Almanaque Raimundo Floriano
(Cultural, sem fins comerciais, lucrativos ou financeiros)


Raimundo Floriano de Albuquerque e Silva, Editor deste Almanaque, também conhecido como Velho Fulô, Palhaço Seu Mundinho e Mundico Trazendowski, nascido em Balsas , Maranhão, a 3 de julho de 1936, Católico Apostólico Romano, Contador, Oficial da Reserva do Exército Brasileiro, Funcionário Público aposentado da Câmara dos Deputados, Titular da Cadeira nº 10 da Academia Passa Disco da Música Nordestina, cuja patrona é a cantora Elba Ramalho, Mestre e Fundador da Banda da Capital Federal, Pesquisador da MPB, especializado em Velha Guarda, Música Militar, Carnaval e Forró, Cardeal Fundador da Igreja Sertaneja, Pioneiro de Brasília, Xerife nos Mares do Caribe, Cordelista e Glosador, Amigo do Rio das Balsas, Inventor da Descida de Boia, em julho de 1952, Amigo da Fanfarra do 1° RCG, autor dos livros O Acordo PDS/PTB, coletânea de charges, Sinais de Revisão e Regras de Pontuação, normativo, Do Jumento ao Parlamento, com episódios da vida real, De Balsas para o Mundo, centrado na navegação fluvial Balsas/Oceano Atlântico, Pétalas do Rosa, saga da Família Albuquerque e Silva, Memorial Balsense, dedicado à história de sua terra natal, e Caindo na Gandaia, humorístico apimentado, é casado, tem quatro filhos, uma nora, um genro e dois netos e reside em Brasília, Distrito Federal, desde dezembro de 1960.

Leonardo Dantas - Esquina quarta, 04 de outubro de 2017

SAUDADES QUE VÊM DE CAPIBA

Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (Surubim, Out/1904 – Recife, Dez/1997)

 

No próximo 28 de outubro de 2017 comemora-se a data de aniversário de Lourenço da Fonseca Barbosa, o nosso sempre pranteado Capiba….

Quando vivo, o seu aniversário era por ele comemorado com um grande jantar em um dos restaurantes da cidade.

Teria ele 113 anos…

Lourenço da Fonseca Barbosa, o nosso CAPIBA, vivera por 93 anos, nos deixando no último dia de 1997.

Mais um ano sem Capiba.

Em tudo, porém, a sua imagem encontra-se presente entre nós…

A cidade se apresenta vestida de luzes e com as mesmas cores de mais uma primavera, povoada por gente que passa apressada, na labuta da vida diária…

Os rostos pintados dos dias de carnaval, ressurgem com os seus semblantes tristonhos, desfilando apressados diante de mim, fazendo anunciar a volta do azul da primavera no Recife.

Ao meu lado, no entanto, está faltando alguém… Está faltando ele, que por mais de trinta carnavais foi meu companheiro neste mesmo reino azul da fantasia. Carnavais em que juntos cantávamos, acompanhando a multidão, os seus sucessos: Cala boca, menino (1966), Oh! Bela (1970), Catirina meu amor (1971), De chapéu de sol aberto (1972), Frevo e ciranda (1973), Juventude dourada (1975), O amigo do rei (1977), Frevo da solidão(1978), Trombone de prata (1979), E eu drumo (1980), A turma da boca livre (1982), Recife, que beleza (1985) e uma infinidade de outros a embalar a nossa alegria.

 

 

Foram tantos os carnavais, foram tantas as histórias que se perderam no tempo, que tudo hoje se transforma num amontoado de saudades. Recordações daqueles tempos felizes e tranquilos, quando só voltávamos para casa com o sol ofuscante a sorrir dos nossos semblantes de foliões assumidos.
 
Tempos dos Bailes da Saudade, iniciados por mim em 1972, juntamente com Aldo Paes Barreto, e por dezoito vezes repetidos; das gravações na Rozenblit; da primeira Frevioca, por nós inaugurada no Carnaval de 1980; das noitadas no Clube Português; das festas que marcaram os seus 80 anos (1984), com ele desfilando em carro aberto, acompanhado por uma guarda de cavalaria; das eliminatórias do Frevança; dos almoços de todas as semanas e, mais recentemente, dos ensaios do Bloco da Saudade.

Tempos por ele mesmo descritos, pintados que foram com cores fortes e alegres, quando compôs, em 1970,  É hora de frevo (RCA BBL 1489):

Quem quiser me ver
Me procure aqui mesmo
Quando chega o carnaval
Seja noite ou dia
Aqui tudo é alegria
E alegria não faz mal
É aqui que eu danço
Aqui é que eu canto
Aqui é que eu faço
Com desembaraço
Misérias no passo!
Na quarta-feira
Quando tudo terminar
Eu espero mais um ano,
Até o frevo voltar.

Assim era ele ao irradiar a sua alegria infantil que a todos contagiava. Ao seu lado a vida parecia nunca ter fim e sua presença seria uma constante até o final de nossa caminhada.

Ao contrário da regra geral, de que nos fala o poeta Carlos Pena Filho, o Recife não foi para ele a cidade ingrata. Muito pelo contrário, era ele festejado em qualquer parte onde estivesse, por velhos e moços e, sobretudo, pelas crianças que por ele tinha um carinho todo especial. Crianças de hoje, adultos e velhos do amanhã, que por muitas décadas estarão a cantar em seus  carnavais os mesmos frevos feitos por ele para embalar a alegria de sua gente, confirmando, assim,   a eternidade que ele parecia transmitir.

Nos últimos dias de 1997, Capiba, o meu companheiro de mais de trinta carnavais, começou a ensaiar o seu adeus. E eu que acreditava na sua eternidade senti, no último encontro, o sabor da despedida.

 

Túmulo de Capiba

De mansinho ele se foi do meu convívio e hoje, quando começa mais um Carnaval sem a sua presença, é que eu sinto a falta que ele me faz.
 
Hoje, com a cidade tomada por risos dourados e bocas pintadas a cantar as suas melodias, enchendo de sons os mais tristes recantos, vejo-me vagando pelas ruas, como um órfão perdido no meio dessa multidão, procurando enganar os meus próprios sentimentos.
 
Na minha solidão, a sua presença… Para o meu consolo, a sua saudade… E assim sozinho, com o rosto tomado pelas lágrimas, lá me vou sem destino, cantando baixinho os versos que ele me ensinou:

Vivo nas ruas cantando
Um canto que me convém
Para fugir da tristeza
E da saudade também
Se estou certo ou errado
Alguém me há de dizer
Fujo talvez da saudade
Saudade que vem de você…


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