MEU SONHO DE CONSUMO
Uma casinha de taipa
Um sítio meio afastado
Num lugar do meu agrado
Pode até ser em Atibaia
Minha turma da gandaia
Quero uma adega cheia
Dinheiro dentro da meia
Carne assada de primeira
Rede armada na biqueira
Fim de semana, casa cheia
A conta a Odebrecht paga.
FAZER POESIA
Fazer poesia é tão fácil:
É como domar um leão,
É pegar o Sol com a mão
Catar com luvas de box
Pulga no próprio cangote
Tirar leite de uma cobra,
Depilar axilas da sogra
Enfiar vento em cordão…
É dizer: votei consciente
E sair dali todo contente
Logo depois da votação
LEMBRANÇAS
Passeei com meu bem
Pelo cantinho da sorte,
Já cruzei de Sul a Norte,
De Leste a Oeste também
E o destino ingrato vem
Nos deixa dores, sequela,
E hoje da minha bela
Tenho lembrança, mais nada.
Nem a poeira da estrada
Apagou o nome dela.
MEU POEMA
O poema que não fiz
Continua dentro de mim
Vivo, ativo, enfim…
E de tudo que escrevi
De repente percebi
Que estou longe do fim
Isso não é um problema
Não quero sair de cena
Pois inda existe você
E você é o meu poema
PREVENÇÃO
Arquitetei vários planos
Para que meu coração
Tivesse uma proteção
Contra tantos desenganos:
Dei minha mão aos ciganos,
Mandei um padre benzer,
Um médico pediu pra ver
Se eu estava com maleita.
Por favor, mande a receita
Pra que eu possa lhe esquecer.
CORAÇÃO AVARIADO
Trago cerzido
Dentro do peito
Coração com defeito
É só o que tenho
Para te dar.
Manda arrumar
Quem sabe ainda
Coração tenha jeito.
Se por ventura o coração
Avariado, ferido, imperfeito…
Não conseguir amar direito
Evite, pois, o desperdício
Coloque coração no lixo
Quem sabe uma catadora
Leve pra casa e aproveite.
VERSOS LIVRES
Já vi, Deus, isto é incrível
Só que em outros patamares
Alguns versos irregulares
Dizendo ser versos livres
Como se uma amarra prive
Os versos livres não fossem
E que o doce da poesia
Se transformasse em amargor
Causando ao seu fazedor
Uma ingente agonia.
Por isso rimo meus versos.