população cristã.”

 

                        Perceberam? Para criar uma população, aqui ou alhures, era imprescindível, nos tempos de antanho, a participação de sexos opostos.

 

                        Os holandeses, quando invadiram Pernambuco, e os franceses, quando se apossaram de São Luís, no Maranhão, trouxeram, em suas caravelas, além de soldados e equipamentos, milhares representantes do sexo feminino, sem as quais seria impossível a continuidade de suas etnias por aqui.

 

                        Vejamos agora o caso Caim, o navegante maionésico.

 

                        É aquele Caim mesmo, o do Livro de Gênesis, filho de Adão e Eva, que matou seu irmão Abel e, como penitência, foi condenado pelo Senhor a vagar de modo errante pelo mundo, após tão monstruoso crime.

 

                        O Livro de Gênesis também relata a destruição das duas Cidades Sodoma e Gomorra. A palavra Sodoma deu como derivado o substantivo sodomia, que é a conjunção sexual anal entre homossexuais masculinos, ou entre homem e mulher.

 

                        Pois bem, os varões de Sodoma e Gomorra vinham, há muito tempo, praticando apenas esse ato sexual, desconhecendo o heterossexualismo, fazendo com que o Senhor, para castigá-los, mandasse que dois anjos descessem à Terra com o objetivo de destruir as duas cidades.  Sabendo disso, Abraão resolve interceder por Sodoma, dirigindo-se ao Senhor:

 

                        – Destruirás também o justo com o ímpio? Se, porventura, houver 50 justos na cidade, destruí-los-ás também e não pouparás o lugar por causa dos 50 justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti seja. Não faria justiça o Juiz de toda a Terra?

 

                        Respondeu-lhe o Senhor:

 

                        – Se eu em Sodoma achar 50 justos dentro da cidade, pouparei todo o lugar por amor deles.

 

                        Abraão insiste:

 

                        – Se porventura faltarem de 50 justos 5, destruirás por aqueles 5?

 

                        – Não a destruirei se eu ali achar 45 justos – respondeu-lhe o Senhor.

 

                        Abraão abaixou o número de justos para 30, depois para 20 e, finalmente para 10, obtendo do Senhor a resposta:

 

                        – Não a destruirei por amor dos 10!

 

                        Mas em Sodoma havia menos de 10 justos, apenas quatro, que foram salvos pelos anjos: Lot, sua mulher e suas duas filhas, cujos maridos não os quiseram seguir, por julgar que o sogro gracejava quando lhes comunicou que os anjos o aconselharam a deixar a cidade.

 

                        E a destruição do Senhor foi implacável!

 

                        Baseado na Bíblia e, talvez inspirado – quem sabe? – no Memorial do Mundo Novo, José Saramago, festejado romancista português, escreveu Caim, em 2009, livro no qual o personagem-título, com a mesma imortalidade de Diogo de Paiva, viaja pelo tempo, participando de várias passagens do Velho Testamento, com um único objetivo: atacar Deus!

 

                        Intrometendo-se em acontecimentos nos quais foram protagonistas Moisés, Jó, Noé e outros, Caim se concentra na destruição de Sodoma e Gomorra para questionar Deus, com impropérios vários, chamando-o de covarde, para dizer o mínimo, e outros esculachos e aleivosias, sempre apoiado no bordão que pontua a maior parte do livro:

 

                        – Por que o Senhor não poupou as inocentes crianças que habitavam a cidade? Seriam elas também pecadoras? Pagaram elas, justas, pelos ímpios?

 

                        E aqui eu respondo ao personagem Caim e ao escritor Saramago:

 

                        – Não havia crianças por lá! Lembram-se da sodomia? Pois é! Há muito tempo, nas duas cidades, praticando os homens o ato sexual com pessoas do mesmo sexo, ou por via anal com o sexo oposto, jamais seriam seus habitantes capazes de gerar ser humano algum para a perpetuação da espécie!

 

                        São bem conhecidos casos de malfeitores, corruptos e atrizes pornôs que, ao atingirem a idade provecta, acercaram-se de Deus para redimir-se. Saramago fez o contrário: na senectude, procurou Deus para depreciá-lo.

 

                        Assim, perdeu ótima oportunidade de manter-se calado!

 

                        E, igualmente a seu personagem Caim, Saramago navegou na maionese!

 


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